No outro dia, de manhã, os membros estavam livres e a maioria preferiu ficar dormindo. Siwon chamou KyuHyun para ir à igreja com ele e KyuHyun veio me chamar para ir também. Eu ainda estava meio desconfortável com o que aconteceu na noite passada, mas aceitei; queria conhecer alguma igreja da Coreia.
E não me arrependi, pois era um lugar lindo e enorme, com vitrais exibindo belas imagens e uma arquitetura que tinha muita elegância e ao mesmo tempo simplicidade. As igrejas sempre me passavam uma sensação de segurança e tranqüilidade, e essa não era diferente. A missa não foi muito demorada e a igreja não estava muito cheia. Será que tinha alguma ELF lá? Se tivesse, ótimo lugar, porque assim elas não poderiam surtar quando vissem KyuHyun e Siwon. Eu sabia que tinha que me concentrar na oração, mas era um pouco difícil quando KyuHyun segurava minha mão. Como eu era idiota.
Pela tarde, o Super Junior tinha um photoshoot. Nós os acompanhamos e observamos enquanto eles se arrumavam, brincavam e faziam bagunça, ignorando totalmente as câmeras responsáveis pela exibição de Full House. Fomos falar com Heechul, Eunhyuk e Sungmin e Yesung, já que os víamos pouco. Amber ficou conversando animadamente com Heechul e Eunhyuk e Yesung, e eu e Sungmin ficamos falando de guitarra. Sim, de guitarra, por um bom tempo. Os assuntos mais aleatórios surgiram, um atrás do outro. Foi muito bom ter falado com eles. Queria poder passar mais tempo com cada um deles, mas era pedir demais. Eu estava num intercâmbio, e não numa colônia de férias.
Quando chegou a vez deles baterem fotos, eu fui me sentar para observar. KyuHyun teve alguns minutos de intervalo e estava ajeitando o cabelo. Donghae sentou-se um pouco perto de mim, esperando sua vez. Amber conversava agora com RyeoWook, do outro lado da sala. Preferi ficar apenas sentada, observando o movimento.
De repente, a porta abriu-se e eu vi a maknae Seohyun entrar timidamente, olhando em volta como se procurasse alguém. Eu nunca gostei de SNSD. Não chegava a odiá-las, mas eu não ouvia muito e não era fã. E também, já estava me acostumando a ver idols em todo canto, então nem me surpreendi muito. Mesmo assim, cumprimentei-a educadamente com uma leve reverência e ela retribuiu. Todos do lugar falaram com ela calorosamente. Parecia ser muito querida por todos.
Ela foi andando pela sala, retribuindo os acenos com um sorriso meigo. Ao ver KyuHyun, sorriu radiante e foi à direção dele:
-- KyuHyun-oppa~! – disse com uma vozinha fofa e o abraçou demoradamente.
-- Olá, SeoHyun – ele sorria e a abraçava de volta.
Odeio admitir, mas não gostei nada disso. Nem um pouco. Não gostei do tom manhoso da voz dela ao falar o nome dele e não gostei daquele abraço que, para mim, demorou mais que o necessário. Nesse momento, eu já a olhava como se eu fosse capaz de soltar raios laser pelos olhos. Eles sentaram-se e começaram a conversar animadamente. Ela segurava de leve a mão dele. Eu amolava um facão mentalmente. Uma raiva repentina surgiu e queimou minha garganta, como para me forçar a ir até lá e gritar para SeoHyun sair de perto dele. Estava com tanta raiva que meus olhos ardiam.
A raiva deu lugar à tristeza quando eu analisei melhor aquela cena a minha frente, do outro lado da sala. Ele com ela, rindo, conversando espontaneamente, abraçando-a. Como se fossem muito próximos. Eu talvez nunca pudesse agir como ela e receber o mesmo tipo de atenção. Eu nunca poderia agir como eu queria com ele e perguntar-lhe sobre todos os tipos de assunto. Sempre haveria limitações. Não poderia dizer que ele era meu amigo, pois não havia tempo suficiente para isso. O meu tempo com ele era limitado desde o começo. Havia um grande abismo entre nós. Eu sempre seria a fã e ele, o ídolo. Nada mais.
Mesmo assim, eu queria que ela ficasse longe dele. Solte a mão dele, imediatamente. Afaste-se. Eu não tinha o direito, mas ainda exigia isso. Não aguentei mais ver aquilo; a dor chegava a ser física. Virei meu rosto e fechei os olhos. Quando os abri, Amber me observava de longe, uma expressão confusa. Olhou em volta e viu SeoHyun com ele. Entendendo agora o porquê de minha expressão, ela me olhou com preocupação e tentou dizer algo, mas havia gente perto. Eu já não me importava mais se as câmeras pudessem estar gravando minha cara de enterro. Eu queria sair dali.
Donghae, que ainda estava um pouco perto de mim, virou-se e viu minha cara de pura tristeza e raiva. Olhou-me por um tempo, olhou para KyuHyun e SeoHyun e começou a vir em minha direção. Eu não fazia nada para disfarçar.
-- O que você tem? – perguntou ele, tocando meu ombro.
-- Eu? Nada, oppa. Estou bem. – tentei me manter impassível.
Ele ficou em silêncio. Olhou novamente para eles por um tempo e disse:
-- São apenas amigos. Não faça essa cara.
-- Bem, eu... – parei. MAS O QUE? Por que ele tinha falado isso para mim? Minha cara agora era de pura surpresa e vergonha.
-- O que? Você... Como vo-?
-- Não se preocupe – sorriu e afagou meu braço. E saiu.
Eu ainda estava em choque. Por que Donghae tinha dito aquilo? E esse “não se preocupe”, o que foi? Ele estava dizendo para eu não me preocupar com SeoHyun ou com o fato de ele provavelmente saber que eu... pelo KyuHyun... Socorro!
Calma. Mesmo que ele saiba de algo, Donghae é uma pessoa confiável. Depois de KyuHyun, ele era a pessoa que eu mais tinha me aproximado. Quando ele falava comigo, eu me sentia despreocupada e à vontade. Sentia-me leve. Ele me fazia bem e fazia-me se esquecer de algum sentimento ruim que eu pudesse estar sentindo. Então, eu não me importava tanto se ele tivesse percebido algo. Apesar de ser embaraçoso.
Ainda assim, eu não consegui deixar de lado o pensamento que me invadira naquela hora. SeoHyun, tão meiga e querida por todos. Eu não era bonita, graciosa e doce como ela. Eu não cativava a todos somente com o meu sorriso. KyuHyun não me abraçava daquele jeito. Eu não tinha como competir com ela. Ri amargamente.
Durante todo o trajeto para casa, enquanto todos falavam e brincavam, eu fiquei perdida em pensamentos, olhando os pingos de chuva que deslizavam pela janela da vã. KyuHyun pareceu ter percebido alguma coisa e se dirigiu a mim.
-- Aconteceu alguma coisa?
-- O que? Não, nada. Por quê?
Ele me olhou com ceticismo. Eu realmente estava péssima em disfarçar hoje.
O resto da tarde resume-se em atividades relacionadas ao programa, das quais eu participei sem vontade e mal prestei atenção. Apesar de sempre adorar as dinâmicas e joguinhos que eles sempre faziam, eu não conseguia tirar aqueles pensamentos atordoantes que me surgiram ao ver SeoHyun e KyuHyun naquela hora. Os outros tentavam chamar minha atenção de vez em quando, me tirando das divagações. Nem percebi o tempo passando. Estava tão alheia ao meu redor que me assustei quando percebi que já era noite e que não tinha mais nenhuma câmera na casa.
À noite, cada um aproveitou o tempo livre como pôde. Donghae e Leeteuk jogavam videogame de forma barulhenta. Siwon lia alguma coisa, concentrado. Ryeowook e Amber assistiam à TV e conversavam alegremente. Não sabia de KyuHyun e nem queria saber. Eu decidi ficar no meu quarto, ouvindo música e folheando umas revistas, sem interesse, para tentar me concentrar em algo que não fosse o rosto sorridente de KyuHyun em direção a SeoHyun. De repente, ouvi batidas na porta.
-- Pode entrar – disse eu, sem tirar os olhos da revista.
KyuHyun abriu e entrou no quarto.
-- O que foi? – eu disse, friamente.
-- Escuta, você não... – ele parou para escutar a música que eu estava ouvindo – O que é isso? – disse com uma expressão confusa.
-- Isso é Legião Urbana. Renato Russo. Um dos maiores nomes da música brasileira.
Ele ficou me olhando como se eu tivesse acabado de falar aramaico de trás para frente. Eu ri.
-- Que seja. Escuta, você não quer me ajudar a fazer beoseot jeongol? – seus olhos quase brilhavam.
-- Não sei fazer isso.
-- Nem eu. Vamos fazer olhando a receita.
-- Estou ocupada.
-- Tá nada!
-- Estou lendo a revista. Não perturbe.
-- Você nem entende o que está escrito aí!
Olhei para ele vagarosamente, incrédula.
-- É claro que eu entendo, Cho KyuHyun!
-- Vamos, por favor~ - disse com um tom de dar dó.
-- Tá tentando usar aegyo comigo agora?
-- Claro, todo maknae tem aegyo.
Revirei os olhos.
-- Não. Ponto final.
-- Aigoo, não seja assim~
-- Por que não chama a SeoHyun para te ajudar? – disse, um pouco mais alto que o necessário. Droga. Estraguei tudo. Levantei-me e olhei para o nada por um tempo. Com vergonha, eu o olhei rapidamente. Ele olhava para mim, confuso, com a cabeça levemente inclinada. Passou mais alguns segundos assim e depois acenou positivamente com a cabeça, devagar. Abriu a boca com um “ah~” característico de quem acabou de entender algo. Voltei a fitar o nada.
-- Entendo... Por isso estava tão estranha desde aquela hora?
Nada respondi. Estava me sentindo burra e envergonhada. Queria sair correndo. Desenhei pequenos círculos com o pé. Ele andou até mim e colocou as mãos em meus ombros. Fiquei imóvel.
-- Olha, eu e SeoHyun somos amigos. Ela esteve um tempo fora, então fazia um tempo que não conversávamos direito. Quando a encontrei, estávamos apenas falando sobre o que tinha acontecido quando ela estava fora. Só.
Por que raios ele estava me explicando isso?
-- Não precisa me explicar nada. Não é da minha conta. – disse olhando para baixo, com o tom mais frio que consegui.
-- Bem, eu não quero que fique com essa cara de enterro e essa nuvem negra pairando sobre sua cabeça, então preciso, sim.
Eu estava com uma cara tão má assim? Abri a boca para protestar, mas ele ergueu meu queixo com os dedos e disse:
-- Não chamo a SeoHyun porque quero que você me ajude.
Senti minhas bochechas queimarem. Meu coração parecia que ia explodir com aquela proximidade. Ele se afastou e disse, da porta:
-- Já estou indo. Você vem, né?
Passei alguns segundos parada para me recompor, desliguei a música e fui.
-x-
Depois de muito apanhar para a cozinha, terminamos de fazer o beoseot jeongol. Não ficou muito bom porque eu e KyuHyun éramos um desastre na cozinha. Bagunçamos a cozinha toda, sujamos a mesa e quase quebramos um copo. Leeteuk iria nos matar ao ver aquela bagunça. Mas só por ter passado aquele tempo com ele, já valeu a pena. Sentamos para comer.
-- Hm... Está meio diferente – disse ele.
-- Diga logo que está ruim e pronto.
-- Não está! Como poderia estar ruim se fui eu quem fez?
Dei um leve tapa em seu braço.
-- Não seja convencido! É exatamente essa a razão de estar ruim.
-- Ei!
-- Brincadeira – eu ri – Mas cara, você leu a receita e ainda fez errado, que burro.
-- Como se você não tivesse feito também!
-- Er...
Nós começamos a rir.
-- Mas não está tão horrível assim.
-- É – concordei – Vocês vivem fazendo todo tipo de comida coreana, mas eu nunca fiz nada do meu país vocês experimentarem... Acho que vou fazer.
-- Hm – disse, interessado – O que?
-- Hmm – pensei um pouco – já comeu pão de queijo?
-- Não. É bom?
-- É sim. Qualquer dia faço uns para você.
Ele sorriu.
Continuamos lá, conversando e rindo. Eu me sentia bem; já não havia mais raiva ou pensamentos ruins em minha mente. Ele conseguiu tirar tudo isso de mim com apenas algumas palavras e a presença dele. Sem percebermos, deu a hora de dormir.
Quando eu fui para a cama, tive a sensação de ter feito a melhor refeição da minha vida, apesar disso não ser a verdade, de modo algum.
Quando eu estava com ele, toda aquela divagação sobre SeoHyun havia desaparecido. Mas agora que eu estava sozinha e encarava o teto, eu tinha medo de que os pensamentos voltassem e eu me sentisse um nada de novo.
-x-
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