2 dias para o baile.
Charlotte
Eu havia comentado com May que Louis me levaria ao baile, ela não o conhecia, é claro, e fez milhares de perguntas, como se eu e ele estivéssemos mesmo tendo algo. Inclusive tive que explicar várias e várias vezes que éramos amigos e ele estava tentando me animar me levando à festa para me divertir um pouco e me tirar da tristeza em que eu estava afundada desde o término com Harry.
Ela não fazia ideia.
Um peso tomou minha consciência desde que pisei em casa na noite em que Holly pediu-me desculpas. Olhar para May e sorrir, sabendo o que eu iria fazer, me deixava mal e triste, agindo como uma mal agradecida, mas logo depois eu penso que iria fazer isso de qualquer forma, já que tudo o que eu queria neste ano, era que ele terminasse e eu fosse embora daqui para o mais longe que eu pudesse, só não esperava que fosse acontecer assim.
Mas agora ela estava animada...animada demais. Tinha levado Holly e eu para as compras no dia seguinte a noite das desculpas, nos fazendo perder a manhã de aula, não que esta fosse importante. Ela queria que escolhêssemos os vestidos para o baile, e gastaria o quanto fosse preciso. Insisti para que não o fizesse, nem seria um baile de fato para mim, mas ela não quis argumentar, muito menos discutir aquela questão. Eu teria meu vestido de baile querendo ou não.
E no mesmo momento em que botei meus olhos na peça me apaixonei. Era simplesmente lindo e quis chorar quando lembrei que Harry não me veria naquela roupa, que não dançaríamos sob as luzes do salão de festas, mas ao mesmo tempo teríamos o resto da vida para fazer essas coisas. Não haveria nenhum impedimento e seremos livres. Sem pressão, sem regras. Apenas nós dois em nosso mundinho.
Eu ainda tinha em mente acabar com Helena, mas não sabia o que fazer. Queria destruir a vida dela aos poucos, acabar com a imagem de boa mulher que ela havia criado para si. Fazê-la se arrepender por todos os anos em que me torturou, estando perto ou longe, deram na mesma de qualquer forma. E eu sabia que não era nada saudável pensar naquelas coisas, Carol não ficaria nem de longe feliz com minhas atitudes, mas eu não conseguia evitar. Tinha que fazer algo.
Eu tinha descoberto onde ela estava morando com a família, não muito longe da residência dos Styles. Não foi tão difícil quanto pensei que seria, nem pedir ajuda a Harry, eu pedi, claro que o endereço não estava explícito nos sites de busca. Elias era um homem reconhecido, famoso por grandes investimentos, com uma fraude nas contas ou algo assim, mas dariam uma festa em breve, grandiosa inclusive, para comemorar a aliança com os Styles. Não quis saber demais, na verdade passei mal quando li tudo sobre eles e não fui até o fim. O casamento de Harry e Emilly era como um selo entre as famílias, dando apoio uma a outra, o salto que os investimentos do pai de Harry precisavam e a grana que Elias tinha perdido nos negócios. Nada além de negócios. Harry e Emilly era apenas peças no jogo sujo dos dois.
Não havia quase nada sobre Helena ou sobre seu passado, apenas coisas que vinha fazendo de uns anos para cá. Ajuda aos necessitados, obras de caridade. Tudo fachada para a pessoa que ela realmente era. Um personagem que ela havia criado para mascarar o que fez no passado. Se tinha medo de que eu fosse revelar algo sobre ela, não havia demonstrado. Mas eu a faria ruir e se arrepender por cada segundo que havia me feito questionar meu nascimento. Demorei muito a entender que a culpa daquilo tudo não era minha, mas sim dela e de meu pai. Dois irresponsáveis, que não quiseram a filha que botaram no mundo, que maltrataram e fizeram com que pensasse o pior de si mesma.
Eu estava agindo por impulso e por raiva, sabia disso, mas poderia me arrepender depois. Não havia nada em mente, nem um plano do como eu iria agir, só estava seguindo por instinto e ódio.
Assim que May nos levou para casa, estranhando o fato de eu e Holly trocarmos poucas palavras sem farpas e até alguns sorrisos, o que também era novo para mim, eu decidi que teria de ser hoje. Talvez eu não tivesse outra oportunidade depois, talvez eu nunca mais pudesse olhar para seu rosto e agradeceria por isso.
May também achou estranho quando larguei as sacolas em meu quarto e logo já estava saindo novamente, mas não questionou muito sobre o que eu estava fazendo. Apenas menti sobre estar indo encontrar com Louis. É claro que ela acreditou, achava que eu e Louis estávamos namorando ou tentando algo e quis deixar que eu aproveitasse aquele momento apenas eu e ele. Na minha cabeça aquilo era um absurdo e em outros tempos teria sido extremamente hilário.
Assim que saí de casa, rumando para a de Helena, uma sensação se abateu sobre mim. Um ansiedade que me fazia questionar se aquilo era certo e se mudaria alguma coisa, dúvidas e mais dúvidas do que era certo. Se aquilo me ajudaria a superar e a esquecer o que a mulher já havia me feito. Eu queria passar por cima disso tudo. Deixar para trás meu passado sujo e sombrio, esquecer quem já fui, focar apenas na pessoa que sou agora, a pessoa que é amada e que tem uma estrutura maior para lidar com as dores do que podem vir. Que busca ajuda quando precisa. Não quero remoer mais nada. Quero cortar esse último laço com minha antiga vida e seguir em frente e sempre em frente, sem olhar para trás outra vez.
Não notei quando percebi que havia parado em frente à casa deles. Enorme e suntuosa, branca, ornamentada com vigas brancas sustentando a varanda, cortinas salmão escondiam a visão interna da casa. Havia grandes cercas que cobriam toda a parte da frente e lateral da casa, guardando o jardim verde extenso e bem cuidado, em cada canto havia mudas de flores de todas as cores, provavelmente ideia dela.
Havia um outro carro na frente da casa, eu o reconhecia, é claro. Mas o que eles poderiam estar fazendo ali dentro? É claro que a resposta era bem óbvia, mas eu ainda não sabia o por quê.
Adentro o gramado, fazendo questão de pisar na grama verde, que, não me surpreendendo muito, descobri que era falsa. Caminho com as mãos tremendo até a porta branca majestosa, uma aldrava dourada com uma cabeça de Leão moldada enfeitava a porta. Hesito ao levantá-la, mas quando abaixo o som reverbera por todo meu corpo e por toda a casa, me fazendo estremecer.
Naquele momento tudo se passou em minha cabeça, ao mesmo tempo que nada também se passou. Eu estava ainda mais confusa e sem saber o que dizer. O que eu iria fazer ali? Mas antes que eu pudesse decidir o que fazer a porta se abriu e uma senhora dos cabelos tão brancos quanto a neve se revelou, enquanto segurava a maçaneta e espiava com os óculos quem tocava a campainha. Ela sorri com simpatia e encara meu rosto, como se tentasse me reconhecer.
- olá querida, o que deseja? - sua voz rouca e carregada de um sotaque marcante, o sorriso caloroso em seus lábios me deixaram um pouco mais calma. A voz me falhou, o que eu desejava ali? Causar alguma destruição, provavelmente.
- eu gostaria de falar com Emilly, ela está? - pergunto, seria mais fácil falar com a garota agora que eu sabia que ela não tinha o mesmo sangue que o meu? A senhora sorriu e se esquivou alguns centímetros da porta para que eu pudesse entrar. O hall de entrada era ainda mais luxuoso, todo em tons de branco e dourado ou rosê, um pouco de exagero se pedissem minha opinião. Tudo dedo dela, eu reconheceria de qualquer forma a ostentação da riqueza, que agora finalmente possuía.
A senhora, que se apresentou como Darla, me conduziu até a sala imensa da casa, haviam vozes animadas e altas ecoando por todo o recinto. Não me surpreendi também quando vi a família praticamente toda reunida, juntamente com os Styles. O olhar de Harry recai sobre mim e seu cenho se franze em confusão, uma pergunta mal formulada nos lábios em silêncio, mas eu não poderia explicar agora.
Os olhares se abatem curiosos e também confusos sobre mim. Helena me olha com um misto de horror e medo. Me sinto renovada assim que percebo isso. Talvez seja melhor do que eu tinha pensado que seria.
Elias, o homem grande e alto, que estava com as mãos ocupadas com um charuto e um copo do que eu presumi ser whisky, se levanta e me encara com uma pergunta estampada no rosto. Sorrio e dou um passo a frente, Harry e seu pai também se levantam. Os olhos deles, tão parecidos, mostravam as mesmas coisas que sentiam naquele momento, mas seu pai...Eu conseguia sentir a raiva dele sobre mim.
Eu nunca entendi o ódio que ele sempre sentiu por mim, mas desconfiava que havia um medo incrustado nele, medo de que eu tornasse Harry contra ele. Ele só não imaginava que Harry já pensava por si só, eu nunca tive influência alguma sobre suas decisões, ao contrário dele, que fez o próprio filho odiá-lo com todas as forças possíveis.
Ele não podia me culpar por algo que ele mesmo havia provocado.
Anne e Helena estavam lado a lado no sofá, e também se ergueram quando viram a reação dos homens. Apenas Emilly ficou encarando a situação como algo extremamente desnecessário, mas me olhou neutra, sem raiva ou medo, apenas uma curiosidade velada no olhar.
Não havia nada que eu tivesse contra ela, Emilly era apenas uma vítima, que havia caído por acaso naquilo tudo. Ela não tinha culpa de nada.
Parei em frente à família reunida naquela sala mal decorada. Meus olhos, por alguns segundos, focalizaram o enorme guepardo dourado que ocupava o espaço na parede logo atrás do maior sofá da sala. Era horrível.
- eu acho bom que todos estejam reunidos aqui - digo com tranquilidade, parando em frente a todos eles. Eu não fazia ideia de onde havia tirado tanta calma de uma hora para a outra - eu pretendia falar apenas com Emilly, mas acho que encontrar todos vocês aqui...foi coisa do destino - sorrio, cruzando os braços, a mochila em minhas costas, pendurada apenas por uma alça, estava leve. Eu tinha levado apenas o necessário.
- o que essa garota está fazendo aqui? Você não é bem vinda fedelha - Desmond, o pai de Harry, vocifera, dando dois passos a frente, parando ao lado de Elias, que me encarava com uma curiosidade no olhar, tanto quando Emilly ainda encarava.
- Oh, eu não vim acabar com a festinha de vocês - sorrio, abaixando a cabeça e a erguendo novamente com um riso sarcástico, ele franze o cenho e bufa irritado. O velho me odiava - ou talvez eu tenha vindo para fazer exatamente isso - meus olhos focalizaram a loura no sofá oposto, seus olhos estão indecifráveis, mas a postura tensa a denuncia.
- o que quer garota? Eu a conheço? - Elias se pronuncia, com a voz calma, como se eu fosse uma bomba prestes a explodir. Eu não estava muito longe disso - Darla, quem é essa menina? - a pergunta é dirigida a senhora que ainda está atrás de mim. Ela o responde prontamente, as exatas palavras que eu havia usado minutos atrás. Olho discretamente para Harry, que está com um sorrisinho disfarçado nos lábios. Se eu pudesse descrever o que eu o via sentindo naquele momento, eu diria que era orgulho.
- ah senhor, suas respostas irão ser respondidas, cada uma delas - sorrio novamente para Helena, que se aproxima do marido e lhe sussurra no ouvido - Helena! - digo alto, ela lança seus olhos escuros sobre mim - por que não se aproxima um pouco mais...? Está com medo do que eu possa revelar? - digo com um sorrisinho irônico. Eu me sentia invencível.
- cale a boca, cale a boca pirralha inútil - ela sibila com os lábios franzidos. Elias olha a mulher com o cenho franzido em confusão - não a ouça, essa garota é maluca amor - diz repousando a mão sobre a do marido em cima da barriga. Dou risada e descruzo meus braços, abrindo a bolsa em seguida, retirando uma única folha de lá de dentro.
- não se preocupe Helena - digo ainda com o sorriso escapando dos lábios, abrindo a folha em minhas mãos - diferente de você, eu só digo a verdade - ela arregala os olhos para minhas mãos e tenta avançar em minha direção, mas Elias a segura pelo pulso, sem tirar os olhos de mim. A insegurança cresce em meu peito, mas algo me diz para continuar, eu não poderia parar agora.
- do que ela está falando Helena? - a desconfiança transbordava em sua voz, a mulher choraminga e solta o braço de seus dedos. Era patético de se ver, que ela fosse tão submissa a Elias à aquele ponto, que ela chegasse a implorar para que ele acreditasse nela. A que ponto ela tinha chego para poder se livrar de mim, o que tinha feito.
- não faço ideia meu amor, deve ser uma louca qualquer querendo dinheiro - seus olhos brilham na direção do marido e ela recai sobre ele, agarrando-lhe a camisa em desespero - é o que todas querem, não é? - pigarreio, chamando a atenção de todos novamente para mim. Estava desconfortável com toda a atenção, mas era bom de certa forma e o olhar encorajador de Harry me fazia continuar, mesmo longe ele me apoiava.
- exatamente, você disse tudo querida Helena, é o que todos querem - sorrio dando um passo a frente, remexendo na folha em minhas mãos, tentando disfarçar de alguma forma a tremedeira em que elas estavam - inclusive você, não é? Senhores... e senhoras, é claro, não poderia me esquecer, eu vim aqui hoje para livrá-los de mais uma mentira, uma armadilha dessa mulher...
- quer desembuchar de uma vez garota, está deixando a todos ansiosos e não chega a lugar algum - Elias diz alterado, com as mãos da mulher ainda lhe apertando o peito, chorando baixinho. Emilly se levanta do sofá e se aproxima dos dois, uma centelha de confusão e medo se passando em seu rosto. Desmond parece se sentir repelido pelo homem e se afasta para perto da mulher no outro canto da sala, olhando a cena com desconfiança. Não consegui olhar para Harry ou sua mãe, eu poderia me desmanchar naquele momento se o fizesse, e tinha de ir até o fim. Sem falhas.
- Helena mentiu todos esses anos, mentiu sobre quem é, sobre quem foi e sobre o passado - digo encarando o homem, que solta uma risada incrédula, soltando a mulher de sua roupa, por um momento ela me olha vitoriosa, mas não havia acabado ainda - ela já contou sobre de onde é, sobre a família? - ele olhou para a mulher, a maquiagem borrada em torno dos olhos e escorrendo pelas bochechas, seus olhos transbordavam ódio e rancor em minha direção, mas eu não me afetava.
- mas é claro que sim, não me casaria com alguém cujo passado é um enigma...
- enigma? - dou risada e estendo a folha para o homem, ela tenta pegar, mas em vão, já que ele se afasta no mesmo momento, sem dificuldade alguma - ela lhe contou a verdade? - outro olhar incrédulo, mas sua testa franzida o denunciava - Esta é minha certidão de nascimento senhor Elias, aí tem meu nome, o nome de meu pai e o nome de minha mãe: Helena Campbell Gardner - Eu me sentia sem fôlego dizendo aquelas coisas, como se tivesse corrido aquele caminho todo até ali. As vezes nem eu acreditava naquilo tudo. O cenho de Elias se franze ainda mais ao ler o documento com atenção, eu o encaro, aguardando a reação do homem - essa mulher é minha mãe - digo com a voz falha, com lágrimas ameaçando cair, traindo-me. Não queria demonstrar fraqueza em frente à ela. Eu tinha de ser forte.
- isso é verdade Helena? O que você fez? - o homem encara a mulher, com o semblante irreconhecível de minutos atrás, uma carranca de raiva e desapontamento - você é mãe dessa menina? Você mentiu todo esse tempo para mim? Para minha filha? - o rosto de Helena estava lavado em lágrimas, ela se ajoelhou aos pés do marido e o abraçou pelas pernas pateticamente. Eu poderia sentir vergonha por ela, mas só sabia sentir o choque, não acreditando que eu havia feito mesmo aquilo. Revelado toda a verdade sobre a mulher que havia me colocado no mundo - é por isso que você nunca quis ter filhos, não é? Porque fez aquela cirurgia, mesmo eu dizendo que queria filhos com você - ele a acusou com o dedo em riste, seus soluços se tornam audíveis, o choro descia incontrolável pela sua face maquiada e antes impecável. Ela não disse nada.
Eu os encarei impotente, não era justo ela chorar daquela maneira, não quando a única afetada em toda essa história tinha sido eu. Não quando eu tinha sido abandonada, apenas uma menina de 9 anos e demais depois tendo de encontrar o pai morto na sala da própria casa. Não era justo ela chorar daquela maneira se ela não havia sofrido os maus tratos que ela havia me feito passar ou os anos em que desejei ter morrido no lugar do meu pai. Não era justo!
- levanta Helena - engoli em seco, vendo-a se estremecer na perna do marido. Meus lábios tremendo mau conseguem pronunciar algum a palavra coesa. O choro queimava minha garganta - seja mulher e assuma o que fez, assuma que teve uma família antes deles, olhe em meu rosto e assuma porra! - grito já com as lágrimas descendo livremente em meu rosto, ela ergue a cabeça e se levanta precariamente, eu a observo com a garganta doendo com o choro reprimido.
O som do estalo veio primeiro, depois o choque do que havia acontecido e só depois a dor. Eu sentia a ardência dos dedos em minha pele, quase indo ao chão pelo impacto e pela surpresa. Ela havia me batido, depois de tudo ela ainda tinha tido a coragem de levantar a mão para mim outra vez.
- eu não me arrependo de nada - ela sussurrou perto de meu rosto, sua respiração batendo contra minha bochecha, o choque de sua aproximação fez com um desespero tomasse conta do meu corpo, algo dentro de mim a pouco adormecido. Uma tremedeira, uma sensação na boca do estômago e uma vontade incontrolável de chorar até esgotar as últimas lágrimas.
Então Helena foi tirada rapidamente de perto de mim. Com meus olhos turvos focalizei lentamente Anne e Harry que a seguraram e a levaram para longe, dizendo algo como "você não vai tocar em mais nenhum fio da cabeça dela". Anne, naquele momento, pareceu a mãe que ela deveria ter sido para mim.
Elias olhava atônito toda a cena, parecia paralisado, como se não soubesse o que fazer em seguida, como se tivessem lhe tirado todas as forças para reagir. O pilar de sua vida estava destruído. Sua visão de família perfeita também e tudo graças a mim. Mesmo depois de tudo, eu ainda conseguia me sentir culpada, com minha única missão cumprida, mas ainda assim culpada.
Em algum momento senti as mãos de Harry me erguendo do chão com facilidade, já que eu era pequena e leve para o garoto. Não me lembro de quando cai, só de suas mãos me levantando e os olhos verdes preocupados me analisarem com afinco. Também não havia notado Helena gritando e se debatendo inutilmente para com o marido, implorando o perdão a seus pés, tentando, em vão, agarrar num abraço Emilly, que chorava como um bebê e se escondia atrás do pai, que a abraçava como se tentasse protegê-la da mulher. Ele a olhava com um desdém incrédulo, Helena agora não passava de um inseto indesejado na vida de Elias, toda uma vida baseada numa mentira. Talvez nem ela mesmo soubesse diferenciar a verdade da mentira, e havia adotado um personagem tão convincente a ela mesmo que já não sabia qual ela já fora e quem era agora.
Anne estava junto do filho, o ajudando a me levantar com cuidado. Murmurava palavras de carinho, as quais não consegui distinguir. Sentia meu corpo, como se eu fosse ceder a qualquer momento. Uma sensação de ar puro invadiu meus pulmões de repente. Interpretei que aquilo seria como respirar a liberdade. Estar finalmente livre daquelas correntes que me prediam ao passado, impedindo-me de continuar.
Além do corpo e cabeça doendo, sentia minha bochecha ardendo pelo tapa que minha mãe me dera, mas não sentia arrependimento. Se Eu tivesse a mesma oportunidade a anos atrás ou até mesmo daqui a algumas semanas, eu tenho certeza de que não faria nada de diferente. Se eu me culpava por aquilo? Sim, mas eu não me arrependi. Culpa sim, mas arrependimento jamais.
- você vai pagar por tudo o que está fazendo sua vadiazinha barata - Helena cuspiu as palavras, ainda escorada precariamente a mesa de centro da sala, tentando agarrar as pernas do ex-marido, que se esquivava com Emilly em seu encalço, abraçada a ele - eu estava tão feliz, tão realizada com minha família, até você aparecer de repente e acabar com tudo, aliás como sempre, como sempre você acabando com minha vida, não é? Quando nasceu e agora outra vez... - dessa vez o estalo veio da mão de Anne, que surgiu em minha frente e a estapeou tão forte que seu corpo foi parar ao chão, de onde ela já estava. Helena se encolheu e chorou como uma criança, se reduzindo ao nada em que ela havia se transformado.
Um soluço alto escapa de meus lábios, não havia percebido que estava chorando, mas também não importava, suas palavras ainda me machucaram, atingindo o ponto em meu peito que ainda aguardava ser amada por ela, uma parte que ainda tinha esperanças dela se arrepender e tentar concertar o que havia feito. Mas não tinha jeito, ela não me amou antes, quem dirá agora, ela com a vida feita e rica, com um marido que lhe amava e uma filha postiça. Porque ela se arrependeria, se sua maior conquista foi por conta do meu abandono?
Sinto os braços fortes de Harry me envolverem com segurança, seus lábios sussurrando palavras baixinhas em meu cabelo e beijando suavemente minha têmpora a fim de me acalmar, ele não sabia que, no momento, aquilo era inútil, mas eu não diria a ele. Em vão, pois eu não estava forte, muito menos me sentia como tal. Era como se tudo tivesse se esvaído com o que tinha acontecido momentos antes, minhas forças morrendo junto com o falso personagem de Helena no meio de sua sala.
Então tudo se apagou.
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