Quando ela voltou para o hospital quase de noite, Patrick estava com o fisioterapeuta no quarto, ele estava testando se havia perda de mobilidade no braço direito.
- “Oii, atrapalho?” Ela disse colocando a cabeça dentro da sala.
- “Nunca.” Ele respondeu.
- “Nós já estamos quase terminando tudo bem?” O medico disse para Patrick.
- “Então, como foi seu dia?” Ele perguntou tentando tirar o foco da dor irradiando no seu braço e peito enquanto ela se sentava.
- “Foi bom, eu resolvi algumas coisas, mas meu foco estava todo em voltar para ficar com você.” Ele sorriu e fez uma careta de dor em seguida.
- “Agora aperte a bolinha com toda sua força.” O medico falou. Ele fez, não tinha sido muito forte, mas era o suficiente para deixar a marca dos dedos na bolinha.
- “Bom. Mais uma vez, por favor.” Patrick cumpriu com o que foi pedido e grunhiu com a dor que irradiou em seu peito.
- “Só mais um pouquinho e já finalizamos.” O medico disse encorajando-o e continuou.
- “Agora por fim levante o seu braço o mais alto que você conseguir.” Ele levantou o braço com muito esforço e dor, mas não foi tão alto assim, o máximo que ele conseguia chegava ao nível do ombro. Nem três segundos depois ele abaixou o braço novamente por conta da dor maçante que estava sentindo no peito, sentia-se como se um elefante estivesse deitado em seu peito. Clara estava o tempo todo com ele só assistindo e esfregando círculos com os dedos na mão livre dele.
- “ Okay, podemos parar agora.” O medico disse e continuou.
- “ Como você está se sentindo?”
- “ Meu peito tá doendo .” Ele sussurrou.
- “ Eu irei pedir para que uma enfermeira aumente a dose de morfina em um segundo.”
- “Bom, considerando o local onde a bala atingiu e a sua mobilidade atual, você teve bastante sorte. Aparentemente você perdeu 25% da sua mobilidade total, não é um número muito grande mas impossibilitará que você faça algumas tarefas diárias por um tempo. A dor que você está sentindo é completamente normal e será manejado com analgésicos a partir do momento em que te tirarmos da intravenosa. Por conta da perfuração no pulmão ainda estamos cautelosos em relação á infecções, por essa razão manteremos você aqui na UTI por mais um dia para monitorá-lo de perto .” O medico deixou ele falar.
- “E quando eu vou poder ir para casa?”
- “Assim que você sair daqui da UTI, ficará em observação por pelo menos mais um dia na estação normal, passado isso possivelmente você já será liberado” O medico disse e Patrick soltou um sorriso de canto de boca.
- “Existe alguma restrição importante ou precaução que ele deve tomar?” Foi a vez da Clara falar.
- “Apenas aquelas já listadas como não pegar muito peso, não dirigir, descansar quando o seu corpo pedir, manter uma alimentação saudável e fazendo as sessões de fisioterapia. Não se preocupe seguindo todas as orientações certinhas logo logo você estará 100% de novo.” Ele disse e finalizou.
- “Eu irei pedir que uma enfermeira aumente a dose da sua morfina. Okay?” Patrick acenou e o medico saiu.
- “Então, me conta, como foi a primeira sessão?” Clara disse.
- “Torturante.” Ele disse com um sorriso leve e fechou os olhos porque a dor realmente estava fazendo um número nele.
- “Posso ver isso. Quem diria que uma bolinha de silicone ganharia de você.” Ela disse brincando com ele e ele soltou uma risada de derrota.
- “Por essa eu também não esperava. Tô drenad...” Ele disse e antes que pudesse terminar a frase uma enfermeira entrou no quarto.
- “Chegou o seu alivio.” Ela cantarolou para ele enquanto a enfermeira modificava a dosagem.
- “Tô decepcionada, meu melhor amigo me trocou por morfina.” Ela riu provocando ele enquanto ele tentava se explicar.
- “Eii, nunca te troquei por ninguém, a morfina que gostou de viajar pelas minhas veias.” Ele disse sonolento. Clara riu e disse.
- “Vai dormir, eu estou aqui com você.” Ela disse e continuou segurando a mão dele enquanto o medicamento nocauteava ele.
Já era madrugada quando Patrick acordou novamente, Clara estava dormindo na cadeira ao lado dele como prometido, ele pensou em procurar seu celular para ver as horas mas provavelmente ele foi recolhido quando ele chegou no PS então ele tirou esse tempo em que estava mais acordado para pensar sobre algumas coisas que o rodeavam como o atentado da Sophia contra a Clara e obvio, sobre a Clara também, pois estava cada vez mais difícil esconder o que ele sentia por ela, eles estavam cada vez mais próximos e isso não ia dar certo pois ele ouviu sair da boca dela que ela está com o coração fechado, aniquilando qualquer que seja as chances dele, depois que a noiva dele morreu ele nunca amou ninguém, nunca mais se relacionou com ninguém a não ser seu trabalho, essa era a única coisa que ele tinha e então ela apareceu e tudo mudou, mas independente do que aconteça entre ele e ela, ele nunca vai deixar de ser amigo dela e sempre terá um sentimento de gratidão por ela, afinal, apesar de todos os seus esforços em tentar tirar sua tia do hospício, pelo menos ele sabe que ela não morreu sozinha ou pior, perturbada como alguns pacientes de lá e por isso ele será eternamente grato á Clara, por ter ficado com ela até o ultimo suspiro, mas o que perturba ele não é levar um tiro, é levar um tiro e ela ter uma reação tão cuidadosa com ele, há muito tempo ninguém se importa com ele da forma como ela se importa, talvez ela esteja se sentindo culpada pelo que aconteceu com ele ou talvez..... não sei, mas isso não foi culpa dela e se perguntarem á ele se ele faria a mesma coisa de novo, a resposta seria claro que sim, ele falou serio quando disse que não deixaria ninguém toca-la e está cumprindo isso, o que o está incomodando é que ela está perdendo o sono dela para ficar com ele, ele não se importa em ficar sozinho, isso já é uma constante para ele, mas ela está lá dando quase toda a atenção dela para ele. Amar é uma coisa tão complexa para uma palavra de quatro letras........ Okay, foco, a Sophia fez uma tentativa de homicídio, isso dá cadeia, mas agora ele precisa elaborar um dossiê completo e escolher as pessoas certas para determinadas ações, claro, agora ele quem precisa de um advogado para defende-lo (Irônico), mas ele não pode ser interrogado por qualquer policial corrupto, precisa ser pelo detetive Bruno e o caso precisa cair nas mãos da juíza Raquel por conta da trambicagem da Sophia com o juiz Gustavo e o Detetive Vinicius, isso precisa ser julgado como a lei determina ser. É engraçado, ele nunca concordou com a vingança da Clara, mas sempre a ajudou e agora a Sophia caiu na sua própria armadilha, facilitando ainda mais as coisas para a Clara, pois testemunhas ela tem, ele estava em estado critico e não houve fogo cruzado, esse era o crime perfeito.
Patrick estava olhando para Clara e vendo o quão linda ela era, ainda mais dormindo (pelo visto é verdade quando dizem que as pessoas são ainda mais fofas quando estão dormindo), até que pouco tempo depois ela começa a acordar e nota que ele está olhando para ela, o canto dos lábios dele crescem em um sorriso quando ela olha os olhos dele.
- “Você devia ir para casa sabia? Não é saudável dormir nessa cadeira.” Ele começa.
- “ Eu vou quando você for. Que horas são?”
- “Não faço ideia.” Ele sorri e continua.
- “O que você resolveu ontem? Nem conversamos direito nesses últimos dois dias.”
- “Bom, eu tenho uma novidade. Descobri a brecha perfeita para me vingar do Dr. Samuel e do detetive Vinicius.” Ela continuou.
- “ Descobri que aparentemente o detetive Vinicius abusa da enteada desde que ela era criança, mas parece que ele só “passava a mão” nela, falei com o noivo dela e ele disse que ela é estranha com algumas coisas como não gostar de ser tocada, abraçada ou beijada, são sinais claros de algum trauma e eu vou me aprofundar nisso, já o Samuel, estávamos certos de que ele tinha uma vida dupla e você acertou quando disse sobre ele não gostar de conviver com outros gays, agora segura essa bomba. O Samuel e o Cido namoram a muito tempo, tenho o plano perfeito para desmascara-lo.” Ela disse ansiosa com todas as suas descobertas.
- “ Clara isso está ficando perigoso.”
- “Perigoso vai ser o que eu estou planejando contra a Sophia depois do que ela fez com você.”
- “Ei, Ei, Ei, você não está planejando nada contra ela, ela é a mais perigosa de todos, e ela mesma quem assinou a própria sentença Clara, você tem testemunhas, eu estive mal, você não reagiu ao tiro, é o crime perfeito, mas para isso dar certo e a Sophia apodrecer na cadeia, você precisa me deixar fazer algumas coisas. Primeiramente, os detetives que vierem me interrogar precisam estar com o Bruno e o caso precisa ser julgado pela Raquel, senão voltaremos a estaca zero, pois sabemos que a maioria dos homens de Palmas são comprados pela Sophia. Precisamos de pessoas do nosso lado também. Vai dar tudo certo, você vai ver.”
- “você acha melhor eu ir na delegacia ver se alguém pode te interrogar?”
- “Não, agora não, eles só são autorizados á falarem com as vitimas quando eles saem da unidade intensiva, nunca são os mesmos policiais que veem no mesmo lugar, então caso não seja o Bruno, podemos inventar alguma desculpa, mas é certeza que no momento em que sairmos daqui já haverá alguém para nos interrogar.”
- “ Você precisará de um advogado não é?” Ele acena e ela ri.
- “Irônico né.” Ele debocha.
- “Muito.”
Ambos ficaram alguns minutos em um silencio agradável, apenas apertando a mão um do outro quando ele puxa assunto.
- “Tô com medo da próxima sessão.” Ele confessa.
- “Realmente é tão torturante assim como você diz?” Ela diz.
- “Parece que tem vidro debaixo da minha pele. Antes de você chegar o medico disse que sentir dor é bom, pois significa que o meu corpo ainda está funcionando, mas eu discordo.” Ele ri para ela.
- “Eu que te coloquei nessa situação, é minha culpa você estar sentindo dor.” Ela se culpa.
- “ Quem disse que foi culpa sua? Não foi você quem quis pular na frente de ninguém para proteger, eu fiz isso, mas porque eu quis, e faço de novo se necessário, então pare de se culpar atoa e vai para casa dormir porque você está me deixando dolorido só de olhar para você dormindo nessa cadeira. Como deve estar as suas costas nesse momento? Ele dá um sorriso gentil.
- “ Por que você quer tanto que eu vá embora?” Ela fala em um tom serio com ele.
- “Porque eu me importo em como você está se sentido.”
- “ E se eu disser que o lugar que eu quero ficar é aqui com você? Caramba entende que eu me importo com você e quero estar com você, para de querer que eu me afaste.” Ele ouviu e assentiu, compreendendo os sentimentos dela.
- “ Você está com dor? Quer alguma coisa? Agua?” Ela disse em um tom gentil como se nada tivesse acontecido.
- “ Agua, por favor.” Ele responde.
Ela levanta da cadeira e vai até os pés da cama dele, pega uma jarra e despeja agua em um copo plástico para ele, quando ela volta ele a agradece enquanto ela se senta novamente.
-“ Obrigado. “
- “ De nada. Será que tem algo interessante passando na TV?” Ela pergunta.
- “ Só tem um jeito de descobrir.” Ele a encoraja.
Ela liga a TV e depois de uma longa busca por algo interessante eles encontram South Park no Comedy Central. Ambos passam um bom tempo rindo das piadas sujas até eles começam a comentar.
- “Não acredito que os pais deixam as crianças assistirem isso, é muito pesado.” Ele fala rindo.
- “Concordo, tem coisas tão pesadas que nem eu entendo.” Clara ri e continua.
- “Isso é muito imoral” Ela diz.
- “Concordo. Tá com sono?” Ele fala e ela acena.
- “Deita aqui comigo então, tem bastante espaço para nós dois e pelo menos assim eu paro de me preocupar com você dormindo nessa cadeira desconfortável.”
- “Okay, você ganhou, mas só para você parar de reclamar da pobre cadeira.” Ela fala e sobe na cama, deitando-se ao lado dele.
Ambos adormeceram muito rápido com a TV no mudo. Um pouco mais tarde uma enfermeira entra novamente para checar seu paciente e encontra o casal dormindo com Clara com a cabeça encostada no peito de Patrick e ele com uma mão protetora em volta das costas dela, formando um sorriso adorável no rosto da enfermeira que jurava que eles eram namorados ou casados. Ela então ajustou as dosagens, desligou a TV e diminuiu a intensidade das luzes e depois saiu do quarto sem fazer barulho.
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