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História You are my angel -Fillie - 28 The Fear - História escrita por MabelSousa - Spirit Fanfics e Histórias
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História You are my angel -Fillie - 28 The Fear


Escrita por: MabelSousa

Notas do Autor


Boa leitura ♥️

Capítulo 28 - 28 The Fear



"Não sei como dizer que te amo sem dizer: "Te amo". Não devo, não posso, não é meu direito, mas ficar calado é um pecado. Não sei como olhar nos teus olhos e imaginar, as noites e os dias dormindo em teus beijos. Te amar em segredo é um pecado"




Finn. 


O campo de soja, juntamente com o sol que se punha no oeste do céu era a imagem que eu tinha de cima do cavalo bem distante, mas ainda perto o bastante para que eu pudesse sentir o cheiro do mato, para que enxergasse as cores verdes em contraste com o laranja dos pequenos ramos nascendo dentro das folhas.

Uma risada baixinha e feliz soou em meu ouvido me fazendo perder a concentração para encarar a garota sentada na minha frente, com as mãos pequenas agarradas na sela do cavalo e os cabelos enormes esvoaçantes batendo contra meu rosto.

-Esta gostando do passeio, meu amor? -Afetado pela intensidade dos meus sentimentos, eu indaguei a ela, afastando uma mecha de seu cabelo para sussurrar em seu ouvido.

Millie, virou o rosto avermelhado pelo sol, olhou para mim com seus enormes olhos brilhantes e sorriu mais uma vez.

-Muito. Obrigada por me fazer tão feliz.

Em seguida, sem que eu esperasse, ela juntou nossos lábios em uma carícia íntima, calma, mas cheia das coisas que nós dois estavamos sentindo. Amor e felicidade.

Rodeei meus braços em torno de seu corpo e mergulhei na profundidade de sua boca sempre tão macia, tão desejosa. Nossos lábios se movendo sem pressa, embora a necessidade nos tomasse de igual para igual.

-Me leve de volta para casa, eu... preciso de você. -Ela sussurrou contra minha boca ao largar meus lábios. A voz rouca, implorando por aquilo.

Eu não precisava pensar. Puxando Skata de volta, galopamos juntos o percurso que havia nos levado até o campo. Na casa vazia, Millie desceu depressa do meu cavalo, apenas para me fazer correr atrás dela rindo  ansioso até nosso quarto.

A encontrei perto da nossa cama. A respiração agitada pela corrida, mas os olhos selvagens num claro desafio que me fez parar assim que fechei a porta.

De algum lugar, talvez do fundo da minha mente, surgiu uma música lenta com batidas fortes que se misturavam ao ritimo do meu coração. De pé, eu vi o momento em que a garota começou a balançar o corpo naquele mesmo ritimo enquanto as mãos envolviam a parte debaixo do vestido, subindo-o lentamente para me deixar ver suas pernas.

Li na fúria de seus olhos o tipo de jogo que tentava fazer comigo, sem fazer a menor ideia do quanto estava me deixando louco pela expectativa de vê-la totalmente longe daquelas barreiras que nos separavam.

Em um movimento mais rápido o vestido se fora, revelando apenas a calcinha branca e pequena que usava por baixo, sem a porra de um sutiã que cobrisse os seios nus e pequenos de aréolas rosadas e minúsculas.

Longe demais das minhas mãos. Distante demais da minha boca que aquela altura salivava de tanto tesão.

Me sentei na cadeira do quarto sem chance de conseguir esconder o quanto a visão estava me afetando. Millie sorriu ao retirar a calcinha e se aproximou de mim, desprovida das roupas e de tudo o que um dia havia nos separado.

Sentando em meu colo eu senti tudo com as próprias mãos. Senti a maciez da pele, seu cheiro mais vivo do que nunca.

Ela inclinou a cabeça, os lábios quase encontrando os meus.

-Eu não quero você, Finn. -Eu não entendi. Suas palavras não faziam o menor sentido. -Voce nunca irá me tocar. Eu só quero Romeo.

-

Abri os olhos em meio a escuridão do quarto sentindo a dureza do chão. O corpo completamente suado, rígido pelo tesão me fazendo perceber que aquilo tudo não tinha passado da porra de um pesadelo.

Com a respiração acelerada feito a de um animal, eu ergui a cabeça, olhei para o lado onde a cama estava. Onde minha esposa estava. Dormindo, completamente virada para o outro lado, encolhida e coberta dos pés até abaixo do queixo. Calma. Tranquila. Sem fazer a menor ideia de que tipo de pensamento havia despertado em mim durante o maldito sono.

Se havia algo capaz de destruir-me era aquilo. A culpa, o nojo de mim mesmo, a raiva que subia em minha cabeça por ser a porra de um pervertido sem coração.

Sem aguentar mais dividir aquele espaço tão grande, mas ainda tão pequeno, sai do quarto percebendo no corredor que ainda deveria ser de madrugada em virtude da escuridão que ainda tomava minha casa.

Sem ouvir qualquer barulho eu desci as escadas. A porta da frente parecia apenas encostada e foi para lá que fui, precisando muito respirar um pouco fora daquelas paredes.

Como eu havia imaginado, era madrugada. As luzes do jardim estavam acesas, mas o céu ainda permanecia escuro sem o rastro de qualquer estrela ou luz da lua, bem da forma que eu me sentia.

Cheguei perto da mureta de madeira e apertei as barras com as mãos tentando controlar aquela avalanche de coisas que me reviraram por dentro.

Eu iria enlouquecer e aquilo parecia cada vez mais concreto dentro da minha mente.

De repente, ouvi um barulho atrás de mim que me fez virar-me alarmado, com a sensação de estar sendo pego em flagrante como se alguém fosse conseguir ler minha mente.

-Jack? Você dormiu aqui? -Fiquei surpreso, mas aliviado por ver meu amigo sair da minha casa.

Ele usava um pijama, o cabelo rebelde muito bagunçado e o rosto com profundas olheiras. Como eu, o desgraçado não parecia ter tido uma noite de sono.

-Sua mãe me convidou para ficar depois do jantar. Tem algum problema? -perguntou, ao chegar onde eu estava perto da mureta.

Respirei fundo e balancei minha cabeça.

-Nenhum. Eu só não sabia. Também não conseguiu dormir?

Jack deu uma risada baixinha, do bolso do pijama retirou o maço de cigarros e o isqueiro.

-Não estou acostumado com tanto luxo. O quarto que sua mãe arranjou para mim é grande demais, deve caber minha família inteira lá dentro.

Eu também ri, só que com menos intensidade do que ele. Durante o jantar, minha mente esteve tão ocupada que esqueci completamente de dar atenção ao meu amigo.

-Obrigado por ter vindo. Agradeça a Ângela e ao seu pai também. -Lembrei que eles foram os únicos convidados de fora que compareceram.

Jack acendeu o cigarro tomando a primeira tragada com uma careta, depois deu de ombros.

-Tudo bem. É uma pena que os doces vão estragar. Minha mãe trabalhou muito para fazer naquela quantidade.

-Nem me fale. -Apertei a barra de madeira com mais força ao me recordar da igreja vazia e da festa que não aconteceu. -Mas ela vai receber por cada coisa que fez, isso eu faço questão.

Novamente Jack deu de ombros. Bateu na ponta do cigarro dispersando as pequenas cinzas no ar.

-A Millie está bem? Durante o jantar ela me pareceu esquisita.

Com esquisita, ele quis dizer triste. Eu sabia pois era exatamente o que ela estava não só durante o jantar, mas o tempo inteiro. Foi dormir assim que subimos, nem ao menos quis conversar comigo conforme eu havia pedido.

-Ela vai ficar bem. -Eu não tinha tanta certeza quando afirmei aquilo. -É tudo muito novo, acho que ela precisa se adaptar antes de mais nada.

-Faço idéia. -Ele tragou mais fumaça. Eu estava tão amortecido que nem aquele odor foi capaz de me incomodar. -E você, Finn? Não vem me dizer que está tudo bem porque eu sei que não está. São quatro da manhã e você a deixou sozinha lá em cima. O que foi? Vocês brigaram?

-Antes fosse. -Eu cruzei os braços, na tentativa inútil de esconder a minha tensão. -Sei lidar com brigas, o que está acontecendo é muito pior. Ela é indiferente a mim, cada vez que tento me aproximar ela foge.

Jack franziu o cenho como se não esperasse aquela resposta. Ele sabia que eu havia me declarado, achou que tivesse sido uma boa idéia admitir meus sentimentos, porém eu sabia que não tinha sido. Não era bom para ela muito menos para mim.

-Não acho que ela seja indiferente a você. -Ele afirmou, com mais segurança do que eu esperava. -Talvez esteja assustada, mas indiferente ela não é.

Eu já não acreditava mais. Jack via algumas coisas, mas não sentia na pele o que eu sentia. Não tinha como saber.

-Minha mãe disse que antes do casamento ela estava com Romeo. Os dois estavam abraçados. Acho que ela percebeu que havia algo ali. -Falei desgostoso, sentindo o amargo rodear cada canto da minha boca.

-Eles são amigos.

-Amigos que transam. -Desdenhei, amargo. -Eu sei bem como isso funciona.

A diferença era que para mim, sexo sempre tinha sido só sexo e eu sabia que o que Millie tinha com Romeo ia muito além daquilo. Eu só não sabia se estava mesmo disposto a descobrir tudo, meu sangue fervia só de imaginar.

-Ela disse que não está apaixonada por ele, não disse? -Jack indagou, empurrando meu ombro para chamar minha atenção.

Eu não o entendia.

-Qual é a sua Jack? Uma hora você me motiva a desistir, encarar as coisas como elas são, depois você faz tudo ao contrário.

Vendo minha reação, ele jogou o cigarro para fora da varanda e respirou profundamente.

-No começo eu achava que ela não gostava de você. Mas depois de tudo o que eu já vi... Não sei cara, mas acho que gosta sim. Não estou dizendo de que forma, nem sei se o que você sente também é de verdade, mas há algo mais no jeito que ela te olha. Ela confia em você.

-Ela confia até a página dois. Confia que vou pagar a dívida e que vou proteger ela e o Robert, mas acaba aí. Ela já deixou muito claro que entre nós nada vai acontecer.

Ele gesticulou com a mão, indicando silenciosamente que eu me acalmasse. Eu não havia percebido, mas estava praticamente gritando com ele.

-Só acho que ficar enchendo sua cabeça com isso não vai levar vocês dois a lugar algum. Talvez você tenha razão e eu esteja vendo coisa que não existe, mas dá um tempo a ela. Como você disse, tudo é muito recente.

Eu balancei minha cabeça negando aquilo, mas na verdade eu só estava cansado daquele assunto. Cansado de tudo.

-Eu deveria fazer o mesmo que ela. Sair por aí, pegar a Iris antes dela ir embora. ela está afim de qualquer forma.

-Para, agora você está sendo ridículo. -Jack resmungou, me empurrando em uma reprimenda. -Tudo isso parece ser ego da sua parte. Você estava tão acostumado a ter qualquer uma aos seus pés e agora que foi rejeitado quer dar o troco.

Aquilo realmente me irritou. Me fez chegar ao limite que eu já sabia estar perto. Jack era meu melhor amigo, porém tínhamos passado dez anos longe um do outro e odiei a forma como ele me julgou.

-Você está dizendo que não a amo de verdade? É isso? Acha que só quero sexo e acabou?

-Parece que sim. É só escutar o que você acabou de dizer. -Ele rebateu, sem parecer nenhum pouco assustado comigo.

Eu não havia falado sério. Iris me atraia tanto quanto uma pedra, mas eu não estava disposto a dar explicações. Eu não devia aquilo a ninguém, muito menos a ele.

-Para onde você vai? -Jack me parou quando fiz menção de voltar para casa.

-Ficar longe de você. De repente foi uma má ideia e você realmente deveria ter ido embora junto com a sua família. Eu não preciso de mais alguém para colocar merda na minha cabeça.

Retirando meu braço de seu alcance, eu me livrei dele. Com passos violentos voltei para casa deixando-o sozinho na varanda.

Eu não queria uma briga, Jack havia feito mais por mim do que minha família inteira junta, mas foi mexer em um assunto que não devia. Um lugar doloroso que era difícil para mim lidar naquele momento.

Voltei para o quarto e a primeira coisa que notei foi a cama completamente arrumada, mas vazia. Meu coração disparou ao perceber que Millie já não estava mais lá. Estava pronto para sair a sua procura quando vi a porta do banheiro se abrindo e ela passando por ela.

-Ah! -Exclamou, assustada ao me ver parado do outro lado do quarto. -Eu não sabia que estava...

-Porque está acordada uma hora dessas? -Aflito, eu não a deixei terminar.

Millie puxou o cabelo molhado para o lado com a toalha e abaixou a cabeça.

-Desculpe, eu costumo acordar cedo e..

-Não... Tudo bem. -Respirei, controlando aquela raiva que já não fazia mais nenhum sentido sentir. -Eu só me assustei porque não te vi na cama. Dormiu bem?

Por alguma razão eu não consegui me aproximar mais. Continuei parado perto da porta olhando para ela. Estava usando calça jeans e camisa branca, um dos muitos conjuntos de roupas que minha mãe havia comprado.

-Dormi. Essa cama é muito confortável. -Ela deu um sorrisinho tímido. Passou a mão por cima da colcha macia da cama. -Acho que nunca dormi tão bem para ser sincera.

Ela parecia triste ao adimitir aquilo. Mais uma vez.

-Agora vai dormir bem todos os dias. -Eu também sorri, contente com a possibilidade de lhe proporcionar qualquer conforto.

Millie suspirou e sentou-se na beirada, enrolando a toalha com a mão sobre o colo. Ela não fazia ideia do quanto estava linda, mais linda do que ontem. O rosto lavado, cabelo úmido, os lábios ainda vermelhos por causa do frio da manhã. Eu estava muito fodido.

-Sobre isso.... Realmente não acho justo que você durma no chão e eu na cama. Ela é sua.

-Nossa. -Corrigi, conseguindo dar um passo para mais perto. -Eu já disse que não me incomodo em dormir no chão.

-Então porque levantou tão cedo? Eu duvido que tenha conseguido dormir direito nesse chão. -Rebateu, apontando o amontado dos lençóis e travesseiros sobre os quais eu havia me deitado.

-Eu consegui dormir. Só que tive um pesadelo. -Fechei os olhos na esperança de não lembrar.

-Pesadelo... -Ela repetiu, como se não acreditasse. -Eu gostaria que dormisse na cama, por favor.

-Nada disso. -Insisti, balançando a cabeça. -Você fica na cama, ou...

-Ou? -Indagou, com curiosidade.

Chegando mais perto eu me sentei ao seu lado.

-Se eu dormir na cama, você dorme comigo.

Millie abriu os lábios, chocada. As bochechas ficando subitamente avermelhadas.

-Voce quer dormir comigo?

Ah, você não faz ideia.

-Quero que você durma na cama, então se você não quiser que eu fique no chão terá que dormir comigo. É isso ou nada muda, você dorme na cama sozinha e eu no chão.

Ela franziu o cenho e o pequeno nariz mexeu, estava contrariada. Olhou para trás, para a cama onde estávamos sentados.

-Eu nao posso. -Disse baixinho.

-Ah... Olha só, essa cama é muito grande, cabe nós dois perfeitamente. -Eu brinquei, percebendo tarde demais que ela se afastou com um olhar assustado no rosto. -Eu não vou tocar em você, Millie.

-E-eu sei. -Gaguejou, sem nenhuma segurança ainda mantendo a distância entre nós

Eu levantei da cama me sentindo mais confuso do que nunca e agora com uma espécie de mágoa que eu não entendia.

-Você acha que eu vou te forçar a alguma coisa? Acha que eu faria isso com você ou com qualquer outra pessoa? -Indaguei, frustrado.

Millie sacudiu a cabeça várias vezes me dizendo que não.

-Não é isso. Sei que você não tentaria. -Afirmou um pouco mais segura, enfatizando a palavra. -Só que dormir juntos...

-Você pode me dizer não, Millie. É simples. Cada vez que não quiser alguma coisa é só dizer não. -Sem paciência eu a cortei.

Ela olhou como se não me entendesse. Como se nunca tivesse ouvido aquilo antes na vida, como se... Ninguém nunca tivesse lhe dado opção de dizer não.

Percebendo que eu havia notado seu espanto, ela levantou, passando por mim rapidamente indo até a penteadeira.

-Eu tenho que me arrumar para a aula.

-Aula? -Eu a segui, olhando a forma urgente que ela tinha de escapar do assunto. -Você tem três dias de licença por causa do casamento.

-Eu sei. A Sra Torres me disse. -Respondeu, ainda sem me olhar penteando os cabelos de forma apressada.

-Então? Porque ainda quer ir se tem tempo para ficar em casa?

Ela parou com a mão no ar. Virou para mim e mexeu a cabeça.

-Essa não é minha casa. Não importa o quanto você diga que tudo isso é meu também, não é e eu não quero. Além disso eu sou bolsista, não posso faltar aula atoa.

Bolsista? Claro que era.

-Vou pagar a sua mensalidade. Você não precisa mais de bolsa para estudar. -Eu decidi, indo de encontro com sua mão lhe retirando a escova.

-Estou quase terminando o ano. Consigo manter minha bolsa até o final. -Protestou, querendo pegar a escova de volta mas conseguiu apenas que eu a agarrasse, prendendo-a contra mim.

-Você quer ir para a escola para ver ele, não é?

Não importava o quanto eu tentava não me importar. Aquele ciúmes e a raiva sempre saiam vencendo. Era obvio. Romeo jamais poderia entrar em nossa casa, a única chance que ela teria de ve-lo seria na escola.

Millie cerrou os lábios com raiva, mas por incrível que pareça, não tentou se desvencilhar de mim.

-Eu só quero estudar. -Disse com firmeza, seu olhar digladiando com o meu.

Me apeximei mais, fazendo com que nossas testas se tocassem.

-Mentirosa. Porque mente tanto para mim? Porque não admite logo que é apaixonada por ele?

O que eu vi em seu olhar foi diferente do que eu esperava. Não era raiva. Era mágoa. Do tipo profunda, que eu não sabia como tinha causado.

-Me solta. -Com o empurrão que me deu, eu a soltei. -Você acha que pode me pressionar desse jeito? Quem te deu o direito de cobrar qualquer coisa de mim?

-Ah... Você. Você me deu quando aceitou se casar comigo! -A lembrei, levantando sua mão para lhe mostrar a aliança.

Estava feito. Se eu queria não demonstrar, tinha ido por água abaixo.

-Esse casamento não é nada para mim. -Ela disse, magoada, pontuando cada maldita palavra.

-Pois bem. -Murmurei, fingindo que a raiva era maior do que a dor que eu sentia por dentro. -Para você pode não significar nada, mas para todo mundo aqui significa. Então pare de lutar contra mim e aceite. Nós dois vamos fazer uma viagem, aproveitar o tempo que você tem de licença.

-Viagem? Você ficou louco! -Millie gritou, enlouquecida com a ideia que eu sinceramente nem tinha pensado a respeito.

Tudo o que eu pensava era que eu ia evitar que ela o visse, nem que tivesse que obriga-la a fazê-lo, nem que fosse para obter ainda mais o seu ódio. Eu aceitaria qualquer coisa.

-Estamos em lua de mel, acha que não vão achar estranho que a gente não faça uma viagem? -Insisti, sendo o mais ranzinza que eu conseguia ser.

Ela caiu na minha. Vi pela forma que hesitou ao responder.

-Você quer viajar para onde? E você não me disse nada disso antes, está inventando isso agora.

Era verdade, mas eu não me importei.

-Vai ser rápido, só pelos três dias. Não vamos muito longe. -Apontei, tentando rapidamente pensar para onde leva-la.

-Finn, eu tenho aula...

-Eu já disse que isso não vai ser problema. Você não vai mais precisar ser bolsista.

Fui até o nosso closet, lembrando que as malas que eu havia trazido da Califórnia ainda estavam guardadas em algum lugar lá dentro. Com passos rápidos Millie me seguiu.

-Você não pode me afastar do Romeo. Já prometi que ele não vem aqui, o que mais você quer? -Ela perguntou irada, enquanto eu abria uma porção de portas.

Eu sabia que estava agindo feito louco. Feito um maldito tóxico ciumento e que ela me odiaria pelo que estava fazendo, mas eu não podia negar o sangue. Não era isso que meu pai sempre falava? No final das contas eu era um Wolfhard e não aceitaria perder.

-Você fala como se fossemos ficar fora para sempre. São só três dias, logo você volta correndo para os braços do maluquinho outra vez.

Ela se calou com minhas palavras, eu soube ali que tinha exagerado. Quando olhei para trás a encontrei de braços cruzados e cabeça abaixada. 

Porra. O que eu estava fazendo?

-Millie...

-Não. -Ela me parou, quando tentei toca-la. Os olhos já estavam cobertos por lágrimas de novo. -Fique longe de mim.

E saiu, me deixando sozinho no maldito closet.

--

Millie

Quando saí do closet, eu quis sumir. Mas parei ao chegar no quarto. Para onde eu iria? Eu estava presa, cercada por todos os lados por pessoas que só queriam me machucar não importava a forma.

Finn tinha feito de novo o que ele sempre fazia. Me dava poder de escolha só para retirar de mim o mais rápido que pudesse. Sendo honesta comigo mesma, eu não me importaria de fazer uma viagem para fingir estar em uma lua de mel feliz, eu só queria que ele tivesse conversado comigo antes e não ter agido por impulso por saber que eu encontraria Romeo no colégio.

Suas acusações, mesmo que fossem infundadas eram um peso grande demais para que pudesse suportar. Ele não fazia ideia do quanto me magoava ao insinuar que eu estava apaixada por Romeo, que mantinha aquela relação por gostar ou apenas para irrita-lo.

Ele dizia que me amava, mas não fazia a menor ideia do que era estar na minha pele. Não se colocava em meu lugar e não tentava me entender, embora boa parte daquilo eu soubesse que era culpa minha. Se eu explicasse... Não. Eu não podia.

Sem ter mais para onde ir e não suportando ficar no mesmo lugar que ele, eu saí do quarto e vagarosamente desci as escadas. Queria ir para o jardim, onde sabia que estaria sozinha. Por ser cedo a casa parecia vazia, perfeita para que eu saísse sem ser notada.

-Tentando fugir, Millie?

Parei ao tocar na maçaneta da porta, ao escutar aquela voz que veio de algum lugar atrás de mim e que eu infelizmente reconhecia muito bem de quem era.

Me virei rápido por instinto e vi Simon parado no alto da escada, vindo do outro lado do corredor onde provavelmente ficava seu quarto. Ele me encarou sabendo muito bem a forma afetada em que me deixava, começou a descer bem devagar.

- A discussão lá dentro parecia muito animada, então porque não fala nada agora? O gato comeu sua língua? -Indagou, quando eu não respondi nada.

Ele havia escutado a briga com Finn. Congelada, eu não consegui me mover, nem mesmo engolir o nó da garganta para responder qualquer coisa. Enquanto ele se aproximava, era como se cada parte de mim fosse morrendo aos poucos.

-Sabe... Eu estava pensando, não vi Romeo no casamento, vocês não são mais amigos?

Meus olhos se arregalarem ao escutar sua pergunta e eu estremeci  minha mente inevitavelmente se encheu novamente com as lembranças.

-Sim. Somos amigos. -Engoli em seco, com minha garganta rasgando e minhas costas batendo contra a porta quando dei o último passo para trás.

-Ah, que maravilha. -Ele sorriu de um jeito doentiu, cruzou os braços enquanto me analisava. -Formavamos uma equipe e tanto não? Poderíamos repetir...

-Deixe Romeo em paz, por favor. -Implorei, apavorada, meu corpo inteiro doendo só com a imaginação.

Ele riu do meu desespero, nitidamente se divertindo com o que estava vendo.

-Não venha me dizer que ele não gostava. Ele gostava, você também.

Cerrei os olhos com força e parei de respirar totalmente quando vi o homem levantar a mão para tocar meu rosto.

-O que você está fazendo?

A voz de Finn foi o que me fez abrir os olhos de novo, por cima do ombro de Simon o vi descendo as escadas olhando para nós dois furioso.

-Nada. Estavamos conversando. Millie parece assustada, vocês estavam brigando não estavam? -Simon se afastou, olhando para o sobrinho.

Finn por sua vez olhava para mim, com o cenho franzido desconfiado, como se me perguntasse se estava tudo bem.

-Não é da sua conta. -Ele cuspiu, sem encarar o tio. Veio até mim e ficou entre nós dois. -Você estava saindo?

-Ia até o jardim. -Falei baixinho, aliviada com sua presença e pelo fato de não ter ouvido nada. 

Ele ergueu as sobrancelhas e assentiu ao segurar minha mão. Em seu rosto eu não via mais a mesma raiva de antes, ele parecia arrependido. Mesmo que fosse só fingimento por estar na frente de Simon.

-Vamos tomar café da manhã. Depois te levo para dar uma volta lá fora, pode ser?

Eu assenti, minha mão suada se prendendo a sua com ainda mais força. Não importava o quanto brigassemos, em momentos como aquele eu só tinha a ele e me sentia segura ao seu lado.

Finn se virou e eu me encolhi atrás dele quando ficamos na frente de Simon que agora assistia a cena com atenção.

-Não chegue perto dela de novo. -Finn avisou, ainda com a mão fechada na minha.

Simon bufou, depois revirou os olhos, desdenhando de Finn.

-Eu só queria ajudar. Quem estava brigando com ela era você e não eu.

Finn tentou chegar mais perto do tio, só parou porque eu me mantive parada, puxando sua mão de volta.

-Eu já disse que não é da sua conta. Se chegar perto dela de novo...

-O que está acontecendo aqui?

Mais uma vez olhei para cima, agora era Mary que havia parado em cima das escadas.

Finn esfregou o rosto com a mão livre e grunhiu.

-Nada. Está tudo bem você não está vendo? -Ele soou irritado.

Nem ao menos esperou que sua mãe ou Simon dissesse alguma coisa. Saiu me puxando consigo em direção a sala de jantar da casa onde o café da manhã já estava sendo servido na mesa.

-O que ele queria com você? -Ele indagou, assim que ficamos sozinhos no outro cômodo.

-Nada. -Respondi automaticamente. -Só perguntar da briga.

Ele mordeu o maxilar e balançou a cabeça parecendo agitado.

-A gente tem que parar com isso. Estamos chamando atenção demais. -Falou baixo, com medo de ser ouvido por eles da sala. -Primeiro minha mãe, agora Simon, daqui a pouco todo mundo descobre a verdade.

-Sua mãe? -Daquilo eu não sabia.

Finn esticou o pescoço por cima de mim verificando que ainda estávamos sozinhos e assentiu.

-Ela me disse que você não está feliz com o casamento. Falou que...

-Por favor diga. -Insisti quando ele hesitou.

-Ela disse que te tirou dos braços do Romeo antes do casamento.

Assustada, eu dei um passo curto para trás.

-Não foi assim que aconteceu.

-Mas foi o que pareceu. -Ele ponderou, tentando inutilmente esconder a irritação.

Me calei ao ver uma empregada surgir com mais comida e esperei até que ela saísse de novo.

-Nós estávamos nos depedindo, Finn.

Ele deu de ombros para mim e sentou em seu lugar à mesa.

-Porque não acredita em nada do que eu digo? -Eu indaguei, de pé atrás dele, odiando a forma como estava me ignorando.

O ouvi suspirar, mas não recebi resposta alguma. Alarmada pelos passos lá fora se aproximando, eu engoli minha raiva e me sentei do seu lado. Mary entrou na sala de jantar e analisou a nós dois desconfiada, mas não apenas isso. Só ali notei que seus olhos estavam inchados, como se tivesse chorado muito antes de dormir.

As palavras de Finn vieram em minha mente e eu fiquei tensa. Mary estava desconfiada do nosso casamento e era culpa minha. Aquilo me fez arrastar um pouco a cadeira para mais perto dele e eu alcancei sua mão por cima da mesa levando-a até meus lábios e beijando.

Ele tentou disfarçar, mas eu percebi seu choque, a forma como abriu os lábios sem saber o que dizer me olhando com misto de confusão e ternura.

Mary pigarreou chamando nossa atenção e só então paramos de nos encarar e eu abaixei nossas mãos sobra a mesa. Se ela percebeu que havia sido uma farsa, disfarçou.

-Cade todo mundo? -Finn perguntou quebrando o silêncio. Servindo minha xícara e e dele de café.

-Seu tio foi cuidar de algumas coisas na cidade. Victoria deve estar dormindo ainda e seu pai... -Ela abaixou a cabeça ao hesitar. -Seu pai acordou indisposto, vai tomar café na cama.

Finn me encarou com o rosto preocupado. Dava para notar que a indisposição do barão era pela doença e aquilo não parecia nada bom.

-E a Maddie? -Ele voltou a perguntar, fingindo não ter escutado a informação sobre seu pai.

-Esta com Eric. Os dois estão conversando. -Mary levou a xícara até os lábios, mas desistiu antes de tomar o primeiro gole. -Esta chegando a hora Finn.

Senti um embrulho no estômago quando ela disse aquilo. Finn largou a xícara de cafe e soltou minha mão para segurar o queixo rígido parecendo incapaz de falar alguma coisa. Notei a tristeza assolando o ambiente. A certeza de que Eric agora tinha cada vez menos tempo. Não me senti bem com a notícia, pelo contrário, fiquei mal como se fosse culpa minha, uma intrusa desajustada naquele lugar, especialmente porque não havia nada que eu pudesse fazer ou dizer.

-Vou falar com ele. -Finn avisou ao levantar afastando a cadeira da mesa. -Você fica. Coma alguma coisa.

Eu, que estava pronta para levantar, assenti, entendendo que ele precisava fazer aquilo sozinho.

Quando Finn saiu eu olhei para a infinita refeição que tinha na minha frente, mas não consegui comer nada além de tomar alguns goles de café.

-Seu pai algum dia vai voltar a andar, Millie?

Encarei Mary, surpreendida pela pergunta repentina quase cuspindo de volta na xícara.

-Os médicos disseram que não. O dano no cérebro foi irreversível por causa do veneno. -Expliquei, tentando não pensar em meu pai e no nosso último encontro.

Ela assentiu, não parecia feliz com aquele fato, apenas... Curiosa.

-Ao menos ele vai viver. Com limitações, mas ainda vivo.

Percebi o verdadeiro sentido daquela afirmação e neguei com a cabeça.

-Acho que não adianta muito estar vivo mas depender de uma máquina de oxigênio, sem poder se mover, sair do lugar, sem poder fazer nada sozinho.

Mary ergueu as sobrancelhas para mim sem esperar que eu dissesse aquilo.

-Seu pai fez mal a muitas pessoas.

-Então ele merece? -Não sei o que deu em mim, mas eu a enfrentei.

-Mais do que o Eric, sim. -Ela também não se retraiu.

Eu abaixei a cabeça enquanto a sacudia. Duvidando que ela soubesse que Eric queria matar meu pai. Se eu pudesse... Teria contado. Não apenas para defender meu pai a quem eu sabia que era culpado, mas para que ela visse que não adiantava apontar o dedo para alguém e não olhar para o próprio umbigo.

-Eu não quis ofender. -Mary soltou um suspiro exausto. -É só... Que é difícil ver meu marido definhando, parece injusto.

Era estranho, mas eu podia jurar que ela não o amava apesar de tudo. Sempre que vi os dois juntos havia um clima pesado dentre eles, como se Mary temesse qualquer ato que viesse do marido. Porém eu entendia a sua tristeza, ela poderia não ama-lo, mas era seu marido, pai de seus filhos.

-Eu sinto muito. -Falei baixinho, inevitavelmente me sentindo tocada.

-Sente? -Ela contestou, como se não acreditasse. -Você teria motivos para não sentir.

-Mas eu sinto. Não fico feliz com o sofrimento alheio, principalmente porque sei que Finn sofre por causa do pai.

Mary balançou a cabeça, negando aquilo.

-Finn mudou muito, Millie. Você está conhecendo ele agora, mas ele está totalmente diferente do que já foi um dia.

-Esta dizendo que ele não ama o barão?

Ela parou com a boca aberta, como se de repente não soubesse a resposta para a pergunta.

Não precisou manter a expressão por muito tempo, pois logo mais alguém entrou na sala. Maddie, com o rosto inchado,lavado de lágrimas.

-Querida, o que aconteceu? -Mary levantou depressa, foi de encontro com a filha e abraçou.

Maddie olhava duramente para mim, ainda respirando de forma agitada e violenta como se me ver aumentasse sua dor. Eu não entendi, estávamos nos dando tão bem...

-Venha, vamos para o jardim.

Mary passou o braço em torno do ombro da filha e a levou em direção a porta grande de vidro que separava a sala de jantar do restante da casa.

Eu me encolhi naquela cadeira, agora sozinha na sala e com um pressentimento muito ruim dentro do peito.

-O clima hoje está meio pesado aqui, não acha?

Mais uma vez outra voz soou da porta. Olhei naquela direção vendo Iris entrar novamente parecendo uma modelo de revista. Aquela hora de saltos altos, cabelos bem penteados, calça colada e camisa um pouco curta demais. Eu nem me lembrava que ela ainda estava na casa.

-Ter alguém doente é muito complicado. Você sabe o que está acontecendo?

Iris se serviu de torradas e leite e maneou a cabeça.

-Uma crise. Há dias bons e ruins para o barão. Digamos que hoje estamos nos dias ruins. -Explicou ela, enquanto lambuzava a torrada com a geleia de morango.

Sua resposta me aliviou apesar de tudo. Eu tinha achado que o homem estava morrendo. Sentei-me melhor na cadeira e soltei um suspiro baixinho.

-Como foi a noite de núpcias, Millie? Deu para aproveitar? Você está com uma carinha cansada.

Constrangida, eu a encarei de novo. Ela me olhando de volta como se aquela fosse a pergunta mais normal do mundo.

-Foi boa. -Eu me limitei a dar um sorriso forçado, esfregando o ponto específico da minha nuca debaixo do meu cabelo ainda úmido.

Iris sorriu, levou a ponta do dedo sujo de geleia para os lábios e chupou.

-Aposto que sim. -Ela riu, agora balançando a cabeça. -Se por acaso realmente tivesse acontecido alguma coisa.

Minha testa se encrespou perante a ironia de suas palavras.

-Eu não entendi?

-Ah, você sabe... -Ela mexeu as mãos, como se a resposta fosse meio óbvia. -Estou dizendo que você e o Finn não fizeram nada.

Senti o sangue sumir do meu rosto e minha respiração ser ceifada de vez. Como ela poderia saber?

-Acho que você não sabe do que está falando.

Bebi mais café, com a esperança de manter meus olhos longe dos seus e minha boca fechada.

-Ah, sei sim. -Rebateu, apontando aquilo com muita certeza. -Sei que vocês tem um acordo.

Com meu choque, quase derrubei a xícara sobre a mesa, por pouco consegui segura-la.

-Finn falou isso?

-Não precisou. É tão obvio que esse casamento é uma farsa...

-Não é. Não sei do que está falando. -Eu a cortei, angustiada. Me levantei da mesa.

-Não vou contar para ninguém, Millie, se esse é seu medo. -Ela levantou também, me parando quando fiz menção de sair da sala. -Só... Não iluda ele demais, vai fazê-lo sofrer muito por causa disso.

Eu realmente parei, agora encarando a forma séria como ela me olhava, como se estivesse me culpando por aquilo. Minha mente voltou no tempo, para o dia em que Finn apareceu com ela na minha casa logo depois que ele havia dito que me amava. A forma como me destratou, como foi embora, com ela.

-Vocês dois ficaram? -Me peguei perguntando aquilo. Algo latejando com força na minha mente.

Iris deu um sorriso esquisito, mas logo balançou a cabeça.

-Não. Porque ele não quis. -Respondeu, deixando bem claro aquela última parte. -É por isso que estou dizendo para você não o iludir ainda mais porque... Bem, você não está deixando-o viver.

O alívio que senti por saber que os dois não tinham ficado não durou muito. Me peguei com aquelas últimas palavras e detestei o que senti. A culpa.

-Sinto muito Iris, mas você está enganada. -Eu estava desesperada para me defender. -Finn quer a mim da mesma forma como eu o quero e por isso ele não quis ficar com você.

Ela ficou impressionada com minha resposta, nenhum pouco retraída ou envergonhada.

-Então faça valer a pena querida, porque um dia ele vai cansar de esperar. -Chegou mais perto, falando aquilo baixinho na minha frente. -Pode não ser comigo, o que realmente é uma pena, mas com qualquer outra. E depois... Você não pode dizer que eu não te avisei.

Dizendo aquilo, ela deu um sorriso falso para mim depois me deu as costas e saiu na mesma direção que Mary tinha levado Maddie antes. Assim que me vi sozinha, levei a mão ao peito com dificuldade de respirar, sentindo algo desconhecido começar a me corroer por dentro.

Detestei os meus próprios pensamentos. As imagens ilusórias de Finn beijando Iris da mesma forma que havia feito comigo mesmo ela me garantindo que não tinha acontecido.

A aflição formou um bolo gelado em meu estômago que pesou embora estivesse vazio. Voltei para a sala e corri de volta para o quarto, ia para debaixo do chuveiro para tentar dispersar aquela agonia da minha pele, mas parei quando vi Finn sentado na cama inclinado sustentando os cotovelos nos joelhos que tremiam ao ponto de seus pés baterem no chão.

-Finn... -Chamei sua atenção, percebendo que ele não tinha dado sequer conta da minha entrada.

Ele ergueu a cabeça e ao me ver, pareceu mais calmo.

-Oi. Você está bem? Comeu alguma coisa? -Perguntou alvoroçado, vindo ate mim completamente ansioso.

-Sim..estou bem. -Garanti, deixando que ele tocasse meus ombros. -Seu pai...

-Eu já conversei com ele. -Me cortou e se afastou, sentando de novo na cama inquieto.

Eu hesitei, fechei a porta atrás de mim e respirei fundo. Não sabia o que tinha acontecido, mas dado seu comportamento estranho, não havia sido bom

-Você quer conversar? -Indaguei, ainda sem me mover do lugar.

Ele parou de me encarar e deu de ombros, apontando com a mão o lugar na cama ao seu lado.

Quando me sentei ficamos em um estranho silêncio. Até que ele começou.

-Desculpa por ter gritado. Eu não posso te impedir de ir para a escola, nem exigir que faça uma viagem comigo.

Pela forma como me olhava, eu soube que estava sendo sincero. Arrependido. Mas não era aquilo que eu esperava ouvir.

-Tudo bem. -Assenti, comecei a cutucar o esmalte do canto da minhas unhas. -O que seu pai falou para você? Maddie saiu chorando do quarto.

Eu não sabia se ele queria falar sobre o assunto. E aquilo me preocupava.

-Assinei os documentos da herança. Ele vai deixar tudo para mim, quer dizer, já deixou. -Pareceu resignado ao dizer aquilo.

Ao invés de me sentir feliz por nosso plano ter dado certo para ele, eu fiquei triste. Com uma sensação de vazio dentro de mim.

-Ele está bem?

Finn pareceu surpreso com a pergunta. De tão exausto passou a mão pelo cabelo e suspirou.

-Eu não sei. Acho que sim, mas não por muito tempo.

Assenti, entendendo, mas sem condições de dizer nada a respeito. Era naqueles momentos que eu sentia nossas diferenças diminuindo. Finn vivia magoado com o pai, as vezes com raiva, mas como eu, não podia deixar de ama-lo. Era uma contradição dolorosa. Ruim demais e impossível de assimilar.

De repente, ele não suportou mais. Levantou da cama e correu as duas mãos sobre os cabelos, andando de um lado ao outro.

-Eu achei que ia ser fácil. Mas, porra! Não é! -Vociferou, a voz gritada reverberando até nas paredes. -Ele vai morrer, vai morrer e eu não posso impedir. Ele não quer fazer tratamento!

-Finn, se acalma. -Inutilmente, eu tentei para-lo, mas ele parecia incontrolável.

-Tudo o que ele quer saber é de dinheiro. De vingança e de dinheiro! E não importa o que eu diga, isso nunca vai mudar! -Continuou berrando enlouquecido, pondo para fora o que parecia estar lhe sufocando a muito tempo. -E tem a merda desse casamento. Você me dando patada vinte e quatro horas, querendo me afastar quando a única coisa que eu preciso e quero é ficar com você. Por causa do plano? Não! Porque eu te amo, caralho!

Quando terminou, estávamos frente a frente de novo. A respiração furiosa que ele expelia batendo contra meu rosto me fazendo sentir na pele a raiva e a dor que purgavam dentro dele.

Eu parei. Chocada demais. Vencida mais uma vez por aquela declaração que parecia sempre surgir nos piores momentos. Nunca era algo natural, todas as vezes que eu ouvia e Finn falava era como se isso fosse arrancado dele. Como se Finn pouco a pouco já não conseguisse mais suportar o peso que aquelas palavras faziam em seu coração perturbado.

Eu não podia dizer nada. Não conseguia encontrar as palavras, minha cabeça havia ficado em branco. Totalmente perdida.

-Porque você não consegue me amar? -A pergunta soou doída quando ele a fez. -Porque ninguém consegue?

-Isso não é verdade. -Consegui murmurar entre as golfadas de ar que minha boca soltava ao tentar respirar direito. -Você é amado. Sua família te ama... Eu...

Fui calada por um beijo. O beijo.

Seus dedos apertaram meu cabelo por trás, pressionando nossos lábios juntos sem me dar chance de pensar, de reagir. Mas eu não queria reagir. Eu não ia. Pela primeira vez em muito tempo desde que tínhamos começado aquele acordo, eu senti a necessidade de não parar. De isolar o medo e culpa para uma parte profunda do meu cérebro até elas serem esquecidas para sempre. Ou só pelo momento em que aquilo durasse.

Minhas pernas estavam fracas, tudo vindo muito depressa e ao mesmo tempo. A sua raiva. A minha mágoa. Os nossos problemas. Tornava tudo mais intenso, mais desesperado. Como se brigassemos juntos pelo último bote salva-vidas em meio a tempestade, mesmo sabendo que apenas um sobreviveria.

Toquei seus braços sentindo os músculos rígidos sob o casaco enquanto ele explorava minha boca. A dele macia, quente, cheia de desespero e de urgência em obter cada um dos meus suspiros.

Senti-me estremecer por completo, uma chama abrasadora detonando tudo que havia dentro de mim, me derretendo inteira.

Os braços fortes me abraçaram com força, uma força que eu deveria temer por ser maior do que a minha, mas a qual eu sabia que jamais me machucaria. Pelo contrário. Finn me tirou do chão, me fez agarra-lo pelos ombros quando senti minhas pernas voluntariamente abraçando sua cintura.

Com dois passos em meio aquele beijo ele encontrou a cama nas minhas costas e lentamente se deitou sobre mim.

Os alertas ressurgiram em minha mente confusa. Os clarões das lembranças de ser violentada insistindo em me fazer recordar aqueles momentos. Tentei fugir. Me entregar para o que eu tanto queeia, mas eu era amaldiçoada por eles. Mesmo quando eu não deveria ter medo. Eu tinha. Ele sempre estava lá. Em qualquer lugar que eu estivesse.

Finn soltou nossos lábios e desceu a boca sobre meu pescoço, o corpo pressionando o meu me mostrando a força com a qual ele me desejava.

Ele arrastou as mãos pela lateral do meu corpo, a mão quente entrou em contato com minha barriga por baixo da blusa e foi onde o fogo se transformou em uma enorme pedra de gelo. Eu travei as pernas. Meus olhos se fecharam com tanta força que eu enxerguei cores ao invés da escuridão. Minha mente se partindo em mil pedaços.

-Meu anjo... -Finn sussurrou sobre meus lábios, retirando a mão de onde estava para segurar meu rosto. -Olhe para mim.

Eu não queria. Não queria ver a decepção e não suportaria ouvir as perguntas que viriam.

Suavemente senti beijos ao redor do meu rosto. Cada um deles retirando aquele pânico, retirando a tensão que havia me paralisado.

-Me desculpe. -Ele disse, ao beijar minhas pálpebras fechadas.

Senti que seu corpo ia me deixar e surpreendendo a nós dois, eu segurei sua mão antes.

-Não. -Abri os olhos, levei minha mão até o colar que pendia de seu pescoço e o puxei mais para perto. -Me leve para longe daqui. Vamos fazer a viagem.

Eu não sabia de onde tinha surgido aquilo. Mas eu simplesmente precisava estar em qualquer lugar com ele contanto que fosse longe dali. Longe daquela casa. De Romeo. Do barão. De Simon. Nem que fosse apenas pelos três dias eu tinha que experimentar aquilo. Tinha que saber o que era ser amada. Por ele. Apenas por ele.

Finn ficou surpreso com minhas palavras, mas logo sua expressão se tornou aliviada, se desanuviou. Sua mão encontrou com a minha em seu colar e ele apertou junto ao seu peito ao encostar nossos lábios uma última vez.

-Vamos fazer às malas. 


Notas Finais


Quero surrrrtoooo kkkkkkkk


Até breve ♥️😚


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