O que lhes restavam do dia, fora um tanto quanto confuso. Passaram horas interrogando o velho fenari, queriam saber o que acontecera com o navio voador e sua tripulação. Como foram parar ali e porque, logo num momento tão caótico, Seal havia não apenas comunicado como também estava dormindo.
As perguntas foram respondidas uma a uma, aos poucos. Seal não fazia ideia do que os havia atacado, pois estava em sua profunda soneca que costumava durar dias e, mesmo durante o ataque ou a aterrissagem forçada, isso não o havia acordado. Então, a parte de quem os atacou e os forçaram parar ali, de todos os lugares, continuava uma incógnita.
Seal não sabia o que havia acontecido aos outros Fur Hire exceto por um, os outros, pelo visto, haviam se espalhados pelo mundo, mas o velho fenari não sabia dizer o motivo porque, de novo, estava ocupado dormindo. Então, o paradeiro do resto dos membros continuava desconhecido. O velho, na verdade, não tinha respostas algumas para dar, nada que pudesse ajuda-los em sua jornada. Apenas uma, uma única pista lhe restava para ajuda-los.
A falta de comunicação fora explicada como um desaparecimento da concha dourada, se fora roubada ou perdida, o velho jamais saberia dizer. Pelo visto, o sono dele era mais pesado que o próprio planeta. Explicou também que o sangue em suas roupas e em seu quarto, na verdade, não eram dele. Seal estava completamente ileso de qualquer ferimento ou ataque, algo que fora analisado por Wiz, a curandeira do grupo, mas também não sabia dizer a quem pertencia todo aquele sangue. Uma rápida busca mágica de Wiz foi o bastante para mostrar que nenhum daquele sangue todo era de um de seus companheiros. E, a roupa do velho, em estado tão deplorável, fora explicado pelo mesmo como “algo que ele achou por aí” e apenas vestiu para voltar a dormir, depois de uma pequena pausa na soneca para ir ao banheiro.
Nessa pausa, Seal havia andado pelo navio praticamente em pedaços e pareceu não se preocupar, ou sequer notar que havia algo diferente. Como o fato de as paredes agora serem o chão ou toda aquela destruição causada sabe-se lá porquê. Tropeçou ocasionalmente num destroço aqui e ali, mas nada que o alarmasse. Ainda durante aquela pequena pausa, disse que parou para vestir um pijama, aparentemente, dele mesmo, mas estava completamente esburacado. Não sabia dizer como aquilo havia acontecido, se limitando apenas a vestir e voltar a dormir.
Porém, o velho tinha uma única informação útil: Helmer deveria estar por perto. Quando Seal deu sua breve pausa, deu de cara com o jovem fenari que lhe explicou que iria sair em busca de não só de informações como também de peças e materiais para consertar Fandora. Seal também havia assegurado que sabia exatamente quantos dias estava dormindo, como uma habilidade especial do mesmo. Haviam-se passado apenas três dias desde a última vez que vira Helmer. Mas muito mais que isso desde que a nave caiu.
Orgulhava-se de ter uma memória perfeita ao ponto de conseguir contar exatamente quantas vezes havia roncado desde que começara a dormir, mesmo num estado de aparente inconsciência. E, pelo visto, a queda de Fandora, havia acontecido há não muito tempo atrás. Então havia a possibilidade de, não só encontrarem Helmer como também encontrar os outros membros do grupo que poderiam estar vagando aos arredores na mesma busca de Helmer.
Lá fora, já era noite de novo e as inúmeras estrelas começaram a aparecer uma a uma. Primeiro devagar, tímidas. Depois, brotavam tantas estrelas no céu noturno quanto havia grãos de areia numa praia. E a lua cheia que ameaçou a aparecer por trás das nuvens escuras, não chegou de fato a aparecer em todo o seu esplendor. Muitas nuvens de chuva começaram a se formar pouco depois. Aquele clima não era nada favorável para uma expedição atrás de Helmer, afinal, as magias de fogo de Wiz não teriam metade do efeito desejado e a escuridão da noite dificultaria um pouco as coisas. Sem contar que a chuva poderia não ser o único perigo por ali.
Os protestos do grupo de jovens fenari não passaram despercebidos, mas, no fim, todos aceitaram que seria melhor esperar pela manhã, pelo bem de todos. E assim que fizeram mais uma refeição, desta vez, mais modesta, com o pouco de suprimento que havia restado no navio voador, guardando o que haviam trazido para uma outra ocasião. Dessa vez, não precisavam acampar e não tiveram a ajuda de nenhuma bruxa convenientemente disponível, mas não era problema, afinal, Fandora havia uma quantidade bastante generosa de quartos (Embora não estivessem em suas melhores condições).
Todos se dividiram nos quartos. Auram e Beat estavam acostumados a dividirem um quarto, então foi natural para eles que procurassem um quarto para dividir e cada um escolhesse sua cama. O quarto em questão estava completamente arrasado, com os móveis todos juntos, acumulados num canto, onde agora era o chão. Precisaram mover as camas e tirar um pouco da poeira do colchão. Acharam lençóis limpos num guarda-roupa que estava partido ao meio, limpos, porém empoeirados. E não demoraram para irem se deitar. Os gêmeos, também como era de costume para eles, dividiram um quarto, mas não sem antes fazerem um pouco de drama, pois queriam dormir no quarto do capitão, Rafale, o que lhes foi negado por Wiz. Lhes restando os quartos comuns onde dividiram a mesma cama e dormiram abraçados.
Wiz fora a última a ir se deitar, passou mais algumas horas no quarto de Seal, ajudando-o com um pouco de magia a arrumar um pouco da bagunça e terminando de fazer algumas perguntas longe do grupo. Apesar de todo aquele tempo dormindo, o velho fenari ainda parecia sonolento e bocejava no começo e fim de toda frase, o que testava a paciência de Wiz como nenhum dos gêmeos havia feito até então. Ela nunca fora muito boa em lidar com o velho, mas tempos de desespero exigem medidas desesperadas.
— Acha que foram eles que atacaram o navio? — Começou Wiz, tendo o cuidado de falar baixo, sempre pronta, sempre desconfiada. Algum dos mais novos poderia estar escutando pelo lado de fora. — Como foi a missão?
— Invadir a tribo dos Olhos Azuis foi fácil. — Seal mexeu nos bigodes, olhando para cima com uma expressão pensativa, lembrando de todo o ocorrido de uma só vez em sua excepcional mente. — Como já era esperado, eram um bando de humanos que nos odiavam, então entrar disfarçado era impossível. O difícil foi sair dela.
Seal fez uma pausa mais longa que o necessário para continuar de falar, pois fora interrompido por um bocejo, mais longo que o necessário. Coçou a parte de trás da cabeça e então mexeu nos seus longos bigodes para, enfim, prosseguir.
— Felizmente, conseguimos ter uma boa visão do alto, a bordo de Fandora. Sagitta, minha linda, foi particularmente importante para isso, com aquela visão assustadora. Ai como eu invejo a juventude e seus olhos... — Ao perceber que o velho havia desviado do assunto, Wiz pigarreou o mais sutilmente que conseguia, o que não parecia ser muito, considerando o quanto o velho a irritava. Mas foi o bastante para que voltasse ao foco. — Ah sim, sim. Bom, depois de avaliar por cima, pudemos avaliar que era uma pequena vila sem muitas defesas. Mas, Rafale, aquele maldito dragão cauteloso, sumiu por meia hora com a minha Sagitta, voando ao redor da vila, olhando mais de perto, mas discretamente e, quando voltaram, pude, enfim, bolar a nossa estratégia de infiltração.
Seal contou os detalhes do plano elaborado e como a missão prosseguiu. Iam atacar assim que o sol se pusesse. Como era de costume entre o time principal, Sagitta ficara para trás, bem distante, no topo de uma montanha, sempre pronta com seu rifle altamente perigoso. Dyna e Bravo também ficaram para trás, Bravo era barulhento demais e Dyna não só era mais barulhento como era grande demais para se manter em discrição, mas preparados para qualquer sinal de perigo. Seal ficou a bordo de Fandora, o tempo inteiro observando pelo que podia ser considerado a maior luneta do mundo e guiando os dois membros restantes, através de uma concha preta, de quais movimentos deveriam fazer e para onde ir, como numa partida de xadrez.
Rafale e Folgo eram os dois membros restantes. Rafale tinha a vantagem de poder voar e era extremamente hábil com uma espada em suas mãos. Folgo não podia voar, mas era rápido e extremamente habilidoso com sua katana. Os dois fenari estavam sempre em constante disputa, mas era difícil avaliar qual dos dois era melhor em combate, podia-se dizer que ambos estavam em pé de igualdade.
Os dois se dividiram e entraram por direções opostas, para atrair o mínimo de atenção possível. Embora grande parte da força dos Fur Hire estivessem em seus números, para aqueles dois, isso não fazia diferença alguma. Podiam dar conta de quaisquer alvos, não importasse o quão grande ou fortes ou rápidos fossem, eles dariam conta. Rafale sobrevoou por cima das pequenas casas do vilarejo, se escondendo no telhado ou atrás de alguma parede sempre que Seal o informava de algo suspeito ou alguém se aproximando, indo para casa, através de sua concha preta presa em seu ouvido. Se movia como um verdadeiro espião, como aqueles espiões dos filmes SPYRAL.
Já Folgo, se movia como um verdadeiro ninja, se movia tão rápido que mais parecia uma sombra azul, quase não precisava dos avisos de Seal pois seus ouvidos lupinos eram extremamente poderosos, assim como seu olfato surreal. Quando um humano de pele pálida e cabelos brancos, subitamente saiu da porta dos fundos de uma das casas, no exato momento em que Rafale passava por ali, o dragão não precisou fazer um movimento sequer e pôde continuar no caminho em que estava sem problema algum, afinal, há centenas de metros de distância, Sagitta havia disparado um dardo bem no pescoço do humano, sem fazer barulho algum no momento do disparo, graças ao seu super silenciador. Porém, o corpo inconsciente ao cair no chão faria barulho, mínimo, porém não podiam arriscar a missão por um erro tão bobo. Por isso, mesmo que Rafale não tivesse desviado de seu caminho, sua cauda agiu velozmente, enrolando o humano desacordado e o deitando no chão suavemente. Seal deu o sinal para prosseguir e assim o fez.
Continuaram sem mais encontros surpresas e sabiam que tinham pouco tempo para agir. Claro que não iriam numa missão tão importante despreparados, haviam estudado os hábitos daquela tribo por algumas semanas, tinham até mesmo um mapa da vila. Mas isso não queria dizer que ainda não deviam fazer uma ação de reconhecimento antes de finalmente agiram, por isso foi necessário todo aquele preparo a bordo de Fandora e depois dos dois voadores aos arredores. Sabiam que toda a tribo se reunia naquele exato dia para um ritual que começaria em poucos minutos. Mas, antes que o ritual pudesse começar, todos precisavam ir até suas casas e por lá ficarem por um tempo, fazendo alguns preparos. O que eram aqueles preparos não conseguiram descobrir o que era. De qualquer forma, não podiam desperdiçar uma oportunidade dessas e avançaram.
Ambos se encontraram ao mesmo tempo bem no centro da vila, no que parecia ser uma praça com uma construção cúbica de mármore no meio, nada modesta se comparada ao resto da vila, que tinham casas pequenas e brancas de telhados feitos com umas pedras de um tom de azul bem claro. Checaram seus arredores uma ultima vez e então adentraram aquela construção, apenas para perceberem que se tratava de um mausoléu bem iluminado com uma forte luz branca, vinda de algum lugar a frente, com caixões azuis e urnas fúnebres, também azuis, divididas na esquerda e na direita, em perfeita simetria. Mas não vieram saquear cadáveres. O que vieram buscar se encontrava mais a frente. Num alto pedestal com uma estátua de um dragão branco que os encarava com olhos tão azuis que parecia viva.
O que, de fato os interessava, era o que havia debaixo da estátua, bem aos pés do pedestal: Uma grande pedra branca, a fonte de toda aquela luz que mantinha o mausoléu iluminado. Tinha um formato oval perfeito, sem falhas em sua estrutura, perfeitamente lisa e tinha o tamanho de um bebê de colo. A dupla de Fur Hire se entreolhou e acenaram com a cabeça um para o outro. Folgo ficou próximo da porta, segurando o cabo de sua katana e com seus olhos lupinos sempre atentos enquanto Rafale retirava a pedra de seu lugar, enrolou-a num pano escuro, que nem de perto conseguia impedir que a luz emanasse da mesma. Por fim, enrolou a pedra em sua cauda, para manter as mãos livres, pronto para uma luta caso a fuga desse errado.
Um grito no ouvido de Folgo quase o deixou surdo, por ter uma audição tão sensível, era Seal berrando na concha negra presa em sua orelha os avisando que os habitantes da vila começaram a sair de suas casas, um a um, devagar, porém, em breve, as ruas de terra estariam lotadas de humanos e todos sabiam que se dirigiam diretamente para aquele mausoléu. As pessoas usavam roupas brancas, com túnicas que variavam de azul e dourado, mas uma coisa era comum para todos: Todos tinham cabelos brancos e olhos tão azuis quanto os mares.
Folgo, o de cabeça quente, já se preparara para desembainhar sua katana e abrir caminho através dos corpos dos homens, mas fora interrompido pela mão forte de Rafale, que reteve sua katana ainda na bainha. Se encararam por alguns instantes, até que ouviram as instruções de Seal em suas conchas. Sagitta iria atirar algumas balas especiais em alguns pontos da cidade, balas estas que explodiam ao contato para criar uma distração. Enquanto Dyna iria avançar com tudo em direção ao vilarejo, correndo com passos tão pesados que a terra tremia.
A distração fora um sucesso. As contínuas explosões causadas por Sagitta fizeram com que todos os humanos se apavorassem e olhassem ao redor, preocupados. Quando a terra começou a tremer com a corrida imponente de Dyna, não sabiam o que fazer, mas sabiam de uma coisa, aquela direção, de onde vinha um rugido feroz de uma besta incontrolável, deveria ser evitada a todo custo e passaram a correr na direção oposta.
Dyna de repente surgiu de dentro de uma casa, mas não abrindo uma porta educadamente, não, longe disso. Dyna surgiu de uma parede criando um buraco tão grande que não demorou muito para a casa logo vir a cair. Estava sorrindo, empolgado com a ação que tivera embora um pouco ofegante pela corrida. Com o polegar, apontou para, onde antes havia um buraco na casa, agora não havia nada além de destroços que soltavam uma nuvem enorme de poeira, indicando que era a rota de fuga dos outros dois. E assim, dois deles correram naquela direção, com Rafale preferindo voar enquanto mantinha um olhar atento.
Na fuga, uma garota de longos cabelos brancos, que desciam até seus tornozelos, um vestido verde com detalhes em azul e braceletes de prata nos pulsos parou no caminho deles, seu olhar não mostrava raiva, ou qualquer intenção violenta para com os invasores. O que fez com que Dyna parasse de correr e Rafale parasse no ar, surpreso. Nem mesmo Seal conseguia dizer o que estava acontecendo e esta foi uma das poucas vezes que o velho não sabia o que dizer.
Sagitta já estava pronta para disparar na direção da garota, mas não fora preciso, Folgo avançou, com a katana em mãos, apesar dos protestos de Rafale — seu líder — e, num piscar de olhos, havia feito um movimento de baixo para cima com sua katana, num ângulo diagonal, cortando a pobre garota da barriga, subindo para entre os seios e terminando no ombro esquerdo. Uma nuvem rubra surgiu diante dos olhos do lobo e o salpicou com gotas de sangue brilhante a luz da lua que, àquela altura, já havia surgido no céu. Os Fur Hire não tinham problema em matar, mas apenas se fosse necessário. Se pudessem evitar, fugindo ou usando meios não letais, optariam por estes. O ataque de Folgo fora completamente desnecessário.
O lobo, depois do corte contra a garota, prosseguiu avançando como se nada tivesse acontecido, já para os dois restantes, hesitaram um pouco, mas conseguiram avançar no final das contas. Demorando tempo demais para perceber que uma imensa luz branca começava a emanar atrás deles, iluminando aquela noite de tal forma que parecia ser dia novamente. Rafale notou esse brilho com o canto dos olhos, mas já era tarde demais, aquele brilho havia tomado conta de toda a vila e grande parte de seus arredores. Mas foi o rugido ensurdecedor que veio logo em seguida que os alertou do perigo eminente e o medo se instaurou dentro deles.
Sagitta e Seal ficaram cegos por aquela luz de longe, afinal, estavam olhando diretamente para a vila, Sagitta com a mira de seu rifle e Seal com sua luneta, então não puderam ver o que estava seguindo os três Fur Hire em fuga. Apenas Bravo viu, estava preparado, para indica-los o caminho até Fandora e os ajudarem na fuga caso algo desse errado. Ainda estava longe da vila, muito longe, mas a visão daquilo que os perseguia podia ser vista da posição em que se encontrava e, todo seu ânimo costumeiro, desapareceu ao ver, estupefato, a visão de um imenso dragão branco perseguindo seus companheiros, com a bocarra aberta, rugindo ferozmente e com suas imensas e poderosas asas balançando enquanto começava a levantar voo junto de uma nuvem de poeira. Bravo apenas gritou para que se apressassem e assim fizeram, sem olharem para trás.
— E depois? Conseguiram fugir do dragão ou lutaram com ele? — Wiz perguntou, baixinho, interrompendo brevemente a história do velho. Estava sentada num banco de madeira de três pernas, com os braços apoiados nas pernas e o corpo levemente inclinado para a frente. Estava curiosa e apreensiva, a forma com que a história se desenvolvia não parecia nada favorável e estava feliz dos mais novos terem ido dormir mais cedo para não ouvirem aquilo. Seu chapelão branco estava repousado na cama e seus tentáculos que serviam de cabelo caíam pelos seus ombros.
— Ah sim, sim. O dragão, sim. Eu me lembro. — Seal pareceu divagar dentro de sua própria mente e demorou para voltar de onde havia parado. — Dyna conseguiu segurar a criatura por alguns minutos enquanto Sagitta e eu fomos ao resgate. Desci com um dos nossos barquinhos de fuga e cedi o lugar para Dyna, que era grande e pesado demais, aquele maldito. Minha Sagitta levou Bravo e eu em seus lindos bracinhos voando de volta para Fandora enquanto Rafale voltou voando sozinho. Daí metemos o pé dali.
Wiz ingenuamente deixou escapar um suspiro de alívio, ficou feliz que todos conseguiram voltar para o navio em segurança. Mas seu alívio não fora nada duradouro pois havia percebido que faltava um membro a ser mencionado durante a fuga. Apertou seu vestido com os dedos fortemente e quase se exaltou ao perceber a falha. Seal ergueu sua mão direita antes que a mulher pudesse protestar e então respondeu à pergunta que estava em sua mente.
— Folgo... Bem, Rafale não ficou nada feliz com a conduta do lobo na missão. — Seal, suspirou fortemente, fazendo seus longos bigodes balançarem. — Discutiram o tempo todo enquanto Dyna segurava o monstro e, no fim, Folgo decidiu ficar para trás. Se recusando a carona oferecida pelo nosso capitão. Preferindo segurar o imenso dragão para que os outros fugissem em segurança. Não o vimos depois daquilo. Acho que podemos dizer que Folgo não é mais um de nós.
O resto da conversa não durou muito. No fim, Wiz apenas conseguiu descobrir como fora a missão, mas continuava sem saber o que havia acontecido com os outros membros. Sabia que todos haviam fugido sãos e salvos, exceto por Folgo que resolvera ficar para trás e seu paradeiro era totalmente desconhecido, exatamente como todos os outros Fur Hire. A exceção sendo que, com Folgo, a possibilidade de não estar mais entre os vivos era bem maior que os outros e isso a preocupou o bastante para que demorasse horas para conseguir dormir quando fora para o seu quarto escolhido. Preocupação era o maior defeito da vice capitã.
Pela manhã, todos levantaram junto com o sol. Lá fora, uma fraca chuva ainda caía, em contraste com a intensa chuva que caiu durante toda a madrugada, embora nenhum deles — exceto por Wiz — havia percebido tal forte chuva, estavam dormindo pesado demais para notarem. O sol começava a aparecer atrás das nuvens, mandando sua luz junto com a chuva e formando um belo arco-íris acima da imensa Cachoeira do Dragão Soberano.
O café da manhã consistiu basicamente de frutas locais e leite prestes a ficar azedo, bem perto, mas ainda estava bom para beber. Wiz não estava a vista e Seal ainda dormia. Os gêmeos ficaram em cargo de acordar o velho fenari enquanto os outros dois foram atrás de Wiz, encontrando-a no convés, olhando para o céu com uma expressão pensativa em seu rosto. A chuva ainda caía fina e fraca por todo o lugar, exceto por onde Wiz estava. Havia uma pequena camada de energia branca acima dela que impedia que a chuva caísse onde ela estava e a molhasse. Quando ela avistou os dois jovens, estendeu aquela camada mágica até eles, para que pudessem se aproximar.
Os dois, ao se aproximarem, não sabiam bem o que dizer, sequer tinham conhecimento da história que a maga havia descoberto na noite anterior. Mas ambos sentiam que alguma coisa não estava certa. Wiz os olhou, com aquele olhar sereno que sempre os acalmava. Um olhar que dizia “estar tudo bem” e “que ela daria um jeito”. Só que, dessa vez, não tinham tanta certeza daquilo.
Passaram a manhã conversando, mas a sábia não revelava nada. Ela costumava guardar certos segredos, como sua face, das outras pessoas e não havia nada que podiam fazer que a fizesse falar. Pouco depois, os gêmeos foram até onde estavam, junto com um velho Seal bocejando e ainda meio grogue por ter acabado de acordar. Todos já haviam feito suas refeições e, como combinado, estavam prestes a sair em busca de Helmer, que, segundo relatos do velho, não deveria estar muito longe.
Prepararam poucas coisas para levar, afinal, Fandora estava ali parada e, embora não funcionasse como meio de transporte, ainda funcionava bastante bem como um armazém para todas as coisas que haviam trazido. Todos levavam consigo apenas suas armas e nada mais. Comida, roupas e qualquer outra coisa, havia ficado para trás, guardados em seus respectivos quartos dentro do navio voador. Foram preparados apenas para a busca — e talvez resgate — e mais nada.
Quando abandonaram Fandora e começaram a seguir o rastro de Helmer que Seal havia indicado, tinham apenas uma preocupação: O bem estar de seu companheiro. Por isso, a caminhada em busca do fenari perdido fora um tanto apressada, mas nada que não pudessem aguentar. Auram e Beat tinham um fôlego excepcional por conta do treino que tiveram anteriormente, enquanto os gêmeos não precisavam de nada mais além de sua própria astúcia e agilidade para acompanharem o ritmo de Wiz. A maga, inclusive, nunca parecia demonstrar cansaço ou qualquer tipo de emoção negativa, estava sempre a frente da formação enquanto caminhavam em direção ao seu destino, não tão longe dali. Somente Seal ficava um pouco para trás, o peso da idade o atrasava um pouco, mas, assegurava aos mais jovens de que não havia motivos para preocupação, logo os alcançariam.
Segundo Seal, Helmer havia partido para cima da Cachoeira, onde ele sabia que havia uma vila e lá procuraria por peças e informações e, seguindo essa única pista, subiram a cachoeira pela lateral atrás de tal vila. A subida fora bem mais fácil que a descida. Um caminho ao lado da cachoeira, escondida por uma floresta, revelava uma trilha que viajantes costumavam usar. A única dificuldade foi que esse caminho era um morro um tanto íngreme. Mas, tal desafio, fora superado com relativa facilidade —exceto por Seal. E não demoraram muito para localizarem uma pequena vila logo à beira da correnteza que levava à cachoeira.
Todas as casas eram feitas de madeira com telhados de argila marrom. Uma única e longa rua de grama separavam as residências na direita e na esquerda. Haviam pouquíssimas pessoas andando por ali — humanos — e não pareciam prestar atenção no grupo de fenari que caminhavam por ali. Wiz parou de repente para perguntar a um cidadão que caminhava despreocupado onde um grupo de viajantes perdidos poderiam procurar por informações e a pessoa apontou para o maior edifício visível: Um saloon inteiro construído de madeira, cujo telhado era verde, com uma grande placa bem no alto escrita “Black Scorpion”, com um desenho de um escorpião pintado ao lado das letras e tinha portas de madeira “vai e vem”. A fenari agradeceu e prontamente se dirigiram para lá.
Para a surpresa de todo mundo, ao adentrarem no saloon, encontraram Helmer sentado num banco, bem em frente ao balcão, meio debruçado, de costas para a porta. Seria difícil reconhecer alguém num ângulo como aquele, mas Helmer destoava um pouco do cenário. Era um fenari de baixíssima estatura, tendo o mesmo tamanho de Beat embora fosse duas vezes mais velho. Sua cauda azul, com barbatanas rosadas estava pendendo para baixo, tocando o chão de madeira suja e as pessoas no bar pareciam ter um cuidado especial para não pisar nela. Sua jaqueta escura com listras douradas na barra das mangas e nos ombros, pendurada casualmente em seus ombros, cobrindo-lhe as costas. Ao seu lado, na mesa, junto de uma grande caneca de cerveja, encontrava-se um quepe branco, meio amarrotado. Seus cabelos também eram azuis claros, assim como o resto de suas escamas e se encontravam espetados e atrapalhados. O pequeno parecia não estar tendo um dia agradável, tal fato perceptível apenas por sua silhueta triste.
Dentro do saloon, tocava uma guitarra irritante e exageradamente alta, tocada por um único homem com um cabelo espalhafatoso amarelo e vermelho, desnudo do peito da cintura para cima. Se sacudia para cima e para baixo como se estivesse possuído, vez ou outra, gritava algo ininteligível ao microfone a sua frente. Pensava estar animando todo o seu público, mas na verdade ninguém lhe dava atenção. Ficando praticamente isolado em cima do palco enquanto todas as mesas pareciam se afastar cada vez mais ao seu redor.
Já as pessoas nas mesas, não pareciam mais animadas que Helmer, em sua maioria eram humanos, mas era possível distinguir elfos, fenaris, criaturas místicas e até mecânicas. O que comiam e bebiam pareciam ainda mais exóticos que suas próprias aparências. Quando os Fur Hire entraram, ninguém lhes deu atenção e o foco de três deles estava decidido assim que avistaram Helmer. O mesmo não se podia dizer dos gêmeos e de Seal. Os gêmeos, por algum motivo que escapa a própria lógica em si, ficaram animados com a música e, se não fossem as mãos rápidas e sempre dominantes de Wiz para segurá-los pelo colarinho, teriam subido ao palco para dançar e cantar com o sujeito que se auto intitulava o Rei Músico. Já Seal não demorou para encontrar uma cadeira vazia e sentou-se.
Mas, antes que pudessem ir até Helmer, uma criança loira de cabelos bem espetados para cima, calças vermelhas e uma grande marreta de madeira nas costas, se aproximou antes, sentando-se ao lado esquerdo do fenari. O jovem falava tão alto que era possível ouvi-lo mesmo com toda aquela música absurda atrapalhando.
— Eeeeei gatinha, eu nunca te vi por aqui sabe. — Falou o jovem, perto de mais de Helmer, segurando uma caneca de cerveja espumante, parecia embriagado. — Você não é novinha demais para estar bebendo num bar sujo como esse?
O jovem loiro falava enquanto cambaleava, cambaleava enquanto gesticulava, gesticulava enquanto entornava sua cerveja para todos os cantos, inclusive, na jaqueta de capitão de Helmer, que pareceu não se importar. Helmer nem se deu ao trabalho de olhar a pessoa irritante que lhe dirigia palavras tão desconexas, mas, respondeu-o mesmo assim.
— Eu sou bem mais velho que você. — O loiro colocou a mão em seu ombro esquerdo e, por algum motivo, a música resolveu parar no mesmo instante em que a palma da mão do garoto o tocou. Helmer respondeu com uma batidinha casual com sua mão no próprio ombro, tirando a mão do jovem dali. — A propósito, eu sou homem.
O garoto pareceu não acreditar nas palavras que acabara de ouvir e, agora que a música havia parado (Graças a Sophia!), todos no bar puderam ouvir também a voz de Helmer e todos os olhares se dirigiram a ele. O garoto soltou um sonoro grito de surpresa, não acreditava no que tinha ouvido, mas, a voz de Helmer parecia não deixar dúvidas quanto ao seu gênero, sendo grossa e rouca demais para seu tamanho, parecia mais um rugido estranho.
— Ah para! Fala sério! — O jovem levou os braços para trás com o choque da revelação, fazendo com que metade do conteúdo de sua caneca no chão. Alguém havia comentado que aquilo era um desperdício e logo em seguida um robozinho prateado de cara triste, com seu corpo num formato semelhante a uma lata de lixo, veio flutuando bem próximo do chão e, com um de seus bracinhos finos, que, prontamente fez surgir uma escova de chão, começou a limpar a poça de cerveja enquanto seu outro braço catava coisas perdidas, jogadas ali e as jogava dentro do seu corpo, pelo que parecia ser, o topo de sua cabeça — aparentemente era uma lata de lixo. — Como que um rostinho de... — Parou para soluçar. — Um rostinho de boneca desses é um homem!? Não me venha com essa, sua tampinha.
O silêncio absoluto que surgiu depois das palavras frustradas do garoto, só foi quebrado pelo alto e poderoso grito de Helmer, que se levantou tão de repente e com tamanha fúria que, o banco em que estava sentado, foi atirado para trás e se chocou contra uma parede. Por pouco não acertando a cabeça de algumas testemunhas desavisadas que conseguiram desviar por um triz. Helmer segurou o garoto pela gola com sua mão direita e com a sua esquerda deu-lhe um soco tão forte no nariz que fez o corpo do mesmo dobrar-se por um inteiro e seu rosto foi de encontro ao chão tão rápido que, era provável que o garoto sequer tivesse percebido que havia sido acertado.
— Quem cê tá chamando de tampinha, hein, seu filho da puta?! — Bradou o pequeno fenari, de pé e com o punho que havia usado para socar o garoto erguido próximo ao seu próprio rosto. Revelando brevemente que possuía um par de pequeninos chifres com o mesmo tom de cor do resto do seu corpo. Sua jaqueta começou a cair em câmera lenta de suas costas, mas sua mão direita a alcançou em pleno ar e a ajeitou no lugar. — Levanta, seu bosta e repete o que você acabou de falar!
Ninguém, nem uma vivalma no bar, ousou se mover naquela direção, pareciam tão estáticos quanto chocados. Ainda mais quando Helmer começou a pisotear o corpo inconsciente do rapaz enquanto gritava para que ele repetisse o que havia dito. Seu rosto lembrava vagamente o de um golfinho, apenas com o focinho bem mais curto. Sua face estava retorcida de maneira grotesca, uma expressão de pura fúria o dominava. Expressão essa que só se encerrou quando Wiz tocou-lhe o ombro e o fez parar de pisotear o garoto. Olhou-a, displicentemente por cima dos ombros, não parecia surpreso.
— Ah, oi velhota. — Helmer precisava tombar a cabeça bem para trás para conseguir olhar Wiz nos olhos, enquanto a sábia precisou tombar levemente o corpo para baixo. — Não sabia que cê tava por aqui. Então, o que anda fazendo?
— Ara, ara... Uma vez problemático, sempre problemático. Ficar fazendo essa cara tão feia de raiva vai acabar te dando rugas, sabia? — Disse a mais alta. Helmer fechou os olhos e desviou seu rosto da direção do dela, se afastando da mão que o tocava e indo em direção ao balcão, pegando seu quepe, batendo nele algumas vezes para tirar a poeira e o colocando na cabeça, cobrindo os chifres e ajeitando a aba escura de forma que quase lhe cobria os olhos e agora uma franja cobria seu olho direito.
— De rugas cê entende né? — Wiz não expressou nada com aqueles olhos sempre tão difíceis de ler, mas, por algum motivo, todos no bar acharam melhor tomar o dobro de distância da mulher. Algo dentro das pessoas ali dizia que se aproximar demais da fenari era mais perigoso que escovar os dentes de um dragão selvagem e a aura que parecia emanar da mulher, mais quente que um vulcão. — Ah, o que os otários tão fazendo aqui? Não são muito novos pra entrarem num saloon?
Pareceu notar que Wiz estava acompanhada dos Fur Hire mais novos somente naquele instante e tombou seu corpo para o lado, para vê-los atrás do corpo de Wiz. Todos — exceto Seal — estavam colados a parede mais próxima e envoltos num abraço grupal. Mas, só quando foram notados, que perceberam que estavam numa pose e situação um tanto embaraçosos e se afastaram uns dos outros na velocidade da luz.
— Ara, ara. Não sabia? Viemos te resgatar, você estava desaparecido, seu idiota. —Respondeu Wiz e, pela primeira vez na vida de Auram, sentiu uma pitada de irritação na voz de sua mestra. O saloon inteiro permaneceu em silêncio por mais alguns instantes, até que o “Rei Músico” pigarreou no microfone, murmurou algumas palavras e voltou a tocar, mas não tinha mais nem a metade da empolgação que mostrava quando haviam entrado no bar e menos ainda da metade do volume. Aos poucos, o bar voltou a ganhar vida — exceto Seal que, surpreendentemente, conseguiu dormir durante toda aquela confusão, com a cabeça deitada numa mesa —, com as pessoas voltando as suas comidas e bebidas, enquanto conversavam baixinho sobre o ocorrido. Nenhum dos Fur Hire notou a tatuagem de escorpião negra, similar ao desenho que estava na placa do lado de fora, no braço direito do garoto desmaiado.
Capítulo XII —Jogos
Helmer e os outros Fur Hire se juntaram na mesma mesa. O membro recém encontrado bebia mais cerveja enquanto os mais novos tiveram que se contentar um suco azedo e verde enquanto comiam porções de batata frita gordurosa e queimada. Beat preferiu pedir um chá, doce demais para o seu gosto, mas era quente e agradável. Seal continuava a dormir, mas agora, na mesma mesa que seus companheiros, ocasionalmente rastejando o braço para roubar uma batata, mas não parecia estar consciente quando fazia isso. Wiz, como de costume, não bebia nem comia nada na frente dos outros em sua recusa de retirar o véu. E assim, mais um interrogatório se iniciou.
— Então, o que pode me dizer a respeito de Fandora e o resto dos nossos amigos? —Wiz perguntou calmamente, erguendo a mão direita na direção dos gêmeos, pois começavam a ficar agitados para falar e não podia ser interrompida naquele momento.
— Bom, acho que Folgo tá morto. — Disse Helmer enquanto acendia um cigarro branco, meio torto e amassado. Deu um trago e soprou uma fumaça cinza para o alto. — Não o vi depois que fugimos daquela merda de dragão. Mas, obviamente, conseguimos fugir, nada é mais rápido que a minha querida quando eu estou no comando.
Conseguimos roubar a pedra que procurávamos para nossa viagem e pudemos partir para a nossa missão de verdade. Rafale, teimoso como de costume, não quis voltar para buscar o velho lobo, apesar dos protestos de Dyna e Bravo, Sagitta ficou do seu lado, Folgo não merecia voltar conosco depois de quase ter fodido um trabalho tão simples, aquele babaca do caralho. — Deu mais um trago no seu cigarro, interrompendo seu relato ao mesmo tempo que Beat também se preparava para interrompê-lo.
— Por favor, sir Helmer, cuidado com a língua, desu. — Disse, mantendo uma expressão calma em seu rosto, enquanto bebericava de seu chá.
— Oh? O moleque tá querendo brigar comigo também é? Orelhudo maldito. —Respondeu Helmer, com o cigarro pendendo de seus lábios, claramente irritado com o garoto. — Manda ver garoto.
— Acalme-se, Helmer. — Wiz teve de intervir, pois Helmer estava pronto para brigar, como estava sempre. Disputas sérias entre os Fur Hire eram estritamente proibidas, não haviam regras a respeito de lutas amistosas e rivalidade, mas, nenhuma briga daquela forma era permitida. Beat manteve a calma de costume, mas os outros garotos ficaram um tanto preocupados. A sábia colocou sua mão direita no ombro de Helmer e disse. — Por favor, continue a sua história, se não quiser sair daqui frito.
— Ah, que velha assustadora da porra. — A mão de Helmer começou a tremer, aparentemente, a mão da sábia em seu ombro estava lhe apertando com força, lhe causando uma dor que não deixava aparentar em seu rosto, mas seu braço não era tão bom em disfarçar a dor. Mexeu o ombro de forma brusca, fazendo Wiz retirar sua mão dali e então deu mais um trago em seu cigarro. — Tá bom, tá bom. Manterei o foco e vou falar menos palavrão, okay orelhudo filho da puta?
Apesar da confusão, Helmer conseguiu continuar a história. A invasão da vila e o roubo da pedra, era apenas uma parada antes da missão real. A missão real era investigar uma cratera estranha que havia aparecido num outro continente, bem longe dali que diziam que enormes insetos começaram a brotar e devoraram tudo o que encontravam pelo caminho. O contratante que lhes deram tal missão, se identificava apenas como ”N” e nunca o encontraram pessoalmente, se comunicavam apenas por cartas. Nem mesmo as conchas mágicas usaram, então sequer sabiam como era sua voz, mas o pagamento era bom demais para que recusassem uma missão tão simples.
Inicialmente, era apenas investigar e relatar o que descobriram, não precisavam engajar em nenhuma batalha, seria uma missão rápida e fácil. Precisaram parar antes na vila pois precisavam da pedra para uma viagem tão longa, afinal, o combustível de Fandora vinha dessas pedras mágicas e o comércio delas era algo raro e difícil de se conseguir, então, de vez em quando, precisavam furtá-las de algum outro lugar. Uma única pedra era o bastante para manter Fandora no ar por um ano inteiro sem precisarem se preocupar. Por isso missões de furto não costumavam dar errado e raramente chegavam a ser necessárias.
Apesar de estarem com um membro a menos e a situação ter ficado um pouco menos amigável a bordo de Fandora, a viagem prosseguiu normalmente por um tempo mais longo que Helmer julgava que seria necessário a princípio. Não encontraram nenhuma dificuldade ao longo do caminho e não demoraram para encontrar a cratera que precisavam achar ainda sob a luz do dia. Inicialmente, não havia sinal de insetos gigantes em lugar algum. O reconhecimento a distância não revelava nada demais, Seal com sua luneta e Rafale e Sagitta voando ao redor, numa distância segura.
Eventualmente, acharam seguro pousar para procurar mais informações e todos desceram, exceto Helmer e Seal, o primeiro precisava ficar pronto, junto ao timão para qualquer retirada de emergência, embora odiasse o tédio da espera. O segundo foi tirar um cochilo.
Longos minutos se passaram que logo se tornaram horas de investigação por toda a cratera e nada descobriram. O tédio de Helmer acabou sendo contagiante para o resto da tripulação que, logo, decidiram voltar para Fandora e dar a missão por encerrada. Olharam não só dentro e fora da cratera como também por quilômetros ao redor, nas florestas espalhadas, nas poucas montanhas, perto de qualquer fonte de água e, a resposta para isso tudo, foi apenas completa e total ignorância a respeito do assunto que vieram procurar.
— Insetos gigantes. Parece estranho para vocês?
Disse, de repente, uma voz que vinha por trás dos membros que retornavam para Fandora, alguns já subindo a ponte. Todos pararam no lugar e se viraram bruscamente para trás, surpresos e se depararam com um homem de terno escuro, riscado de cinza em listras verticais, gravata preta e uma cartola preta. Estava levemente encurvado para baixo, de forma que a aba de sua cartola lhe cobria parte do rosto. Estava encurvado pois fazia uma reverência aos fenari a sua frente, a mão direita, com uma luva branca, em frente ao peito e o braço esquerdo escondido atrás de suas costas.
— Assustei vocês, peço-lhes perdão meus caros. — Retirou a cartola com a mão direita e a repousou sobre o peito, diretamente sobre a gravata e ergueu o rosto para os fenari. — Asseguro-lhes que não lhes desejo mal algum, digamos que sou apenas um observador. — Seu rosto era pálido, claramente humano, barba, cabelo e sobrancelhas pretas. Óculos redondos cujas hastes tinham o formato de um “N”.
— Eu sou quem contratou vocês para esta missão, mas parece que eu estava no tempo errado da requisição. — Prosseguiu o homem misterioso, tirou um relógio de bolso do paletó e suas abotoaduras tinham o formato de um “N” (Ou seria um “Z”?). —Ah... Quanta irresponsabilidade da minha parte, não acham? Mas acho que o tempo é algo trivial, vocês acreditam em destino?
O homem continuava a falar enquanto todos estavam em silêncio. Rafale e Sagitta haviam sobrevoado todo o perímetro e mais além a procura de qualquer sinal de vida e não haviam encontrado nada. Dyna e Bravo procuraram por rastros e cheiros e nada. O homem simplesmente surgiu do nada, assim como as criaturas que apareceram logo quando o homem terminara a sua frase. Criaturas de aparência metálica, cheias de braços e tentáculos, vagamente insectóides. Esferas amarelas ficavam espalhadas por seus corpos, no geral, no topo de seus corpos, o que indicavam serem seus olhos.
As criaturas surgiram de todos os lugares, alguns surgiram do céu, voando de maneira robótica, quase como se alguém tivesse ordenado a eles fazerem cada um daqueles movimentos e o mesmo poderia ser dito dos que surgiram do horizonte e por baixo da terra. Seus formatos variavam, assim como o número de esferas amarelas — ou olhos — em seus corpos. A única coisa que os assemelhava uns aos outros era a forma de inseto e o movimento padronizado que faziam, como numa dança estranha. O som que emitiam eram como um zumbido, um zumbido em uníssono, como se várias máquinas fossem programadas para fazerem o mesmo barulho ao mesmo tempo.
A diferença de números era gigantesca, eram tantas criaturas que chegaram a escurecer o céu ensolarado que estava acima deles e, no horizonte, nada além de um enxame de luzes amarelas e corpos metálicos tilintando. O homem misterioso havia desparecido tão subitamente quanto havia aparecido e Rafale não demorou para ordenar uma retirada de emergência, e, com Helmer já pronto, não demorou em nada para Fandora decolar.
Infelizmente, embora tivessem sido rápidos, as criaturas eram tão rápidas quanto. Os voadores não demoraram nada para alcançar os mastros e as velas de Fandora e começaram a devorar cada pedacinho que encontravam. As criaturas que ainda estavam em terra demoraram mais um pouco, mas quase nada. Começaram a se juntar e subirem uns nos outros, formando uma torre de insetos robóticos tão altas que alcançaram Fandora em pleno voo e também começaram a devorar.
Nenhum dos Fur Hire demorou para irem até seus postos de batalha. Sagitta, foi para o maior dos mastros e, com seu rifle disparava balas certeiras. Recarregava em movimentos tão velozes que nenhum olho humano conseguiria acompanhar. Rafale ficou voando ao redor de Fandora, movendo sua espada tão rápido quanto os disparos de Sagitta, matando um inseto a cada movimento. Mas, para cada inseto morto, outros três tomavam o seu lugar.
Nas laterais de Fandora, haviam metralhadoras, uma a estibordo e outra a bombordo, que Dyna e Bravo assumiram nos lugares dos falecidos parentes dos gêmeos — Fur Hire de antigamente. Mas, nem de longe, suas miras eram tão boas quanto dos seus donos originais. De qualquer forma, não importava, o número de insetos era tão gigante que, independentemente de para onde atirassem, acertariam algum. Seal prosseguia dormindo mesmo com toda a barulheira e com as conchas mágicas espalhadas por Fandora, que funcionavam como auto falantes, comunicando da emergência em que se encontravam. Helmer apenas focava em pilotar Fandora, fazendo manobras giratórias para tentarem se desvencilhar das criaturas.
Eventualmente, atingindo altitude bastante para fugirem dos insetos que vinham por terra. Mas, nem de longe estavam seguros, os voadores continuavam vindo em enxames cada vez mais imensos e, alguns, traziam os terrestres em suas inúmeras patas e as atiravam contra o convés, continuando a devorar o que encontravam. Folgo fazia muita falta em momentos como esses.
No fim, Rafale ordenou que o restante continuasse a fuga enquanto ele ficaria para trás tentando atrasar o maior número de insetos quanto pudesse. Sagitta deveria continuar a bordo de Fandora, atirando, mas decidiu voar atrás de Rafale para ajudar, agora preferindo usar duas pistolas com imensos cartuchos cheios de munição. Dyna e Bravo abandonaram as metralhadoras para combater os insetos no convés. Helmer, segundo ele, fora forçado a usar do último recurso de Fandora: Usar toda a energia da pedra mágica que haviam roubado recentemente para aumentar a velocidade dez vezes a velocidade de voo de Fandora para se desvencilharem do resto dos insetos enquanto os voadores os atrasavam.
Mesmo assim, não parecia o bastante e Dyna se viu na obrigação de auxiliar na fuga como podia, desceu correndo para as cabines, onde ficavam os mini barcos voadores — usados pelos parentes dos gêmeos anteriormente —, subiu e se atirou do convés para cima dos insetos, explodindo o barco junto consigo mesmo e metade dos insetos que os perseguiam. Bravo, ao ver tão nobre sacrifício, gritou com toda a força de seu ser e se preparou para se jogar logo em seguida. Infelizmente, a velocidade em que Fandora agora voava era tão grande que era quase impossível de controlar. Helmer bateu com força numa montanha, abrindo um largo buraco no casco do navio voador e fez com que Bravo se desequilibrasse e caísse do convés no momento em que os últimos insetos se amontavam ao seu redor. Todos caíram juntos.
Eventualmente, a energia da pedra se esgotou depois de ter sido usada de forma tão imprudente e Fandora precisou fazer um pouso forçado no primeiro local que Helmer havia achado apropriado, próximo a Cachoeira do Dragão Soberano.
O que Helmer disse depois é que ele conseguiu consertar a maior parte de uma Fandora extremamente danificada com peças e madeira que tinha sobressalentes no armazém dentro de Fandora, mas ainda faltavam muitas peças e, em algum momento, a concha mágica para se comunicar com Fandar havia se perdido, não sabia dizer quando. Mas os danos eram tão grandes que mesmo com todos os reparos e peças, não fora o bastante para consertar. Então ele caminhou por horas até encontrar a vila onde estavam atualmente, procurou ajuda, mas descobriu que ninguém tinha peças para ajudar nas reconstruções mais importantes do navio e, principalmente, a falta de uma pedra mágica. Então decidiu gastar o resto do dinheiro em bebida. O resumo de seus dias era beber até vomitar e então adormecer no caminho de Fandora. Só para que, no dia seguinte, voltasse para o bar e voltasse a beber.
— Então, Rafale resolveu abandonar Folgo e a tripulação? — Disse Wiz, quando a história de Helmer havia chegado ao ponto onde estavam agora. — No fim, só você e Seal conseguiram fugir?
— Uau, parece que o Rafale é uma bosta de líder hein. — Interrompeu Donpa, estava com o queixo sobre a mesa, parecia só ter prestado atenção nas partes que lhe importava. Beat e Recon lhe deram um tapa na cabeça simultaneamente e ele se calou.
— Bom, Folgo foi um cuzão, ele que se foda. — Respondeu Helmer à Wiz. — Mas não dá pra dizer que o Rafale foi um bosta no geral, ele ficou pra trás para que a gente tivesse alguma chance. Uma merda que nem sempre os heróis se salvam né?
Auram, cansado de não ter dito nada até agora, apenas ouvido o jeito cínico e insensível do jeito que Helmer contava a história de que todos os seus companheiros haviam caído em batalha, principalmente de Rafale, bateu na mesa com força ao mesmo tempo que se pôs de pé, derrubando a cadeira em que estava sentado e disse.
— Não fale assim dos nossos amigos, nem do Rafale, seu... Seu... Bosta!
— Cuidado com o vocabulário, desu. — Disse Beat, baixinho, segurando sua xícara de chá com mais força do que o necessário, sua expressão estava calma, mas suas mãos parecias tremer.
Helmer pareceu não dar muita importância para o descontrole súbito da criança e pediu mais uma cerveja. O silêncio da mesa em que se sentavam assumiu o comando e todos pareciam desconfortáveis. E ninguém pareceu notar que o garoto anteriormente desmaiado pelo soco de Helmer, não estava mais ali.
— É ele, chefe! É ele! — Disse uma voz irritante atrás de Helmer e, quando se viraram na direção da voz, estava o garoto que havia importunado o fenari pouco tempo atrás. Seu cabelo espetado agora estava todo bagunçado, atrapalhado e um grande inchaço roxo onde antes devia haver um nariz. Gotas de lágrima ficavam nos cantos de seus olhos enquanto apontava com o indicador na direção de Helmer. — É esse o desgraçado que me enganou, dizendo que era menina e me fez cair!
O garoto, não só mentia descaradamente, como também não estava sozinho dessa vez, acompanhado dele, haviam mais quatro sujeitos. Um bem alto e forte, de olhos fechados, careca e com uma cicatriz que percorria sua testa até o maxilar, carregando uma imensa maça de guerra, cheia de espinhos de ferro. Um sujeito magro, de óculos e cabelos cor de palha suja e um olhar malicioso, jogando uma adaga bem afiada para cima e para baixo. Uma mulher de cabelos longos e um chicoto espinhento enrolado na sua cintura, que os olhavam sorrindo maliciosamente. E, por fim, um homem alto, menor que o careca, mas alto mesmo assim, de cabelos brancos e tapa olho no olho direito, duas espadas estavam guardadas em sua cintura e um cinto de munição enrolado em seu peito.
— Heh! Foi esse moleque que te enganou, Chick? Cê é bem burro hein. — Disse e riu o homem de tapa olho. Pousando a mão direita sobre a mesa em que os fenari estavam sentados, bem ao lado de Helmer e o olhava bem de perto, com um bafo forte de álcool. — Olhando de perto, dá pra ver que é um homem, mas até que é bonitinho, não é mesmo, Meanae?
A moça com o chicote de espinhos apenas riu enquanto Helmer pareceu não dar atenção, apenas tomando mais um gole da sua cerveja que havia acabado de chegar. Mas não houve muito tempo para apreciar a nova bebida, pois o chicote da mulher estalou de repente, batendo na caneca e a cortando ao meio, derramando o restante do líquido sobre Helmer e a mesa. Então, todos os cinco viraram os braços esquerdos na direção dos fenari, mostrando a tatuagem de escorpião preta, iguaizinhas as da imagem na entrada do bar.
Os Fur Hire não notaram, mas o bar estava quase vazio naquele momento, metade já havia ido embora e a outra metade estava se preparando para irem embora. Apenas Wiz pareceu perceber isso, movendo seus olhos sagaz ao redor, enquanto o resto apenas ficavam trocando o foco de seus olhares entre Helmer e as pessoas novas que haviam surgido, ansiosos pela reação que seu companheiro teria depois de tanto insulto. Para a surpresa dos mais novos, Helmer apenas sorriu e levantou-se calmamente e disse.
— Então, como vamos resolver isso? Os cinco contra mim? — Disse enquanto estalava os dedos e os olhava com uma espécie de alegria. — Porque, por mim, tudo bem.
Os cinco novos convidados pareceram recuar um pouco e se olharam por alguns segundos, até que começaram a rir. Foi quando o homem de tapa olho, aparentemente, o líder do bando, avançou balançando a cabeça em negação. Colocou a mão sob o queixo e disse, com seu único olho olhando para cima.
— Isso seria muito fácil pra gente, não acha? Que tal se fizéssemos um jogo?
A proposta fora um tanto estranha, mas nem um pouco menos interessante para Helmer. As regras logo foram decididas, como eram cinco inimigos e sete dos Fur Hire, decidiram que seriam jogos, cinco contra cinco. Quem vencesse três dos cinco jogos, seria coroado vencedor. Os jogos seriam decididos pelos Escorpiões Negros —Como se auto intitulavam — assim como seus adversários. O prêmio? Se os Escorpiões Negros vencessem, lhes dariam todo o dinheiro que tinham e iriam trabalhar no bar deles por um ano. Se os fenari ganhassem, eles pagariam todo o conserto de Fandora. Era um excelente trato para ambos os lados.
O primeiro dos jogos foi decidido: Uma disputa de braço de ferro, Gorg, o careca fortão com a cicatriz foi quem decidiu esse jogo e ele seria o oponente, ficando a cargo dos Fur Hire decidirem quem deles seria o oponente.
— Bom, podem deixar comigo. — Disse Helmer, enquanto pedia mais uma cerveja para a garçonete amedrontada. — Podem deixar todos os jogos comigo, eu ganho desse e dos outros quatro, tranquilo.
— Não, não, meu caro senhor. — Disse o do tapa olho, que se identificava como Don Zaloog. — Cada um de nós enfrentará um de vocês. Se você for o primeiro, não pode jogar os outros. São as regras da vila dos Escorpiões Negros!
Os cinco fizeram uma pose ridícula, novamente, mostrando os braços esquerdos, exibindo suas tatuagens. Logo após tal cena, Gorg trouxe uma nova mesa e cadeira, para seu oponente sentar-se ali para o desafio. Sentou-se e aguardou em silêncio seu oponente aparecer. Helmer já se preparava para ir sentar, quando um braço magricelo e peludo o segurou e o puxou para baixo, fazendo-o se sentar na cadeira.
— Esses babacas são mais irritantes que a música desse bar. — Disse Seal, de repente acordado, mas ainda sonolento. Bocejou e esfregou a parte de trás da cabeça enquanto se levantava vagarosamente. — Deixa que eu resolvo isso, a gente acaba logo pra ir embora logo, que tal?
Os Escorpiões Negros rindo, zombando do velho. Já assumindo que estavam desistindo e que a vitória estava ganha. Exceto Gorg, que não riu e pareceu frustrado, irritado, por aquele velho ser o seu oponente. Pensava ser uma brincadeira de péssimo gosto, o que o fez segurar a borda da mesa com a mão esquerda com tanta força que a mesma começou a rachar. A força bruta do grandão era inegável e sua raiva era impossível disfarçar.
Seal levou a cadeira onde antes estava sentado até a mesa que Gorg havia trazido e lentamente se colocou em posição, com o braço direito pronto para o braço de ferro, chamando seu oponente para começar o desafio logo. Bocejando mais uma vez, impaciente.
Gorg, não estava nada satisfeito, seu desafio deveria lhe proporcionar algum... Desafio, mas aquilo? Aquilo era um insulto! Perdeu todo o interesse que tinha no desafio, mas decidiu que acabaria aquilo logo, só quebrando aquele velho ao meio para que sua raiva fosse embora. Então iria com tudo, desde o começo, para que aprendessem a não mais zombar dele. Gorg era calado, tão calado que só falava quando fosse necessário e não conseguia de modo algum, falar quando estava tomado pela raiva, apenas agia. Bateu o cotovelo com tanta força na mesa de madeira que abriu um buraco e segurou a mão o velho.
A diferença de tamanho das mãos era tão gigantesca que parecia uma piada para os outros membros dos Escorpiões, não conseguindo segurar a risada. Don Zaloog fez a contagem regressiva, enquanto os dedos fortes de Gorg se envolviam na mão frágil de Seal, como se quisesse esmaga-la. Quando a contagem regressiva terminou, o grandão usou toda a sua força para não só derrubar o braço do velho como também o destruir. E foi nesse momento que o braço do velho triplicou de tamanho. Um braço antes magricelo, como o de um cadáver, agora estava completo com músculos tão enormes e definidos que era surreal se comparado ao resto de seu corpo.
O velho moveu seu braço num único movimento, na direção contrária da que Gorg forçava seu braço e venceu o braço de ferro. Não só fazendo bater a mão do seu oponente contra a mesa, como a partindo no meio e fazendo o corpo gigante do homem girar, enquanto os ossos de sua mão eram transformados em pó e seu braço era quebrado em tantas partes que até daria trabalho para contar.
Gorg caiu no chão, a surpresa da derrota lhe cegando da dor momentaneamente. Por tanto tempo que, nem quando seus companheiros o ajudaram a levantar, ainda não acreditava no que havia acontecido, arregalando seus olhos de tal forma que era a primeira vez que seus companheiros viam a cor de seus olhos.
— Bom, podemos ir embora agora? Estou com sono. — Disse Seal, com o braço do tamanho normal e, deixando a todos — exceto dois —, extremamente chocados. Wiz riu baixinho e disse.
— Então, quem vai ser o próximo?
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.