• Capítulo Cinco: V — A Dor da Saudade.
🎀 𝚙𝚘𝚛: 𝙼𝚒𝚜𝚜_𝙺𝚒𝚝𝚝𝚎𝚗 ☆
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Sayaka ainda estava perplexa com o estado da mulher, sem entender o que havia provocado essa onda de emoções. Elas estavam de volta ao dormitório após a festa que se estendeu até as 2:00 da manhã, uma noite marcada por excessos, onde a Jabami bebeu muito mais do que devia e, estranhamente, não se envolveu com ninguém.
Ela suspirou ao vê-la se deitar na cama, os saltos altos caindo suavemente no chão. Ela a carregara até ali, sustentando a mulher a cada passo vacilante, enquanto a morena se apoiava nela para evitar tropeços – tropeçando ocasionalmente, mesmo com o apoio.
Com um gesto cuidadoso, a garota se sentou na outra cama, inclinando-se para remover seus próprios sapatos. Desprendendo-os do fecho, ela massageou os dedos doloridos, aliviando a tensão acumulada de carregar a morena. — Yumeko... — Ela murmurou, um arrepio percorrendo seu corpo ao sentir o frio do chão enquanto pisava descalça. Ela cutucou seu ombro com delicadeza. — Você precisa se lavar antes de dormir...
A mais velha sorriu levemente, embora seu hálito ainda carregasse o amargo odor do álcool. — Eu tomo quando acordar... — Sua voz estava embargada, e ela estendeu a mão para segurar o pulso fino da garota com um gesto gentil. — Durma aqui comigo hoje... — Ela sussurrou, fechando os olhos cansados enquanto a puxava para perto, abrindo espaço na cama ao deslizar para a parede. — Por favor... Só hoje, não quero dormir sozinha...
A mais nova hesitou por um momento, a solicitação inesperada e a vulnerabilidade visível de Yumeko a pegando de surpresa desde o incidente na formatura. Ela observou o rosto cansado da mulher, o pedido quase desesperado, e sua própria mente lutava para compreender a situação. Com um suspiro resignado, ela se aproximou, percebendo que a noite não seria como planejado.
Respirou fundo, observando o estado exausto da morena. Havia algo de verdadeiramente frágil no pedido da mulher, algo que contradizia a imagem de confiança e intensidade que Yumeko costumava projetar. Ela se aproximou da cama, sentando-se na beirada enquanto a Jabami se acomodava.
— Está bem.. — A jovem murmurou, um pouco hesitante. Ela deslizou para dentro da cama, tomando cuidado para não perturbar a postura cansada da outra. As luzes do dormitório estavam fracas, criando uma atmosfera suave e tranquila.
Yumeko se aninhou um pouco mais perto, o corpo ainda quente do álcool e da emoção. A arroxeada sentiu a respiração pesada e irregular da mulher contra seu pescoço enquanto procurava conforto. A sensação dela se encaixando ao seu lado era tanto nova quanto desconcertante. Ela ajustou a posição, colocando um braço ao redor da cintura da mulher, sentindo a maciez do corpo dela e a umidade residual da festa.
— Não deveria ter bebido tanto... — A garota murmurou, a voz baixa e preocupada. Ela passou a mão suavemente pelo cabelo negro da mais velha, acariciando-o de maneira quase maternal. — Você vai acordar morrendo pela ressaca amanhã.
Yumeko respondeu com um murmúrio quase inaudível, a cabeça repousando em seu ombro. Seus dedos ainda estavam entrelaçados atrás da cintura da garota, um gesto inconsciente de afeto e necessidade. A Igarashi sentiu o peso das palavras não ditas e as emoções contidas na solicitação da mulher.
O tempo passou lentamente enquanto ela permanecia ali, o calor do corpo da morena se misturando com o dela. A sensação de estar tão perto de alguém que, até há pouco, parecia inatingível, estava lentamente transformando o desconforto inicial em um sentimento mais profundo e confuso. Ela lutou contra a ideia de que essa proximidade poderia mudar algo entre elas, mas não pôde negar a sensação de que algo estava se ajustando dentro dela.
Finalmente, o sono começou a se aproximar, trazendo consigo um alívio para a tensão acumulada. Sayaka fechou os olhos, mantendo um braço protetor ao redor da Jabami. A estranha mistura de emoções – culpa, preocupação e um toque de carinho – a envolvia, enquanto ela se perguntava se a vulnerabilidade da noite revelaria algo mais profundo sobre as duas, algo que as palavras e ações ainda não tinham conseguido expressar.
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Yumeko despertou com a cabeça latejante, o aroma doce e o resíduo de whisky e vodka ainda pairando no ar ao seu redor. Seus braços envolviam a cintura fina da garota, e seu rosto repousava confortavelmente na clavícula dela. Ela piscou, tentando ajustar a visão em meio à confusão da ressaca.
— Ngh... Estou com dor de cabeça... — Ela murmurou, seus lábios movendo-se contra a pele macia enquanto ela se queixava.
Sayaka posicionou uma mão delicadamente sobre a sua cabeça, sem se mover do lugar, fazendo um cafuné gentil em seus cabelos. Enquanto fazia isso, ela navegava pelo celular com a outra mão, seu olhar focado no dispositivo. — Eu comprei uma sopa de frango para você e encomendei um remédio da farmácia. Os dois chegam em meia hora. — A garota anunciou com um tom calmo e cuidadoso, a voz suave para não perturbar ainda mais a ressaca da outra.
Yumeko se aconchegou mais contra ela, um leve sorriso de gratidão se formando em seus lábios apesar do desconforto. — Obrigada.. — Ela murmurou, o som quase imperceptível, mas carregado de uma sincera gratidão. Seus olhos estavam fechados, tentando se refugiar da dor pulsante que ainda a atormentava.
A arroxeada apenas continuou a acariciar seus cabelos, o gesto tranquilo e protetor. O ambiente estava envolto em um silêncio confortável, até a garota quebra-lo novamente. — Você não tem jeito, não é..? — Ela murmurou, sua voz carregada de uma reprimenda suave, enquanto acariciava os cabelos de Yumeko.
A mulher, envolta no abraço, enterrava o rosto na curva do pescoço da garota. O contraste entre o cheiro doce e sedoso dos cabelos da garota e o odor residual de whisky e vodka que emanava da mulher era quase palpável.
Ela suspirou, o som abafado pelo pescoço da outra. — Você é tão má... — Ela resmungou, um beicinho emburrado se formando em seus lábios. Mesmo em meio à sua dor de cabeça e ao cansaço, ela fez um esforço para agradar a jovem, plantando um beijo carinhoso e úmido na pele macia de seu pescoço.
A garota sorriu com um misto de carinho e exasperação. — Posso levantar agora? — Ela perguntou, tentando desviar a conversa e a sensação de estar completamente imóvel com a mulher em seus braços.
— Por que deveria..? — A Jabami questionou, mantendo o abraço apertado com uma carência quase infantil. Seu tom de voz era baixo e sonolento, como se não quisesse se separar do conforto oferecido por ela.
— Porque eu tenho que arrumar minhas coisas. Nós duas temos que deixar este quarto até às 18, lembra? — A mais nova explicou, desviando o olhar da tela para a mulher que ainda se encontrava aninhada em seu abraço.
Yumeko ergueu a cabeça lentamente, seus olhos ainda pesados de sono e álcool. A expressão dela mudou de um emburrecimento para um olhar de relutância, evidenciando a dificuldade de aceitar a realidade iminente da partida.
— ... Não gosto de pensar nisso... — Ela confessou, a voz embargada e um olhar distante. Ela apoiou a bochecha no ombro da Igarashi, desviando o olhar e fechando os olhos como se isso pudesse afastar a realidade. — Sinto um enjôo no estômago.
A garota a observou com um rosto de preocupação. — Realmente? Por favor, não vomite em mim. — Ela disse, tentando aliviar a tensão e o desconforto do momento com um tom leve e bem-humorado.
— Não é nesse sentido, nerd idiota... — Yumeko respondeu, sua voz um pouco mais forte, embora ainda carregada de cansaço e emoção. Ela arranhou suavemente a cintura fina, cravando as unhas em seu quadril com um toque triste.
Sayaka suspirou, revirando os olhos. — Não me aperte assim. – Ela pediu, sua mão ainda repousando nos cabelos negros, enquanto ela a observava com um olhar impaciente. — Então, em que sentido é?
A mulher fechou os olhos, enterrando o rosto em seu pescoço. — Esqueça isso. Só... fique mais um pouco aqui. 𝘘𝘶𝘪𝘦𝘵𝘢. — Ela pediu, seu tom de voz suavizando. Ela se aninhou ainda mais contra a arroxeada, a cabeça repousando confortavelmente no ombro dela. Sua expressão era uma mistura de vulnerabilidade e desespero, a dor de cabeça e o sentimento de iminente separação fazendo com que ela buscasse o conforto da presença de Sayaka.
A garota decidiu apenas não insistir mais, percebendo a necessidade da mulher e o quanto ela estava abatida. — Você é impossível...
Com um gesto carinhoso, ela continuou a acariciar seus cabelos, os dedos deslizando suavemente pelo couro cabeludo. O silêncio no quarto, interrompido apenas pelos sons sútis de respiração e o ocasional som do celular da garota piscando com notificações não lidas, parecia se expandir ao redor delas.
O ambiente estava repleto de uma melancolia quase palpável, misturada com a sensação de proximidade e intimidade. Sayaka, mesmo com a inevitabilidade da partida se aproximando, encontrou algum conforto na quietude compartilhada. As mãos da morena, que anteriormente estavam presas em um aperto carente, agora relaxavam, suavemente segurando sua cintura, como se a presença dela fosse a âncora em meio a uma tempestade emocional.
Enquanto o tempo passava, o sol da manhã começava a se infiltrar através das cortinas, iluminando o quarto com uma luz suave. O calor das manhãs e a proximidade delas ofereciam um contraste acolhedor com a realidade dura que estava por vir. Sayaka sabia que, mais cedo ou mais tarde, teriam que enfrentar a separação e as obrigações que a vida lhes impunha, mas, por ora, permitiu-se desfrutar da última manhã juntas, capturando cada instante de calma e carência.
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