Clara:
Meu natal e ano novo foram bons, mas poderiam ter sido ainda melhores, se não fosse pelas intervenções da Lívia e da Sophia em minha aproximação com meu filho. Fiquei magoada, mas eu sabia que seria difícil, que eu teria um grande caminho á percorrer, mas fora isso foi muito bom, fazia muito tempo que eu não sabia o que era natal, foi repleto de felicidade e pessoas boas ao meu redor, no hospício a gente nem sabia que dia da semana era então a única forma de saber que o tempo passou era olhando para o próprio envelhecimento, mas agora que eu sai, posso ver tudo e essa data foi muito boa para mim e até porque o Patrick estava lá comigo, sempre, adoro a forma de como ele é leal a mim, ele realmente é uma peça rara.
Depois do período festivo, resolvi avançar com meu plano, depois de me vingar do Dr. Samuel, vou pedir a guarda do meu filho, nós estamos tão próximos, ele gosta muito de mim e dos bisavós e agora com o cachorrinho que eu dei para ele, é a forma perfeita dele se aproximar ainda mais de mim, eu vou conquistar meu filho de volta e não vai demorar muito, escreve o que eu digo, não vai demorar. O Gael estava preso desde as datas comemorativas, depois que o tribunal voltou do recesso, não era novidade que ele tinha saído, porém, ele não pode chegar perto de mim e além disso o Patrick está sempre comigo, então nada vai acontecer. A Lívia proibiu o Tomaz de me ver e queria tirar o cachorro dele, mas então eu o levei para casa do meu avô e o Renato prometeu que a qualquer hora que ele quiser ir ver o Cacau ele levaria o Tomaz sem problemas.
É estranho agora que eu voltei ver que todos eles estão limpando o chão com a língua para me agradar, prometendo me ajudar a ter meu filho de volta, mas analisando todos eles sempre há uma falha neles, bom, quase todos. O Gael, todos nós sabemos que ele nunca mudou, eu podia sentir algo por ele depois que voltei, mas era só isso, algo, poxa eu o amei de verdade, era apaixonada por ele e aos poucos fui descobrindo quem ele realmente era, o Renato é outro, tá bom, tivemos apenas um romance, mas eu confiei nele com a minha vida e mesmo depois dele ter me contado sobre o porque o caixão foi parar no mar, eu ainda não confio completamente nele, até porque ele nem foi atrás do caixão no mar e ainda por cima se casou com a Lívia pouco depois que eu “morri” e por fim tem o Patrick, sobrinho-neto da pessoa que eu mais confiei e gostei, que me deu luz para sobreviver naquele buraco do inferno e por fim ainda me deixou sua herança milionária, ele era uma boa pessoa, é um homem direito, eu entendo porque ele não quer que eu continue minha vingança, eu entendo que é perigoso, mas não consigo deixar isso passar mais, foram dez anos da minha vida que eu perdi por causa desses infelizes e tudo isso por causa da ganancia deles, mas o Patrick tem algo de especial dentro dele (não é atoa que a dona Mercedes disse que há muita luz dentro dele), ele é respeitoso, leal, tem seus princípios e eu vejo que ele gosta de mim assim como eu gosto dele, mas ele não faz igual o Renato e o Gael que já chegam querendo me beijar, ele é diferente, ele é o homem que eu sempre sonhei ter, não quero me envolver serio com ninguém agora, primeiramente quero meu filho, mas se eu tiver que escolher algum deles, com certeza será o Patrick, até porque tudo o que nos temos foi construído com amizade, então isso é real, as coisas surgem aos poucos e pra valer. Hoje vamos ao garimpo porque a Sophia me ligou dizendo que tinha uma proposta irrecusável para mim, provavelmente sobre o Tomaz, mas não irei aceitar, óbvio, só quero ver a cara de pau dela em tentar fazer meu filho como moeda de troca para as luxurias dela, o Patrick vai comigo, ele não confia em me deixar sozinha nenhum segundo com a Sophia e nem com ninguém da lábia dela.
- “Como você está se sentindo?” Patrick me pergunta ainda dentro do carro.
-“Confiante.” Eu respondo, ele dá um sorrisinho e nós dois saímos do carro.
-“Ora, Ora, e não é que ela veio mesmo?” Sophia começa a provocar assim que nós nos aproximamos da cabana.
- “Realmente eu vim, não é? Não gosto de recusar convites, muito menos os seus.” Clara retruca.
- “Falando em convite, eu jurava que o convite tinha sido apenas para você, sem acompanhante.” Sophia atira em direção á Patrick, ele por sua vez dá um olhar fechado para ela.
- “Clara, vou te esperar aqui do lado.” Patrick fala para Clara.
- “Pode ir, eu não mordo.” Sophia joga.
- “Prefiro não arriscar.” Patrick responde curto e grosso.
Quando ele se afasta das duas mulheres, Sophia continua e descarrega todo o seu desprezo sobre a jovem.
- “Primeiramente Clara, se você acha que eu vou sentar e me lamentar enquanto você tenta trilhar meu caminho, você está muito enganada, eu vou até no inferno se for preciso para ter o que eu quero.”
- “Si bem que acho que nem no inferno você é aceita mais.” Clara debocha.
- “Se você pensa que conseguirá a guarda do menino assim, fácil fácil, tá muito enganada, cuidado que eu posso te mandar de volta para o hospício Clara.”
- “Cuidado Sophia, mentir é pecado, nós duas sabemos que você não pode fazer isso porque eu sou uma pessoa sã e é mais fácil você perder os miolos do que eu, mas eu não vim até aqui só para ficar trocando farpas contigo, então, o que você quer?”
- “Tem razão, não faz sentido, porque a partir de agora você não será mais uma pedra no meu sapato.” Dito isso Sophia saca uma arma da bolsa e mira em direção a Clara, no mesmo momento Patrick corre e derruba Clara no chão, protegendo-a com seu próprio corpo, caso haja mais disparos, a arma fez um total e quatro disparos, dois foram no chão e dois em direção a Clara, nenhum atingiu ela, mas um tiro pegou no peito do Patrick e outro no bíceps direito, depois dos disparos, temendo ser pega em flagrante, Sophia entrou no carro e seu motorista acelerou, fugindo do garimpo. Uma multidão de pessoas se aglomerou ao redor para ver o que estava acontecendo, enquanto isso Clara estava em desespero no chão chamando pelo Patrick .
- “Patrick.....Patrick .” Clara chama depois que ouviu os disparos pararem e os pneus cantando na terra seca.
Clara sai do aperto de Patrick e percebe o sangue embebendo a camisa dele, ele está com os olhos fechados, ela balança os ombros dele na tentativa de desperta-lo e o vira de costas, expondo a parte atingida.
- “Ai meu Deus, alguém chama uma ambulância.” Ela grita quando vê o local do tiro.
- “Patrick abre os olhos, por favor acorda...” Ela fala desesperada e abre a blusa dele para ver o dano com mais facilidade, ela então tira o blazer que estava usando e pressiona contra a ferida no peito, a bala tinha atingido o lado direito do peito, menos mal, pois não foi perto do coração, porém foi em cima do pulmão, significando que levaria poucos minutos para ele parar de respirar corretamente. Assim que ela pressionou a ferida ele soltou um gemido baixo, ela aproveitou o momento e deu leves batidinhas na bochecha dele, chamando por ele.
- “Patrick. Eii, você consegue me ouvir? Eii, fala comigo....” Clara implorou
- “Cla..... ra.” Ele tentou, mas então se deu conta de algo maior, uma dor muito forte e ele não conseguia respirar, então o pânico subiu nele.
- “Calma, tá tudo bem, vai ficar tudo bem, olha pra mim. Vai ficar tudo bem, tá me ouvindo? Respira devagar e com calma.” Clara tentou fazê-lo ouvir, mas ele estava muito longe dentro do seu próprio mundo, mesmo assim ela tentou.
- “A ambulância vai demorar pelo menos 30 minutos.” Uma das meninas do bordel avisou.
- “Ele precisa ir pro hospital.” Clara chorou.
- “Eu levo vocês lá.” Mariano se ofereceu, a essa altura ele não estava mais de caso com a Sophia, aparentemente ele também queria a cabeça dela.
- “Então vamos.” Clara gritou, mas assim que Mariano e mais um garimpeiro levantaram o corpo de Patrick do chão, Clara os mandou parar e percebeu o bíceps direito escorrendo sangue, eles deitaram o corpo dele no chão e ela encontrou o local onde a outra bala se alojou, Mariano deu uma blusa extra para ela e então ela fez um torniquete em volta do braço dele, era possível ouvir a respiração esfarrapada dele de longe, estava muito superficial, ele abria e fechava os olhos, em estado de vigília, lutando contra o desejo de se entregar a escuridão, Clara continuou tentando mantê-lo acordado.
- “Patrick, respira comigo, vamos lá, inspira...... expira, vamos, Eiii.” Patrick tentou, ele realmente tentou, mas cada vez mais que ele tentava ele sentia cada vez mais pânico, ele podia sentir o gosto de sangue na boca, provavelmente seu pulmão já estava enchendo de sangue e seria questão de minutos até ele começar a cuspir sangue, além do mais estava cada vez mais difícil de respirar, ele tentou ao máximo não dormir porque ele sabia que se ele dormisse ele não acordaria mais.
- “Pronto, acho que isso vai ajudar até chegar ao hospital.” Mariano disse a Clara e ajudou o outro garimpeiro a pegar o corpo já praticamente sem vida do chão, eles o colocaram no banco de trás, Clara foi para o outro lado e colocou a cabeça dele no colo dela, ela então começou a acariciar os cabelos loiros dele enquanto ele olhava para ela, os lábios dele já estavam com uma coloração um pouco roxa, mas ela precisava dele acordado.
- “Você vai ficar bem okay? Não se preocupa, mas você tem que ficar acordado pra mim tá?” Ele fez um leve movimento com a cabeça, ela então continuou colocando pressão nos ferimentos enquanto ele gemia de dor.
- “Desculpa, eu sei que dói, mas eu preciso colocar pressão okay?” Eles estavam próximos do hospital, não mais que 5 minutos, quando Patrick começou a tossir, Clara se desesperou ainda mais com o tanto de sangue que ele estava expelindo, Patrick já não estava mais aguentando e simplesmente deixou a escuridão vencê-lo.
- “Eii. Não, não, não, Patrick a gente tá chegando, abre os olhos, Eiii, olha pra mim, vamos lá .....” Nisso, Mariano acelerou mais e eles chegaram ao hospital em menos de 2 minutos.
Chegando ao hospital, enfermeiros apareceram com uma maca para levá-lo para dentro, assim que entraram o medico de plantão no PS era ninguém menos que o Renato que ficou espantado com o estado que todos chegaram, ele ficou calado e começou a examinar o Patrick, ele quase não respirava mais, assim que as enfermeiras o ligaram ao monitor cardíaco e ao oxímetro, o alarme apitou, pois estava abaixo de 50 Bpm, Clara foi retirada do PS por uma enfermeira que a acompanhou até a recepção enquanto o Dr. Rafael e os enfermeiros estabilizavam Patrick. Enquanto isso Mariano entrou na recepção e devolveu as chaves do carro de Clara e avisou que ele e o outro garimpeiro já estavam indo embora, que a carona deles tinha chegado.
- “Obrigada por nos trazer.” Clara começou.
- “Não, magina. Fica bem ai tá?” Mariano disse e Clara assentiu.
Clara colocou a chave no bolso, sentou-se em uma cadeira próxima da entrada do PS e ficou olhando fixamente para lá, o lugar de onde eles tinham acabado de expulsá-la, ela nem sabia o que pensar, tudo tinha e ainda estava acontecendo muito rápido, ela estava uma bagunça, sangue na blusa, nas mãos, mas ela nem tinha se tocado disso ainda, tudo o que ela pensava era, como seria possível alguém que perdeu tanto sangue conseguir sobreviver. Cerca de 30 minutos depois, Renato saiu pelas portas duplas á procura de Clara para atualizá-la sobre o quadro de Patrick.
- “Clara.” Renato chamou.
- “Como ele está?” Clara levanta em desespero.
- “O quadro do Patrick é grave, mas ele está estável agora.”
- “Então tá tudo bem?” Ela deduz.
- “Não foi isso que eu disse Clara, eu disse que ele está estável, não bem, passamos a maior parte do tempo tratando a hipóxia. Ele está sendo preparado para a cirurgia agora, eu vim para te deixar a par da situação dele.”
- “Você quem vai operá-lo?” Ela pergunta.
-“Sim, mas teremos um cirurgião torácico também, por conta do hemotórax.”
- “Quanto tempo vai demorar a cirurgia? Quais são as chances dele?”
- “Olha Clara, cirurgia para retirada de bala, não é tão grave assim, mas a questão da bala ter atingido o pulmão torna o caso dele delicado, mas cuidaremos disso tudo bem?” Ela assentiu, então ele continuou.
- “Vá até um banheiro daqui desse andar, lava o rosto, as mãos, toma um café, que quando você voltar provavelmente eu já vou estar aqui para te dar noticias sobre ele, eu sei que ele é importante para você.”
- “Tá, eu vou fazer isso, mas promete pra mim que você não vai deixar ele morrer Renato, por favor.....”
- “ Eu vou fazer todo o possível Clara, não se preocupa tá? Eu vou ter entrar agora, mas volto logo .”
- “Tá, mas você não me disse quanto tempo vai levar a cirurgia.”.
- “Cerca de 2 a 3 horas porque precisamos colocar o dreno no peito dele.”.
- “Tá, obrigada Renato.” Ele assentiu e entrou pelas portas duplas e brancas enquanto Clara foi atrás de um banheiro.
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