Mingi recebeu uma mensagem de HongJoong no final daquela tarde. Ela tinha pedido para encontrá-la na estufa para que pudessem conversar, pois a garota tinha ficado responsável por cuidar do local até a noite, e não queria que ficasse tarde para o Song - essa parte final da mensagem deixou Mingi um pouco bobinho demais com a preocupação dela -.
— Eu posso mesmo entrar? - Indagou assim que chegou na estufa. HongJoong apenas acenou em concordância. — Você realmente não se incomoda com muitas perguntas?
— Prefiro que me perguntem sobre meu gênero do que tirem conclusões por si só ou sejam desrespeitosos. - Ela checou a temperatura do local para um clima que não incomodasse nem os dois e nem as plantas. — Sobre o que você quer saber em específico?
— Tudo? - Nem mesmo o ruivo sabia exatamente o que queria saber sobre o gênero recém descoberto por ele, só queria entender mais. — Você explicou resumidamente, mas… Como ocorre isso?
— Isso. - HongJoong arqueou a sobrancelha direita, mas deu de ombros. Por mais que usar ‘isso’ soasse um pouco grosseiro para ela, a garota sabia que aquele não era o objetivo de Mingi. Desde que o viu andando pelos corredores sabia que ele não era uma pessoa com intenções ruins. — Muda de pessoa para pessoa. Alguns transitam por dias, outros por horas, meses, anos e a forma de definir uma mudança também muda para cada corpo.
— Como é com você?
— Muitas vezes é algo hormonal… - Ela coçou a nuca. Por mais que tivesse paciência em explicar, era complicado formar uma frase para explicar como funcionava suas transições. — É complicado de explicar como eu transito, sabe? Não é apenas acordar e puf, sei qual pronome usar.
— Seria fácil se fosse assim, puf. - Mingi sorriu, de certa forma entendia o que era aquela dificuldade de explicar. — O seu gênero pode alterar sua orientação?
— Na verdade não. Eu por exemplo sou panssexual, mas já conheci na internet uma grande quantidade fluidos com diferentes “preferências”. - Ela fez os aspas com os dedos. — Ser fluído não significa que você vai sentir atração por mais de um gênero ou que sua sexualidade vai mudar junto do gênero. É sua maneira de se identificar e se sentir bem, a maneira que você é.
— Entendi. - Não era tão complicado de se entender, mas estranhamente Mingi ainda tinha muitas dúvidas que ele não sabia explicar se eram sobre HongJoong ou sobre seu gênero. — Você se incomoda se eu questionar o motivo pelo qual fez transferência para cá? - Resolveu perguntar.
— Não me incomodo, é melhor saber por mim do que por mentiras dos outros. - Ela suspirou. — Algumas pessoas andaram comentando nos corredores que saí de lá por bullying, mas nem foi por isso. Dói, mas são apenas palavras sem sentido e sem argumentos. Eu tento não ficar abalada por tanto tempo com comentários assim.
— Então...?
— Eu estava sendo ameaçada por pessoas do meu próprio curso. Sentia que a qualquer momento iria levar uma surra feia por simplesmente ser eu. Nem mesmo podia pedir ajuda a coordenação, eles não se importavam. - O ruivo sentiu um aperto no peito. — Senti a necessidade de sair de lá antes que algo muito ruim acontecesse comigo.
— Pessoas horríveis.
— Sim, mas eu gosto de olhar pelo lado positivo. Agora eu estou no meio de pessoas incríveis na turma daqui, e sempre há pessoas que nem você, que querem entender para poder respeitar. - Ela sorriu, Mingi não deixou de retribuir o sorriso. — Acho que já está um pouco tarde para ti, não?
— Você ainda vai ficar por muito tempo? - Ela acenou. — Se incomoda se eu ficar?
— Não se me disser o motivo pelo qual quer ficar.
— Sempre quis saber sobre as flores que observo todos os dias no meu caminho, mas nunca tive contato com as pessoas daqui sem ser apenas por vista. - A platinada soltou apenas um ‘ah’. — Então, posso ficar?
— Claro, eu adoraria compartilhar minha paixão e conhecimento por flores para você. - Ficaram ali até o turno de HongJoong acabar. Mingi aprendeu muita coisa naquela noite, pois a Kim era extremamente atenciosa em explicar sobre cada uma das plantas da estufa. Passaram muito tempo com ela apenas explicando sobre os lírios que eram, segundo ela mesma, suas flores favoritas.
No decorrer dos dias, os caminhos de Mingi mudavam diariamente como se todo seu ritual tivesse se quebrado por conta da Kim. Ainda passava um bom tempo com JongHo tentando reorganizar seus pensamentos com o silêncio do mais novo, mas a coisa que tinha mais modificado sua rotina era acompanhar HongJoong sempre que encontrava-a pelos blocos.
Todos os dias, o Song olhava atentamente as presilhas dela, quase como se tivesse receio de falar algum pronome errado e magoá-la.
— Bom dia. - HongJoong sorriu abertamente ao encontrar Mingi na biblioteca do bloco. Os fios não estavam penteados para trás como de costume, mas em uma franja bagunçada. Na lateral, as presilhas de golfinhos brilhavam por serem no tom dourado com azul anil.
— Bom dia, hyung. - Tinha descoberto naquele tempo que o Kim era mais velho que si, e que faltava apenas um ano para completar seus estudos acadêmicos, por isso vivia nas estufas fazendo pesquisas. Mingi acabava acompanhando ele sorrateiramente sem que os outros estudantes de botânica percebessem que estava por ali, somente para ficar perto dele - mas isso ele não admitia nem para HongJoong, nem para si -. — Esses livros todos são das suas pesquisas?
— Não, eu apenas fiquei curioso sobre algumas flores e resolvi procurar livros sobre, mas infelizmente não tem um livro certinho para tirar minhas dúvidas, por isso estou quase levando todo o acervo de botânica comigo. - O Song acabou pegando alguns dos livros que o mais velho carregava para ajudá-lo. — Eu andei pesquisando mais sobre lírios. Não me recordava que flores poderiam ter tantas simbologias. É magnífico.
— Simbologias? - Ambos se sentaram em uma mesa mais afastada das outras na biblioteca. HongJoong queria paz para ler os livros e Mingi queria observar ele em paz. — Você quer dizer significados?
— Não só isso, mas também a forma que associam tal flor com tal coisa. - O mais novo tombou a cabeça para o lado levemente confuso. — Por exemplo, o lírio aranha em algumas culturas é encarado como a flor da morte, por ser muito comum presentear túmulos com tais flores. - Mingi acenava com a cabeça para demostrar que estava entendendo, enquanto HongJoong continuava sua explicação do seu novo interesse.
— Eu sempre quis perguntar direito. Por que você tem tanto amor por lírios?
— Muitas cores, muita simbologia e significado. Lírios podem representar tantas coisas, e apesar de serem bem delicadas, são flores que crescem em abundância em bastante lugares. - Quando o Kim lhe encarou, o ruivo sentiu seu coração palpitar forte. — São flores bonitas por dentro e por fora, não tem como não se apaixonar. - Mingi sorriu alheio a explicação.
— Definitivamente, não tem como não se apaixonar. - Concordou risonho, HongJoong sorriu achando que o mais novo se referia às flores. — Você vai me falar sobre o que descobrir depois?
— Depois?
— Sim, tenho uma aula agora. - Checou no celular o horário, querendo que ainda faltasse muito tempo para deixar HongJoong sozinho, mas, infelizmente, faltavam apenas alguns minutos e era exatamente o tempo de ir dali da biblioteca até o seu bloco. — Posso ir mais tarde na estufa?
— Você sabe que sempre pode. - O Kim sorriu abertamente. Mingi sentia-se feliz apenas com essas pequenas coisas vindo do mais velho. Se despediu dele e correu para não se atrasar para a aula. Seu coração estava eufórico para o horário passar voando e ele voltar novamente para perto de HongJoong.
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