"Minhas paredes estão se fechando. Sem um senso de confiança. Estou convencido de que há pressão demais para aguentar. Eu já me senti desse jeito antes, tão inseguro... "
Finn.
Alguém poderia estar tentando fazer algo contra nós.
A desconfiança que por vezes soava exagerada e paranóica não saia da minha cabeça por mais que eu tentasse achar que não passava daquilo. Uma paranóia. Contudo, nunca fui dado a ignorar minha intuição e tudo o que ela me dizia era para me manter esperto diante os fatos.
Se qualquer outra coisa tivesse sido levada de casa eu poderia ter esquecido. Deixado passar. Mas não uma arma. Não uma arma que estava trancada dentro de um cofre que até o momento do furto eu achava que somente eu sabia o segredo e possuía a chave. Claramente eu estava errado. Alguém não só também sabia, como tinha levado algo que só tinha um único claro propósito: Machucar e matar pessoas.
Perdi noites em claro tentando pensar em um rosto. Tentando imaginar a cena, mas nada me vinha. Poderia ser qualquer um desde um empregado até mesmo alguém que tivesse frequentado o escritório depois da morte do meu pai. Aí a lista de tornava cada vez maior e a certeza cada vez menos distante.
Também movido pela intuição, resolvi adquirir uma nova. Algo me dizia que eu precisava me resguardar e esse foi o único jeito que encontrei de me sentir mais seguro, preparado caso algo ruim acontecesse.
Inicialmente, Millie não entendeu isso. Minha intenção era de não contar a ela nem a ninguém, porém descobri que ela havia me espionado e me visto guardando a arma no cofre.
Eu havia reparado que ela tinha ficado estranha comigo por alguma razão, talvez pela forma como eu havia tratado-a no escritório, mas ela só foi abrir o jogo comigo a noite quando nos preparavamos para dormir.
Deitei primeiro em nossa cama esperando que ela saísse do banho e quando ela saiu usando apenas um roupão e se encaminhou para o closet sem me dizer uma palavra que fosse, resolvi ir atrás dela, descobrir o que tanto estava perturbando sua cabeça e a deixando chateada comigo.
Parei na porta vendo-a sentada no banco da penteadeira secando o cabelo com uma toalha. Ela me deu um olhar enviesado e voltou a se encarar pelo espelho fingindo que eu nem mesmo estava presente.
-O que aconteceu? -Indaguei, sabendo que já não podia mais ignorar seu comportamento. -Se foi pelo que aconteceu no escritório...
-Não é nada. -Me cortou sem paciência, levantando-se e indo atrás de uma prateleira buscar provavelmente a camisola para se vestir.
Interceptei seu caminho ficando entre ela e o armário, a obrigando a me encarar.
-Você está chateada comigo. -Disparei movendo-me para impedi-la de alcançar sua roupa atrás de mim.
Millie bufou. Estava irritada e sem paciência. Esfregou o rosto com a mão e depois me encarou bem séria.
-Porque comprou outra arma?
A pergunta me deixou livido. Não fazia a menor ideia de que ela sabia, então minha primeira ação foi entrar na defensiva.
-Você estava me espionando? -Perguntei igualmente sério para ela.
Millie achou graça sem humor, sacudiu a cabeça e foi para a frente da penteadeira novamente.
-Não é essa a questão.
-Pois eu acho que é sim. Se eu não te contei e você está sabendo é claro que andou xeretando o que não devia!
Através do espelho ela me encarou incrédula com minha acusação. Eu me senti infantil na mesma hora e respirei fundo, assumindo que fazer aquilo não iria ajudar em nada.
-Me sinto mais seguro sabendo que tenho como me defender se alguma coisa acontecer. -Fui sincero, embora estivesse vendo que aquela não era uma boa desculpa para ela.
Millie se virou de frente para mim e apoiou as mãos atras do corpo na mesa da penteadeira. Seu olhar era questionador e preocupado.
-Você sabe que isso é loucura. O que pode acontecer?
Dei de ombros, novamente me achando sem sentido, mas ainda teimoso demais para admitir.
-Eu não sei. -Confessei, suspirando alto. -Roubaram a arma do meu pai então tem alguém armada perto de nós. Só achei que...
-Você precisa parar com isso. -Millie veio até mim e segurou meu braço. -Ninguem vai fazer nada contra nós e o furto da arma não significa nada. Que motivos alguém teria para tentar fazer qualquer coisa desse nível?
Balancei a cabeça, sem saber o que responder e de novo me sentindo um bobo perante a sua tão alta confiança.
-Acho que essas coisas não são mera coincidência. Pensei nisso por muitos dias e pode ser qualquer coisa. Você não parou para pensar que alguém pode ter descoberto sobre o que meu pai fez com o asilo e agora está tentando sei lá... Buscar vingança?
Não era um pensamento infundado. Muitas pessoas haviam morrido na explosão, muitos familiares. E isso não era algo fácil de alguém esquecer.
Millie também pensou naquilo. Notei pela palidez que tomou sua pele e pelas sobrancelhas erguidas em alerta, mas ela logo anuiu, como se se convencesse do contrário.
-Não tem como alguém ter ficado sabendo disso. Apenas eu, você e sua mãe estamos sabendo a verdade.
-Kelly também. -Especulei, de imediato.
Millie franziu o cenho, me contestando e então se afastou.
-Ela contou apenas para mim....
-Você não tem como ter certeza. -Peguei eu seu braço, fazendo-a me encarar. -Você e ela se encontraram duas vezes. Hoje e naquele dia, nesse espaço de tempo o que ela ficou fazendo o que aqui em Stoney Fork? Presa no hotel?
A peguei se surpresa. Millie ficou sem palavras, parecendo confusa e agitada.
-Não estou acusando-a de ter contado para mais alguém, apenas quero que você entenda que tudo é possível e que tudo isso não aconteceu atoa.
Millie sacudiu a cabeça, ainda atordoada com minhas palavras, mas mais do que isso, ela estava em negação.
-Isso não explica a arma ter desaparecido de dentro de um cofre pessoal aqui em casa. Uma coisa pode não ter nada a ver com a outra!
Assenti em concordância, mas estava mais preocupado em acalma-la do que disposto a enveredar por aquela discussão. Cheguei mais perto e pus as mãos em seus ombros, sentindo-a tensa e inquieta.
-Tudo bem, pode não ter nada a ver, posso estar exagerando e com paranóia, mas é só uma arma. Ela vai ficar lá dentro guardada e você e eu vamos fazer como antes, esquecer que ela existe. Sim?
Millie soltou um suspiro desgostoso e fez que não com a cabeça.
-Como se fosse possível. -Falou dando de ombros, depois me encarou. -Eu não gosto da ideia de que tem uma arma guardada aqui. Gosto menos ainda de você ficar falando que é para proteção porque isso quer dizer que você a usaria se achasse necessário..
Fiquei em silêncio. Não consegui dizer nem que sim nem que não, pois até ali não tinha parado sequer para pensar em usá-la, embora o objetivo fosse aquele. O medo que Millie sentia era palpável, me fez regredir e me afastar dela me sentindo em conflito.
-Você quer que eu me livre dela? -Millie ficou branca, sem me responder. -Porque se te incomoda tanto eu posso tirar daqui.
Eu faria. Não me sentiria nenhum pouco seguro em fazer isso, mas por ela eu faria. Minha declaração teve o efeito oposto ao que eu queria e ela pareceu confusa em dúvida.
-Eu queria. -Confessou baixinho. Depois respirou fundo e me encarou. -Mas se você fica melhor sabendo que ela está aqui, eu acho que... Posso lidar com isso.
Não era o que eu esperava ouvir, então não tive uma resposta exata para dar a ela que não um gesto lento de cabeça, assentindo.
Millie se aproximou de mim e segurou meu rosto com as mãos, levando-o mais para baixo e para perto do dela.
-Mas quero que me prometa que não vai fazer nada sem pensar. Que nem vai chegar perto daquilo se não tiver uma necessidade.
-Prometo. -Falei sem hesitar, encostando nossas testas. -E quero muito que não tenha mesmo uma necessidade. Você pode não acreditar, mas eu não gosto de precisar ser assim, na verdade odeio qualquer coisa que me faça parecer com meu pai, mas em algumas questões eu não consigo ser diferente, eu...
-Não. -Millie me silenciou, colocando o indicador sobre meus lábios. -Você não é igual a ele em absolutamente nada. Você está assustado, eu entendo, mas isso não te torna nenhum pouco parecido com ele.
Sua afirmação me desconcertou, mas ainda não foi o bastante para que eu sentisse alívio. Millie via meu melhor mesmo quando eu achava que já não tinha nada de bom em mim. Era uma situação fodida. Queria que as pessoas soubessem que o barão que elas tanto admiravam e amavam era na verdade um genocida e um torturador, mas sabia que dizer a verdade já não teria qualquer benefício. Meu pai já estava morto e apenas nós íamos sofrer as consequências. Isso era injusto, mas também um peso grande demais para suportar.
Aquela era minha sina. Pagar pelos erros do meu pai, me tornar responsável por minha família e por uma cidade que foi vítima nas mãos de alguém que tinha o mesmo sangue que coirria em minhas veias.
-Não mereço você. -Falei, segurando o rosto dela também. Desesperado para que aquele conflito acabasse de uma vez. -Meu pai quase destruiu sua família inteira e você continua aqui comigo.
Millie deu um sorriso triste e roçou o nariz docemente no meu.
-Exatamente. Continuo aqui com você. Porque você não é culpado por nada, assim como eu também não sou. Nós vamos superar isso, você vai ver.
Eu queria poder ter a confiança que ela possuía, mas era difícil. Era difícil imaginar um dia em nossas vidas em que aquelas coisas não seriam mais uma questão entre nós.
Aproximei-me mais dela colando seu corpo com o meu. Louco para dispersar aqueles sentimentos, louco para esquecer deles, mas fiz tudo com calma, querendo também apreciar o momento.
Primeiro sorvi o cheiro gostoso de seu rosto, esfregando meu nariz e lábios contra sua pele enquanto apalpava cuidadosamente seu corpo por cima do roupão macio que ela usava. Tudo nela se encaixava em minhas mãos. Era como se fosse inteiramente moldada para mim. Achei graça sem humor, com aquele pensamento. Me dando conta do quanto eu era egoísta. Eu reconhecia que não era bom para ela, mas tampouco isso me fazia pensar em abrir mão de ficar com ela.
Millie franziu o cenho ao me ver achando graça. Tocou meu rosto como se quisesse me trazer de volta para o momento. Ela delimitou a linha superior dos meus lábios e levou minha mão até seu ombro. Fiquei vidrado com aquele movimento, especialmente quando ela foi deslizando nossas mãos juntas, afastando o roupão para relevar a pele nua ali embaixo.
Parei, impactado com o momento em que o roupão simplesmente caiu no chão sobre seus pés, deixando-a inteiramente livre de qualquer barreira entre nós.
-Quero você. -Murmurou ela, enquanto deixava a palma da minha mão descansando sobre o meio dos seus seios.
Antes de reagir ou dizer qualquer coisa, encarei a garota na minha frente. A vulnerabilidade de seu corpo em contraste com o desejo que eu via em seus olhos. Millie havia perdido parte de sua timidez, mas sempre havia um ar de receio nela quando estava daquela forma. Nua na minha frente. Era como se ela lutasse internamente contra o medo. Mas medo de que? De mim? Eu não sabia.
-Alguem já te machucou? -Indaguei de repente, verbalizando o que passava em minha mente.
Ela claramente não esperava pela pergunta. Perdeu o fôlego e pestanejou. Seu corpo oscilou e de novo o que vi foi medo.
-Não. -Disse, sem nenhuma segurança. -Porque... Porque está me perguntando isso?
Tranquei o maxilar e sacudi a cabeça. Eu não conseguia sequer imaginar qualquer pessoa machucando-a porque isso me fazia perder a cabeça. Talvez fosse apenas mais uma das minhas muitas paranóias e eu tinha que parar com isso.
-Por nada. -Falei, quando consegui afastar o pensamento da mente. -Esqueça.
Toquei em seu rosto e a segurei pela nuca, fazendo-a vir para mim, calando nossas bocas.
Inicialmente, ela ficou tensa. Talvez ainda confusa pelo tom da pergunta que soltei de repente, mas logo estava rendida ao meu beijo, a carícia que eu fazia em suas costas e na raiz de seus cabelos macios e um pouco úmidos ainda.
O efeito de nossos beijos sempre foram abrasivos. Capazes de apaziguar e causar o caos ao mesmo tempo. O combustível que me fazia reviver cada vez que achava que estava pouco a pouco morrendo por dentro.
Meu corpo se incendiou como uma descarga elétrica potencializada pela fome e pelo tesão que se acumulava em minha pele ao sentir sua rendição. Sua entrega total para mim.
Empurrei-a devagar contra a penteadeira apoiando as mãos embaixo de suas pernas enquanto Millie se equilibrava em cima do móvel fazendo os objetos que estavam na superfície se espatifarem no chão tamanho o nosso desespero.
Ela agarrava os meus ombros arrastando as unhas por cima da camisa com uma força capaz de me fazer sentir minha pele queimar mesmo ainda estando completamente protegida pelo tecido. Me pressionei contra ela, gemendo em deleite ao saborear seus lábios e chupar sua língua macia.
Senti o calor dela me envolver. Seu cheiro tomar todos os meus sentidos como uma droga. Jamais tinha provado nada igual aquilo. Mesmo na adolescência onde tive oportunidade de experimentar entorpecentes, bebidas e mulheres, nada poderia se comparar ao efeito que ela e apenas ela detinha sobre mim.
Meu pau estremeceu dentro da calça, enrijessido de tão forma que chegava a ser doloroso pelo prazer represado durante todos aqueles dias.
Me afastei apenas o suficiente para encara-la por um segundo e confirmar que ela desejava aquilo tanto quanto eu, depois me abaixei de novo desferindo beijos molhados em seu pescoço. Minhas mãos inquietas a estimularam pela frente, tomando os seios pequenos inteiramente, massageando delicadamente os picos até senti-los durinhos e pesados, quase como meu pau se encontrava naquele momento.
A encarei novamente. Nós dois ofegantes, trocando mensagens implícitas de amor e confiança pois era aquilo que o sexo entre nós significava. Seu rosto possuía uma leve camada de suor, as bochechas rosadas pelo calor, os olhos castanhos quase em chamas. Jamais havia me sentido tão apaixonado por ela em toda minha vida.
-Você é linda pra caralho, meu anjo. -Falei, moendo meu corpo contra o dela. Puxando seu lábio inferior com os dentes. -E é toda minha.
Ela gemeu em resposta. Incapaz de juntar qualquer palavra que fosse.
Juntei os dois seios nas mãos e os devorei de uma vez só com a boca. Ela choramingou ao sentir o contato da minha boca úmida com a sua pele fervente. Os sons de prazer dela fazendo com que choques atingisse diretamente meu pau.
Abocanhei os mamilos rosados e perfeitos. Chupando a pele, mordendo apenas o bastante para que ficassem ainda mais sensíveis e ela ficasse ainda mais louca com a minha tortura. Jogou a cabeça para trás, as mãos quase rasgando meu couro cabeludo ao se emaranharem em meus cabelos.
Fui descendo os beijos através de seu colo para sua barriga. Arrastando a língua e os lábios por cada centímetro de pele que encontrava, fixando o sabor em minha memória, a textura macia de sua pele em meus dedos.
Agarrei as laterais de seus quadris e a mantive presa na borda da mesa. Uma posição de entrega total, deixando à vista o corpo dela para que eu aprecisse. E eu aprecisava. Poderia quase sempre agir como se estivesse no comando, mas era ela quem detinha o maior poder.
Bati com os joelhos no chão, como o escravo de bom grado que eu era, e afastei suas pernas, as apoiando abertas em meus ombros. Ela girou a cabeça para trás, tentando se esconder, embora estivesse tão louca com aquilo como eu me sentia.
-Olhe para mim. -Murmurei, resvalando os lábios na parte de dentro de suas coxas.
Ela estremeceu com meu comando, mas apoiou-se nos cotovelos e ergueu aquele rosto maravilhoso para me encarar.
Sem tirar os olhos dos dela, aproximei os lábios e beijei suavemente o pequeno montinho acima da boceta. Ela quis fechar os olhos pela antecipação ao prazer, mas se esforçou para manter o olhar no meu.
Chupei devagar os lábios molhados e inchados, sorvendo o líquido que escorria de dentro dela para mim como se fosse a porra da coisa mais gostosa que eu já tinha experimentado na vida. E era. Tanto que guardava na memória aquele sabor. O néctar poderoso que ela produzia quanto estava latejando de tanto tesão daquela forma.
Suguei com precisão o feixe de nervosos tensos e aquilo a levou a loucura. Suas unhas arranharam minha cabeça, os pés tremiam ao redor dos meus ombros. Quase gozei apenas com a imagem, com os sons de seus gemidos baixinhos e pelas sensações, mas não parei. Fui até o fim, lambendo-a de cima a baixo, a fodendo com minha língua, esmagando o clitóris até que ela se desfez.
Seu corpo ondulou por cima da bancada, as pernas ficaram trêmulas querendo se fechar contra minha cabeça e eu sorvi o líquido produzido pelo seu gozo matando minha fome dela quase que completamente.
Ainda sofrendo com os espasmos, minha garota queria mais. Com a mão em meus cabelos me puxou para cima tomando minha boca para beijar, me fazendo compartilhar com ela o sabor de sua deliciosa seiva.
Meu pau enrijesseu ainda mais, latejando dolorosamente em sua prisão. Ele tocou a parte de baixo da minha camisa forçando-a para cima. Parei suas mãos em meu peito.
-Quero comer você na cama. -Murmurei o pedido contra seus lábios.
Ela assentiu timidamente com minhas palavras, mas gemeu quando pressionei seu corpo com o meu ao tirá-la de cima da bancada.
Fomos nos beijando até a cama onde a deitei de barriga para cima. Nenhuma posição por mais milaborante que fosse se comparava àquela. Seu corpo sob o meu onde eu podia ver seu rosto e assistir suas reações de perto enquanto entrava dentro dela. Os cabelos enormes espalhados sobre a cama onde estávamos presentes a fazer amor.
Me ergui e fiquei de pé a fim de me despir, mas parei quando ela se sentou e tomou para si a missão de retirar minha camisa. O tecido passou por minha cabeça e ela ficou parada encarando meu peito nu carregando apenas o colar com o sol que eu nunca tirava. Aquele pingente tão simples sempre parecia hipnotiza-la, tinha o mesmo efeito que o colar de lobo e anjo que ela usava tinha sobre mim. Eram nossas marcas. Nossas identidades unidas muito mais do estavam na aliança em nossos dedos.
Millie aproximou o rosto do meu peito, as mãos descendo por minha barriga e me beijou. O choque dos lábios molhados contra minha pele escaldante foi enlouquecedor. Puxei o ar entre os dentes, perdendo a cabeça enquanto ela me beijava ao redor dos mamilos, através da minha barriga, explorando-me de um jeito que jamais tinha feito antes.
Só que de novo eu vi hesitação em seu olhar quando ela parou com os lábios próximos ao elástico da minha cueca. As mãos ficaram duras nos meus quadris e ela não se mexeu mais. Apenas respirava. Tinha uma coisa errada. Uma coisa doidamente errada.
Millie já havia me visto de todas as formas possíveis, já tínhamos transado diversas vezes, mas em nenhuma delas ela me tocou intimamente, fosse para me masturbar ou para me chupar. Eu nunca a forçaria se seu problema fosse a timidez ou o receio, mas eu sentia que não era. Era uma espécie de medo. O mesmo medo que vi em seus olhos quando indaguei se ela já tinha sido machucada alguma vez.
Peguei suas mãos nas minhas e tirei-as do local onde estavam. As levei para meus lábios e beijei cada um de seus dedos.
-Se você não quiser mais...
-Não. Por favor. -Ela implorou, me puxando para perto. -Eu só... Não consigo fazer isso. Ainda. -Disse, apontando para baixo, para meu membro duro dentro da calça.
Senti vontade de acabar com tudo e procurar entender o porquê, mas entendi que não era o momento, nem sabia se ela sequer me responderia. Tentei ignorar a preocupação em minha mente e eu mesmo despi minha calça junto com a cueca. Seus olhos me fitaram intensamente e ao contrário de suas ações, não tinha repulsa na forma como me olhava. Apenas admiração e desejo. O medo era do toque.
Deitei-me em cima de seu corpo reparando se havia algum outro tipo de sinal que me fizesse parar, mas ela me recebeu de bom grado. Me agarrou como se não suportasse a distância e me beijou enquanto eu entrava dentro dela.
Sua vagina ainda latejando devido aos últimos orgasmos apertou meu pau tão deliciosamente que minha mente saiu do ar, esqueci de tudo e apenas me fartei naquele incomensurável prazer.
Juntamos nossas mãos acima de sua cabeça e eu arremeti com força dentro dela, fazendo subir e descer contra o colchão.
Mantive os movimentos controlados quando percebi que não duraria muito, a fim de que pudesse controlar meu prazer. Deixei a cabeça entre seus seios, no lugar onde podia ouvir seu coração enquanto me unia a ela e ela acariciava meus cabelos e costas.
Ficamos assim por um longo tempo. Saboreando o corpo um do outro em movimentos curtos, lentos e cadenciados. Uma dança tão ritmada e perfeita que eu me sentia exultante, como se só ali tivesse um pouco da sensação do que era estar em casa.
Beijei seus seios com cuidado, o colo, o pescoço e voltei para sua boca. Com o beijo eu e ela despertamos daquele transe calmo e segurei suas coxas gostas ao meu redor. Millie se ajeitou para que eu fosse mais fundo e eu fui, tocando-a em um ponto interno que a fez estremecer de prazer. Com a pulsação nervosas de nossos sexos, gozamos quase ao mesmo tempo. Ela arranhando minhas costas, eu devorando sua boca entre arquejos e grunhidos de prazer.
Foi o orgasmo mais longo e exaustivo da minha vida. Mesmo depois de ter me esvaziado completamente ainda estava sobre o efeito dilacerante dele. Respirando ela. Sentindo nossos corpos relaxarem juntos.
Millie me abraçava. Não me soltava nem por um segundo que fosse, nem mesmo para conseguir respirar direito sem o meu peso. Eu também não queria me soltar dela. Não queria que o dia amanhecesse e os problemas voltassem. Só queria passar a eternidade naquela paz que apenas ela me fazia sentir.
-Não desiste de mim. -Murmurei, baixinho antes de ceder ao cansaço e adormecer em seu colo.
Não antes de ouvi-la sussurrar um "nunca" e beijar meu rosto.
--
Na manhã seguinte acordei com o barulho insistente da chamada do meu celular ecoando em algum lugar do quarto. Era cedo, dado que ainda mal se via a luz do sol e Millie ainda dormia tranquilamente em meus braços. Tentei ignorar o ruído, esquecer e aproveitar mais algumas horas ao seu lado na cama, mas assim que uma chamada caia, outra começava logo em seguida.
Amaldiçoei baixinho e me esgueirei para fora da cama sem fazer nenhum alarde para que Millie não acordasse. Coloquei apenas um short limpo jogado por cima da poltrona e fui atrás do maldito aparelho que zunia aquela melodia infernal. O encontrei no closet perto de um dos armários e o número que insistia em me ligar nem mesmo estava registrado na minha lista de contatos. Aquilo soou estranho, mas eu atendi, curioso e irritado por estar sendo perturbado logo cedo da manhã.
-Esse telefone é do senhor Wolfhard? -A voz era de um homem do outro lado quando atendi. Possuía um sotaque forte caipira, até então desconhecido para mim.
-Sou eu. Quem é?
O homem suspirou de alívio audivelmente ao receber minha resposta.
-Eu sou Manfred. Nós não nos conhecemos ainda, mas sou capataz aqui da sua fazenda de Louisville. Estou tentando entrar em contato com o senhor desde cedo.
-Percebi. -Acabei soando arrogante, mas logo franzi o cenho estranhando o restante que ele havia falado. -Esta tudo bem? Porque está me ligando?
Houve um forte barulho de vento na ligação. Um ruindo tão alto que me fez afastar os ouvidos do telefone.
-Na verdade não está. -Ele falou novamente, quando o barulho enfim sessou. -Ja tem alguns dias que a polícia vem aqui para fazer a investigação sobre o incêndio e eles estão me enfernizando com perguntas sobre a propriedade que nem os meus homens nem eu conseguimos responder. Estamos sem ninguém da sua família por aqui, então...
-Espere. -Sacudi a cabeça, aturdido com tantas informações. -Como assim não tem ninguém da minha família aí? Simon viajou de volta a Louisville já tem uma semana!
-Simon? -Ele indagou, muito surpreso. -Não senhor. Ele saiu daqui para passar o feriado em casa, mas não voltou ainda.
Parei. Sem acreditar no que estava ouvindo. Aqueles fatos sendo totalmente sem sentido. Lembrava bem de Victoria dizendo com todas as letras que Simon havia saído para voltar para a fazenda. Senti o sangue esquentar ao constatar que aquilo era a porra de uma mentira deslavada. Espiei pela porta, Millie continuava a dormir.
-Pois ele disse que estava voltando. Ele não ligou avisando sobre isso? -Mesmo que fosse óbvio, me obriguei a dar o benefício da dúvida.
O homem que parecia confuso e agitado, negou.
-Não. Também tentei ligar para ele antes, até porque ele é quem está sendo responsável por essa área, mas não consigo contato desde que ele foi embora antes do feriado. Eu descobri seu número, então resolvi ligar direto para o senhor.
Que porra. Se Simon não estava na droga da fazenda dele onde o desgraçado estava enfiando durante a semana inteira. Era impossível raciocinar perfeitamente naquele momento, mas juntando àquilo ao desespero de Victoria ao sair de casa depois de sua partida, só poderia significar que meu tio estava fazendo uma merda astronômica. Fechei os punhos, contendo a fúria dentro de mim. Me controlando para tentar achar ao menos uma solução para a questão.
-O que a polícia está tentando fazer por aí? -Indaguei, já procurando uma camisa dentro do armário.
-Muita coisa. Todos os dias eles vem, trazem aquele cães farejadores e coletam amostras na plantação incendiada, mas agora estão querendo os documentos da fazenda, querem saber desde quando seu pai é dono daqui, querem conversar com alguém da sua família. Se não aparecer ninguém por aqui eles vão interditar tudo e temos dezenas de pessoas que não vão ter onde morar. Estamos sem saber o que fazer!
-Se acalme! -Pedi, vendo que o homem parecia descontrolado. -Consegue segurar as pontas por mais algumas horas? Vou dar um jeito nisso.
-Ah, graças a Deus! O senhor vai mandar alguém vir então?
Fiz uma pausa para colocar a camisa e para pensar. Além de Simon, não havia qualquer pessoa da minha família ou de confiança que eu pudesse mandar para lá. Com Jack viajando, eu não tinha a porra de uma escolha.
-Não. -Falei, colocando o celular novamente nos ouvidos. -Vou pessoalmente.
Manfred quase chorou em agradecimento antes de eu mais uma vez pedir que se acalmasse e encerrar a ligação.
Deixei Millie dormindo na cama e desci. Minha mãe estava ajudando Beth a colocar a mesa para o café da manhã e eu a confrontei de imediato.
-Você não tem falado com Simon desde que ele foi embora?
Ela e a empregada se viraram assustadas com o tom da minha voz soando atrás delas depois que apareci na porta. Mary franziu o cenho, negou com a cabeça.
-Tentei ligar algumas vezes, ele não me atendeu. Achei que fosse devido a falta de sinal na fazenda. -Balancei a cabeça, e ela ficou preocupada. -Porque? Aconteceu alguma coisa?
-Aconteceu! Recebi agora a ligação de um funcionário desesperado precisando dele por lá e ele me disse que Simon Simplesmente não aparece na fazenda desde antes do feriado!
Ela ficou pálida. Estupefata e sentou na cadeira com um baque pelo choque.
-Não... Não pode ser, Victoria disse que...
-Eu sei o que ela disse, mas ou ela mentiu para nós ou foi enganada também. Simon não voltou para Louisville. -A cortei, altamente irritado.
Ela pestanejou. Levou as mãos ao rosto mortificado e suspirou.
-Meu Deus.... Como isso é possível? Será que aconteceu alguma coisa com ele no caminho?
Só naquele momento, considerei a possibilidade de um acidente. Sentei-me na cadeira a fim de pensar, mas as coisas não batiam.
-Ja estaríamos sabendo se fosse isso. As estradas até lá não são tão desertas assim. -Parei ao pensar em mais uma coisa.
Simon desparece no mesmo momento em que a minha arma também some de casa... Mas não. Uma coisa não batia com a outra. Simon era ex-policial, se estivesse metido em problemas não teria nenhuma dificuldade em conseguir uma arma.
-Voce acha que ele foi embora? -Mary perguntou, me vendo afundado em pensamentos. -Não sei, ele pode ter ficado sobrecarregado com tantas coisas, os problemas com a fazenda, Victoria e o bebê.
A encarei, incrédulo que ela pudesse estar expressando pena por ele.
-Acha que isso é motivo para largar tudo e ir embora? Desde que cheguei não tive um dia de paz aqui nessa cidade, estou atolado com todo tipo de coisa pra resolver e você nunca me viu esmorecer nem querer ir embora daqui. Se for isso, Simon não passa de um tremendo covarde e ele vai ter que voltar para arrumar as merdas que deixou, estou cansado de fazer isso no lugar dele! -Explodi, fechando as mãos em punhos sobre a mesa..
Estava furioso, mas acima de tudo exausto de ter que assumir responsabilidades que não eram minhas. Do meu pai eu tolerava, mas do meu tio, que jamais tinha feito qualquer coisa por mim, não iria tolerar.
Mary assentou devagar com a cabeça, depois pegou o celular.
-Vou tentar falar com a Victória novamente. -Ela ia discar o número, quando olhou para mim. -E você? O que vai fazer em relação a fazenda?
Peguei a xícara com o café que Beth havia me servido e bebi um pouco do líquido quente, querendo que o calor da bebida me apaziguasse por dentro.
-Vou ter que ir para Louisville ver isso. Não é justo deixar aquelas pessoas desamparadas. A polícia de lá não é como a daqui, eles não vão hesitar em interditar e expulsar os moradores de lá.
Ela concordou, sem esconder que não achava uma boa ideia, mas vendo que eu não tinha outra escolha.
O barulho de passos na escada me alertou a presença de Millie e ela logo apareceu na porta da sala de jantar. Havia colocado um vestido verdinho claro, escovado os cabelos para trás e com certeza lavado o rosto, mas ainda estava com aparência leve de quem tinha acabado de levantar da cama.
Como era perceptiva, logo notou o clima esquisito rondando os ares e franziu o cenho ao me encarar.
-Bom dia. -Ela veio até mim e beijou a lateral do meu rosto, deixando um rastro gelado pela recém escovação em minha pele. -Esta tudo bem?
Apenas concordei com a cabeça e indiquei o lugar para que ela sentasse ao meu lado.
-Olá, Victoria, querida. Queria falar com você. -Minha mãe disse, parecendo ter conseguido o contato por telefone. Ela levantou da mesa. -Com licença, já venho.
Millie acompanhou com um olhar curioso a sua saída da sala e logo se direcionou para mim novamente.
-Finn, o que aconteceu? -Foi mais incisiva. -Você não me acordou.
Fatiei para ela um pedaço de torrada e coloquei sobre seu prato.
-Me ligaram cedo. Era um homem responsável pela fazenda de Louisville. -Expliquei, arrastando o prato até perto dela.
Millie ergueu um pouco as sobrancelhas e levou a torrada para os lábios.
-E o que mais? Aconteceu alguma coisa por lá?
Eu hesitei, sabendo que ela ficaria preocupada, mas não havia porque esconder a verdade uma vez que eu teria que fazer aquela viagem de qualquer jeito.
-Não sei ao certo o que está acontecendo, mas Simon não foi para lá quando foi embora daqui naquele dia.
Ela parou de mastigar quando me ouviu. Pareceu ficar perdida por um instante, processando minhas palavras.
-Hum. Ele não foi para a fazenda. -Repetiu, forçando-se a engolir. -Onde ele está então?
-Ninguem sabe. -Falei como se esse fato fosse irrelevante, apenas para não acabar demonstrando toda minha raiva. -Acontece que eles precisam de alguém lá para resolver as questões do incêndio, vou ter que ir já que Simon não está por aqui.
Millie olhou para mim como se esperasse que eu dissesse que estava apenas brincando. Quando percebi que eu não iria dizer, ela perguntou:
-Posso ir com você?
Sorri, reparando que ela nem ao menos iria contestar minhas razões para ir, simplesmente queria ir comigo.
-Adoraria ter sua companhia. -Toquei sua mão por cima da mesa e ela sorriu, mas acabei me lembrando de mais alguns detalhes. -Porem não acho que você deva ir. Vou ficar muito ocupado e além disso o sinal de telefone lá parece ser ruim, você ia acabar perdendo a ligação da faculdade sobre a bolsa que pediu.
Ela abriu bem os olhos, como se só ali tivesse lembrado daquilo.
-Então você vai, mas não volta ainda hoje? -Indagou baixinho, receosa.
Maneei a cabeça, incerto.
-Se o processo for igual ao da fazenda de Miracle acredito que não. Pelo que sei, Simon está sem ir lá a muitos dias então eu preciso orgazinar as coisas, deixar tudo em ordem para poder voltar.
Ela não disfarçou que aquilo a incomodava, mas se esforçou para me dar um sorriso a fim de me apoiar.
-Tudo bem. Fico aqui com Mary. Sei que você só está fazendo isso porque não tem outra escolha e eu não quero atrapalhar.
-Você não atrapalharia mesmo se tentasse. -Me aproximei dela e beijei seus lábios, agora com uma mistura de salgado das torradas com o doce do café. -Me ajuda a preparar uma mala?
Ela suspirou, mas assentiu prontamente, me dando a força que eu precisava para resolver os problemas.
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Millie
-Tente me ligar sempre que der, por favor. -Avisei a Finn quando o acompanhei para o carro que lhe esperava.
Havíamos arrumado uma mala em apenas quinze minutos e passamos o resto de uma hora inteira apenas nos beijando e tocando. Eu tinha a ligeira, mas impossível de ignorar, sensação de que aquilo de fato se tratava de uma despedida.
-Vou fazer isso. -Ele afastou uma mecha do meu cabelo para trás e me beijou ternamente. -E vou fazer de tudo para voltar logo também.
Assenti mediante sua promessa, mas havia um aperto no meu peito que eu não sabia identificar o motivo. Talvez fosse pela surpresa de sua viagem tão em cima da hora, talvez fosse pelo fato de que Simon havia fugido e deixado aquela responsabilidade sobre ele. Talvez fosse a saudade já me machucando mesmo que ele ainda nem tivesse ido. Eram muitas coisas para escolher apenas uma delas.
-Mãe, por favor, não esqueça de ficar tentando ligar para Simon, ele tem que dar as caras uma hora outra. -Avisou ele para Mary que também nos acompanhava.
Ela concordou, sem tirar do rosto a expressão preocupada que possuía.
-Faça boa viagem, filho. Dê um jeito de avisar se chegou bem em Louisville.
Os dois se abraçaram por poucos segundos. Mary com mais vontade, enquanto Finn parecia estar na defensiva. Ele estava distante dela desde que descobriu sobre seus segredos, mas beijou seu rosto ao se afastar.
Deu a volta no carro e guardou a mala lá dentro, depois retornou ao meu encontro e me abraçou pela terceira vez.
-Vou sentir sua falta. -Sussurrou em meu ouvido, antes de desferir um beijo contra meu pescoço. -E quando voltar vamos comemorar sua bolsa na faculdade.
Achei graça, mas não estava nem um pouco animada com aquilo como deveria estar.
-Eu amo você. -Falei, pegando seu rosto entre as mãos. -Volte para mim. Você é tudo o que tenho.
Ele deu um sorriso, os olhos cheios de emoção com minha declaração se fecharam e ele beijou a pontinha do meu nariz ao me agarrar.
-Vou voltar sempre.
Nos beijamos mais uma vez, mas agora sem reservas. Foi um beijo de tirar o fôlego mesmo estando na presença de Mary. Senti tudo. Seu corpo próximo ao meu. Sua respiração. Seus lábios esmagando os meus gentilmente, mas ainda com firmeza. Só que não durou pelo tempo que eu queria. Ele se afastou rápido demais e apenas me deu mais um selinho antes de acenar para a mãe e entrar dentro do carro.
O aperto em meu peito apenas piorou quando o motor foi ligado e quando o carro saiu, logo sumindo de vista se tornado apenas um pontinho prata na estrada que o levava para fora da propriedade.
Senti uma mão em meu ombro e me virei para ver Mary também acompanhando a partida do filho.
-Ele vai ficar bem. Finn sabe se virar.
Eu assenti, mas não concordava com ela e como nas poucas vezes que tive coragem, fui sincera com ele.
-Ele não precisava fazer isso. Não é responsabilidade dele tomar conta daquela fazenda, foi por isso que Eric a deixou para Simon e não para ele.
Mary enrugou a testa, estranhando minha ousadia e retirou a mão do meu ombro.
-Tenho certeza de que Simon tem uma boa razão para não ter ido até lá, e você como esposa do Finn deveria apenas apoia-lo e não ficar chateada com o fato de que ele está indo só porque sentirá falta dele.
Balancei a cabeça, mas nem sequer estava chocada. Aquilo era mesmo algo que Mary pensaria e falaria. Não me surpreendia.
-Irei sentir falta dele, mas não é essa a razão que me preocupa. Me preocupa que meu marido mal tenha tempo de cuidar dos próprios problemas para ainda ter que lidar com os dos outros. Finn é humano, Mary, eu não sei como você ainda não percebeu isso.
Não lhe dei chance de me responder e saí rumo a casa. Me sentia de mau humor, chateada e triste com toda aquela situação acontecendo do nada e realmente não era por apenas sentir falta dele, mas porque Finn estava tentando carregar o peso do mundo todo sobre os ombros e uma hora aquilo iria faze-lo ceder.
Foi assim que me senti durante os dois primeiros dias em que ele partira. Tirando alguns poucos minutos em que ele conseguia sinal para me ligar, passei quase todas as horas sem qualquer notícia vinda de lá a não ser pelo que ele me dizia.
A polícia realmente estava obstinada com a tarefa de atrapalhar seu retorno. Eles queriam evacuar a área incendiada para começar o processo de investigação individual com cada um dos moradores próximos. Finn estava lutando para não permitir que as pessoas sofressem com aquilo. Insistia que eles não deveriam se preocupar com os moradores e sim em procurar o verdadeiro culpado já que o incêndio de Miracle também tinha sido alvo de um crime.
Mas lá, ele pouco tinha influência como a que detinha aqui em Stoney Fork, fazendo com que todo o trabalho fosse redobrado.
Nos poucos minutos de conversa em ligações péssimas, eu ainda conseguia identificar os sinais de que ele estava exausto com aquilo. Queria voltar para casa, mas a missão de proteger aqueles trabalhadores era maior e o impedia de simplesmente jogar tudo para o alto e voltar.
Eu evitava falar sobre minha animosidade com sua mãe e sobre a saudade que eu sentia para não atrapalhar seu trabalho, mas a verdade era que as coisas não iam muito bem sem ele por perto.
Na maior parte do tempo, Mary e eu nos ignoravamos, mas cada vez que partilhavamos a mesa de jantar havia uma discussão sobre qualquer coisa, especialmente quando ela insistia em defender Simon e trata-lo como se fosse um adolescente fugindo de assumir compromissos.
Fiquei por um tris de não rasgar toda a verdade. De expor o quanto seu estimado cunhado era um ser desprezível que não merecia qualquer tipo de compaixão, mas me controlei. Me mantive firme.
Sentia falta de conversar de verdade com alguém. Sem Finn por perto minha única fonte de distração era ficar com Winnie, passear com ela pela propriedade e pelo estabulo onde víamos os cavalos. Sentia falta de Skata também, me recordando com remorso que eu era a culpada pelo bichinho ter tido que ir embora de Stoney Fork para a fazenda de Miracle.
-A senhora não quer montar? -Narciso perguntou para mim, quando me viu rondando a estribaria com Winnie presa a coleira.
Olhei para aquele senhorzinho simpático e apenas balancei a cabeça indicando que não. Até sentia falta de montar, mas sem Skata eu não me sentia segura, por mais inacreditável que aquilo pudesse parecer.
-Sente saudade do barãozinho não é? -Perguntou ele sentando ao meu lado na arquibanda de madeira onde podíamos ver os cavalos. -Ja fazem quantos dias que ele viajou?
-Dois. -Falei, contendo a sem sentido vontade de chorar ao dizer aquilo. -Ele está ocupado com a fazenda de Louisville.
Narciso fechou a cara de repente e e assentiu com a cabeça.
-Aquele doido do Simon fugiu mesmo não é? Deixou o trabalho todo nas mãos do barãozinho.
Mesmo disfarçando, percebi o desprezo com o qual Narciso se referiu a Simon e aquilo me deixou intrigada.
-Mary cogitou a possibilidade de ele ter sofrido algum acidente na estrada. -Comentei, instigando uma reação sua e eu logo recebi.
-A senhora vai me desculpar, mas eu não acharia isso ruim não. -Confessou ele, um tipo de raiva tomando toda a expressão outrora simpática que ele possuía.
-Não? Não gosta dele? -Indaguei, a pulsação acelerada de poder ser sincera com alguém pela primeira vez em minha vida.
Narciso levantou-se abruptamente e acabou derrubando a bengala que usava como auxilio. Passei a corrente que segurava Winnie para apenas uma das mãos e o ajudei a pegar a bengala e se manter de pé.
-Simon não é um homem bom, filha. Já desconfiava disso tinha um tempo, mas depois que minha menina me disse umas coisas, gosto dele menos ainda! -Disse ele, purgando raiva pelos poros.
Quase soltei Winnie tamanha a surpresa que aquela afirmação me causou. Fiquei atordoada, mas lembrei de Miranda. A garotinha que tinha conhecido a meses atrás que era sua filha. Lembrei também dela chorando, dizendo que odiava todos os Wolfhards.
-O que.. o que ela disse sobre ele? -Perguntei, quase me desequilibrando em ajuda-lo a descer o último degrau da arquibancada.
Ele hesitou em continuar. Eu não sabia se tinha medo de me contar, ou apenas raiva demais ao ponto de não se conter. Na verdade ele nem precisava responder. Aquela expressão. O ar pairando seco e ardido dizia tudo que eu precisava saber.
-Ele tentou fazer com a senhora também, não foi? -Dessa vez foi Narciso que me ajudou, pois eu quase caí para trás. -Naquele dia que o Skata quase o matou de porrada no estabulo?
Em choque, com as lagrimas já escapando dos meus olhos, eu não tive outra reação a não ser assentir. Me lembrando traumatizada do momento em que Simon quase me estuprou. De novo.
-Eu sabia! -Narciso grunhiu entre dentes. -Aquela história que ele inventou não convenceu a ninguém! Maldito desgraçado!
Segurei o homem pelo braço, vendo-o perder o controle.
-Ele... Tocou em Miranda? -A pergunta escapou de mim. Estremeci apenas em pensar.
-Eu matava se tivesse tocado! -Ele apertou a bengala com toda força. -Por sorte apenas tentou, mas se tivesse tocado nela, o infeliz ia sofrer.
Não sei se meu choro foi de alívio, ou pânico, talvez as duas coisas juntas, mas eu chorei. Sentei-me no banco e chorei. O desgraçado não parou só comigo. Ele tentou de novo com outra criança e era culpa minha.
-A senhora precisa contar pro seu marido. -Narciso se sentou ao meu lado de novo e pôs a mão enrugada em meu ombro. -Eu não contei porque não sabia se iriam acreditar em mim e mandar eu e minha família embora, mas em você vão acreditar.
Encarei seu rosto me fitando. Depositando em mim a confiança de que eu abriria o jogo e nos livraria de Simon. Me senti péssima. Com um nó na garganta pois embora fosse o que eu queria fazer, eu não tinha coragem.
Anos e anos represando a verdade me deixaram com medo.
Não lhe dei uma resposta, covarde demais para contar para ele que Simon não havia tentando me estuprar. Que ele tinha feito aquilo. Por longos e horríveis anos.
Sai chorando carregando Winnie, sem coragem de encarar o homem nem lhe dar uma resposta.
Naquela noite, desesperada em meio a um pranto que não me deixou dormir, tentei ligar para Finn. Disposta a finalmente contar toda a verdade, mas a ligação nem mesmo completou avisando que ele estava sem sinal. Esperei até o dia amanhecer para tentar de novo, mas novamente não tive sucesso.
Foi no meio da manhã. Eu estava zanzando pelo quarto inquieta depois de ter chorado mais do que era capaz que meu telefone finalmente tocou. Corri, desesperada achando que fosse ele ligando, mas o número que apareceu na tela era desconhecido. Algo ruim me gelou por dentro, uma sensação de que eu não deveria atender a chamada, mas de tão aflita que estava acabei fazendo.
Nos primeiros segundos, a ligação ficou muda, eu podia apenas escutar o barulho de uma respiração ofegante e ruidoza do outro. Eu congelei e imediamente soube quem era.
-Romeo...?
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