Tum!
O som meio oco – que provavelmente pôde ser ouvido pelo morador do apartamento ao lado – ecoando pelo pequeno apartamento, veio da pequena briga unilateral e masoquista entre a cabeça de Jaeyun e a parede.
Não, ele ainda não está maluco. Ele está quase, com a conciliação entre o trabalho de meio período na cafeteria que fica há 2 quadras de distância e o começo de seu último período da faculdade – ele adora Física e ama seu curso, mas nesses momentos ele se pergunta: "EM QUE EU ESTAVA PENSANDO?!!!!!!" – então sim, talvez em algum dia próximo ele fique realmente maluco mas, ei, vamos ser positivos e focar no presente.
Acabou a ração.
Jaeyun chegou em casa há 10 minutos, tão cansado depois de um longo dia, que só pensava em tomar um banho refrescante e dormir abraçado com Zaya, sua cachorra, depois de lhe dar comida, mas quando foi concluir o item 2 de sua pequena lista de tarefas, percebeu que o pote de ração estava vazio.
Um rápido flashback se passou em sua cabeça: ele ligando para Riki, seu irmão mais novo, pedindo para ele passar em seu apartamento e alimentar Zaya com o resto da ração que havia no pote. Fazendo uma anotação mental de comprar mais antes de voltar para casa enquanto saía para a trabalhar. Mas a anotação mental se perdeu em meio aos muitos pedidos feitos pelos clientes na cafeteria e agora ele está nessa situação.
Zaya late, sentadinha aos pés de Jake com a cabeça tombada para o lado, olhando-o como se perguntasse "está tudo bem?".
E seu rosto se contorce de tristeza por ter esquecido de comprar a comida de sua preciosa cachorrinha. "Eu sou um pai tão mau, não mereço você", ele choraminga internamente.
— Não, minha bebê, mas vai ficar – diz ele enquanto se abaixa para coçar as orelhas de sua princesa, e então se levanta, arrumando a postura e erguendo a cabeça como quem está se preparando para ir à guerra.
E, considerando o quanto Jake tem tendência ao drama e o tanto de esforço que ele vai precisar fazer para conseguir essa ração, quando tudo o que ele quer é cair morto em sua cama (figurativamente, é claro), é como se fosse mesmo a Terceira Guerra Mundial. E ele está na linha de frente; ele lutará contra seu grande inimigo, "Cansaço, o Grande", e vai voltar vitorioso com a ração de sua filha, custe o que custar!
— Papai vai precisar sair de novo por mais alguns minutos, mas volto com comida. Não se preocupe comigo, eu voltarei para você!
E ele se abaixa mais uma vez afagando o pelo macio de Zaya, enxugando uma lágrima inexistente dos olhos e fungando, enquanto ela apenas late e lambe seu rosto alegremente. "Ela é uma cachorrinha adorável", Jake pensa choramingando de amores enquanto se dirige para abrir a porta.
Mas antes de passar por ela, Zaya late mais alto, pondo sua língua de fora e balançando seu rabo fofo, com a coleira na boca, e Jake lembra - ah, ele é realmente bom em lembrar que se esqueceu de algo, não é? - que ela passou o dia inteiro no apartamento e deve estar morrendo de vontade de caminhar um pouco ao ar livre com seu humano favorito.
Ele então, sorrindo e novamente pedindo desculpas para sua cadela, coloca a guia – sempre verificando se ela está confortável, ele não quer que ela se machuque – e juntos eles saem de casa.
Jake espera, deseja, na verdade ele implora, para que seja a última vez hoje.
______
Parece mais que Jake é quem está sendo levado para passear e não Zaya.
A cachorra segue em frente, com seus pelos brancos e castanhos claros, brilhosos e macios, saltando levemente a cada passo enquanto praticamente arrasta Jake pelo caminho – o que não é tão difícil com o estado atual de Jaeyun, é só que ela não é uma cachorra grande mas ei! não cite isso, ela pode ficar mal humorada e tentada a lhe provar que sua força com certeza não condiz com seu tamanho.
— Ei, garota, ande um pouco mais devagar, ainda são... – ele dá uma olhada em seu pequeno relógio de pulso – oh, ainda são 19h08. A loja não é muito longe e não vai fechar agora, não precisamos correr. E sei que você não está com muita fome porque pedi para Ni-ki lhe dar comida hoje há algumas horas atrás. Você está bem, menina.
Zaya vira a cabeça para trás em direção a ele e late. "Sim, ele fez isso", ela pensa lembrando de como seu tio Ni-ki entrou em seu apartamento esta tarde, lhe fazendo carinho e dando a última porção de ração que havia em seu pote.
Lembrou também de ele comentar ao se despedir, que precisava levar Bisco no veterinário para a tosa. Zaya espera que seu primo esteja bem; ela sabe que o pequeno cãozinho não gosta que outras pessoas cortem seu pelo mesmo que seja necessário.
"Tomara que tio Ni-ki e tio Sunoo o confortem", ela pensa diminuindo os passos pois quer que seu pai Jake fique confortável, mas então, 5 segundos depois, ela sente o cheiro.
Um cheiro, que faz tanto tempo que não sente, mas ela conhece isso e não há como ela estar ficando doida – ela não tem preocupações reais como Jake, além de, às vezes cuidar dele quando o próprio não o faz, tentando lembrá-lo de se alimentar corretamente (latindo sem parar e empurrando o focinho nele para cozinha até ele colocar algo em seu estômago) ou avisá-lo onde está o objeto que ele está procurando (latindo, pulando ou cutucando o objeto até que ele ache e possa dar tapinhas em sua cabeça), Jaeyun sempre a agradece com um "quem é minha boa garotinha? Quem é a melhor garota do mundo? É você" com sua melhor voz de bebê- Ok, Zaya pode ter divagado um pouco e fugido do assunto, mas a questão é que: ela conhece esse cheiro, então ela vai atrás dele.
Talvez ela tenha ficado um pouco excitada demais, e talvez ela não tenha medido bem sua força e talvez ela tenha saído correndo com sua coleira quase levando Jake junto – o pobrezinho não conseguiu acompanhá-la.
— Zaya! Oh, meu de- Zaya!
Exasperado, erguendo a cabeça para o céu, com os olhos fechados e mãos na cintura, soltando um longo suspiro, ele pensa que não há mais nada que possa surpreendê-lo hoje. Ele acha que está no limite. Seus olhos doem um pouco, seu corpo parece ter sido atropelado 2 vezes por um caminhão, e ele provavelmente tem uma marca vermelha na testa causada pela parede (sim, a culpa foi dela).
E ele não gosta de falar palavrões, mas seguindo o caminho que Zaya fez ao sair correndo, a única coisa que preencheu sua mente e consequentemente sua boca após uma longa inspiração de ar foi um grande e alto:
— MAS QUE PORRA É ESSA?
Jaeyun com os olhos arregalados acha que finalmente enlouqueceu. Sim, a exaustão, negligência com sua própria alimentação e horas de sono com certeza o atingiram em cheio e agora ele é um maluco, porque NÃO TEM COMO ele estar em frente à sua cachorra, tão animada, lambendo o rosto de seu ex-namorado (que ele não vê há 6 meses) enquanto este está de cócoras, sorrindo e afagando todo seu pelo. Ele deveria ligar agora mesmo para Heeseung e Riki (irmão mais velho, irmão mais novo e seus melhores amigos), que eles deveriam interná-lo no hospício o quanto antes e cuidarem bem de sua cachorra.
Sunghoon, seu ex-namorado, levanta a cabeça em sua direção e por 3 segundos ele parece atordoado – se é pelo grito, pelo palavrão, por ver Jake depois de tanto tempo ou se pelas 3 coisas juntas, isso é com ele.
— Oi, Jake – ele volta a direcionar seu olhar para a cachorrinha que ainda está abanando o rabo parecendo muito feliz em vê-lo. Ele se sente nervoso – Essa é Zaya, não é? – ele pergunta apenas para tentar quebrar o clima esquisito, voltando a murmurar com voz de bebê sobre o quanto ela cresceu e o quanto ela é a cachorra mais bonita.
Ele vê pela sua visão periférica Jake acenando com a cabeça, ainda imóvel no mesmo lugar e ainda com os olhos arregalados como se estivesse lidando com um fantasma.
Sunghoon então se levanta, pronto para dar uma explicação ao garoto mais velho por ter passado tanto tempo sem dar notícias, mas então Jake se dobra e solta a risada mais histérica que ele já ouviu sair de sua boca. E ele fica ali parado, observando Jaeyun segurando sua própria barriga e gargalhando como se tivesse ouvido a piada mais engraçada de todos os tempos.
Sunghoon troca um olhar com Zaya.
"O que está acontecendo?", "Não olhe para mim, eu sou uma cachorra", "Mas você sempre foi inteligente, achei que saberia", "Você também deveria ser inteligente mas aqui está você tentando conversar com um animal", "Ok, justo", "Ah, não, me desculpe, tenho passado muito tempo com Bisco".
Encerrando sua "conversa" com Zaya ao afagar sua cabeça, ele percebe que Jake parece estar recuperando o fôlego; sua risada diminuindo enquanto ele enxuga algumas lágrimas que escaparam de seus olhos.
— Estou tão maluco que estou tendo uma alucinação do meu ex, que não vejo há 6 meses, com minha cachorra na minha frente em uma esquina mal iluminada às, sei lá, 19h30 da noite, quando tudo o que eu deveria fazer era comprar ração para Zaya e voltar para casa – ele balança sua cabeça em negação. – Não fiquei tão louco assim nem quando bebi uma garrafa inteira de gin e mais 2 batidas de morango naquela festa do segundo ano da faculdade. Uau, a falta de sono realmente faz coisas... é isso, tenho que ligar para Riki e Hee urgentemente.
Ele fala tudo enquanto vai em direção à Zaya para pegar sua coleira e ir mais rápido à loja atrás de ração. Talvez ele possa acabar tendo uma síncope no caminho, ele não sabe.
Sunghoon que permaneceu parado encarando toda a cena, finalmente se mexe quando Jake tropeça em uma pedra e quase cai, segurando em seus cotovelos para estabilizá-lo.
— Uau, achei que alucinações não pudessem fazer coisas físicas assim, você não deveria conseguir me impedir de cair — ele ri, voltando a estar firme em suas pernas, olhando para o mais alto. — Talvez eu esteja vendo você porque ainda sinto sua falta. Certo, Zaya? – ele olha para a cachorrinha que dá um latido em resposta. – Talvez eu devesse levar essa questão para a minha psicóloga.
Sunghoon está meio confuso e meio cansado de ser ignorado por Jake (ele também está preocupado. Tipo, o que é essa mancha meio avermelhada na testa dele? E, cara, ele parece realmente cansado...), então, pegando em seus ombros e se inclinando um pouco para olhar diretamente nos olhos castanhos escuros do homem mais baixo, ele diz:
— Jaeyun. Não sou uma alucinação. Nem um fantasma. Sou eu mesmo. Park Sunghoon.
Jaeyun quase ri de novo mas parece que a leve onda de histeria vai deixando seu corpo conforme ele sente o peso das mãos de Sunghoon em seus ombros e seus olhos parecendo penetrar sua alma.
Sunghoon/alucinação/fantasma na verdade é apenas Sunghoon.
A percepção disso e tudo o que aconteceu em seu dia hoje finalmente o atinge como um caminhão, que de tão forte e rápido nem dá tempo de ver os faróis cegantes antes de ele te atropelar. E Jake, exausto e com o bônus de ser uma rainha do drama, realmente desmaia.
________
Quando Jake acorda, ele não sabe nem que horas são. Se sente mais perdido do que na última vez que decidiu ir em um bloco de carnaval com Heeseung, Ni-ki e seu cunhado Sunoo, e achou que seria uma boa ideia encontrá-los lá e não em um ponto de encontro onde havia menos gente.
A próxima coisa que ele percebe é que também não está em sua casa. Aqueles pôsteres dos álbuns do Cigarettes After Sex que estão nas paredes brancas do quarto, e o cobertor ponderado preto cheio de pequenas estrelas douradas no qual ele está tão confortavelmente embaixo, definitivamente não são dele.
Levantando-se em um pulo – do qual ele logo se arrepende ao sentir uma leve tontura – ele caminha em direção à porta do quarto, tentando lembrar do que aconteceu. Mas se os objetos e aparência do quarto não foram o suficiente para clarear sua cabeça nublada de sono, então o cheiro – que agora ele percebe estar espalhado por todo o quarto – o faz, e tudo o que aconteceu anteriormente lhe atinge novamente; desta vez é mais como uma moto em uma velocidade razoável, então é forte, mas pelo menos ele não desmaia.
"Bem... eu não tenho trabalho e nem aula hoje", ele pensa pelo lado positivo tentando se confortar.
Decidindo corajosamente sair do quarto, ele é recebido pelo latido de bom dia de uma Zaya sentadinha comendo ração em um pratinho no chão, perto do balcão da cozinha.
Logo em seguida, ouvindo o barulho de uma tranca se abrindo, ele vira a cabeça em direção ao som para se deparar com um Sunghoon entrando com algumas sacolas. Seus cabelos, agora platinados, estão um pouco mais compridos desde a última vez que ele viu – noite passada não conta – e sente falta de sua franja na testa, mas Jake pensa que assim é melhor de observar seus olhos escuros.
Zaya late mais uma vez em saudação, ainda feliz comendo sua comida.
— Oi, garota! Eu voltei – Sunghoon se refere à cadela. Ele se sente feliz por não ter perdido os laços com ela mesmo com sua ausência. — Ei, Jake. Sinto muito, você desmaiou de exaustão ontem e como eu não sei onde você está morando agora, e estávamos quase no meu apartamento, decidi trazer vocês para cá.
Ele parece tímido, meio sem saber como agir com Jake depois de tudo.
Jaeyun murmura um "tudo bem" observando Sunghoon – caramba, ele ainda está processando isso – colocar as sacolas plásticas em cima da mesa.
— Comprei ramem para você. Espero que você ainda goste... na verdade comprei de uns 3 sabores diferentes só por precaução – ele diz enquanto retira os itens de sua bolsa e os coloca sobre a mesa. – Ah, também comprei ração para Zaya já que aparentemente era isso que você iria fazer ontem.
Jake sente seu coração inchar um pouco em seu peito mas consegue murmurar um "obrigado".
Sunghoon se vira de costas para a mesa, apoiando-se nela, para então ficar a uns 5 passos de Jake, porque sua casa não é muito espaçosa. Um sorriso contido mas afetuoso em seu rosto, seus olhos ainda mostrando certa preocupação.
Com Jake, ali parado em frente à porta de seu quarto, com olhos inchados de sono e parecendo meio atordoado, ele tem aquela sensação esquisita de que nada mudou mas que muita coisa mudou também.
Seus cabelos pretos também cresceram mais desde que ele se lembra e agora ele tem até uma franja – ele gostava de ver sua testa à mostra mas pensa que isso também combina muito bem com ele. Tudo fica bonito em Jake.
— Eu também senti sua falta, sabe?
O nariz de Jake arde e algo se rompe dentro dele. A represa em seus olhos desabando quando ele se encontra entre os braços de Sunghoon novamente depois de tanto tempo e permite que ele seja inundado por ela.
Zaya olhando de seu lugar, feliz, pensa que talvez ela devesse trabalhar como cupido e ajudar seu pai à pagar as contas, mas ela pensa que, talvez, seu poder de cupido só funcione com seus pais porque são eles.
_______
— Você está de brincadeira!
— Não, eu juro por tudo! Meu celular caiu na privada. Tive que trocar até de chip, tudo nele morreu! – Sunghoon ainda choraminga por tudo o que foi perdido junto com o telefone. – E então quando finalmente consegui comprar tudo depois de 1 mês muito longo, e te liguei para te avisar sobre tudo, o número não existia.
Depois de muito chororô, abraços e catarro nos rostos e nas roupas, Jake ser convencido a se lavar e trocar de roupa com a promessa de uma boa conversa, eles estavam sentados na pequena mesa para almoçar o ramen – felizmente ainda é uma das refeições favoritas de Jaeyun – colocando todos os assuntos pendentes em dia.
Zaya observa os dois, deitada no sofá da sala para dar um pouco de privacidade aos seus pais, é claro.
Pelo que ela lembrava e havia entendido agora, seu pai Sunghoon precisou viajar para o Japão – coisas de patinação artística. Ele e seu pai Jake ainda estavam namorando e prometeram manter contato, mas tudo deu errado por causa de um vaso sanitário.
Zaya não sabe se fica triste ou se acha tudo isso engraçado. Ela contará isso ao Bisco e pensa que ele rirá muito antes de chamar seus dois pais de "patetas que foram pateticamente feitos um para o outro".
Jake ri exasperado.
— Cara! Eu achei que você tinha sumido de propósito, terminado silenciosamente comigo. Sei lá. Deixado Zaya e eu sozinhos assim. E então meu celular também caiu na privada e tive que trocar tudo! Até de redes sociais, porque não conseguia lembrar do login... – ele balança os braços para cima antes de dar um tapinha na mesa. – Mas por que você não ligou para Heeseung, ou Riki, ou Sunoo, ou quem quer que seja?
— Seu número era o único que eu sabia de cor! Imagina só quando eu ouvi a mensagem de "esse número não existe mais"... pensei "puta merda, Jaeyun mudou de número e terminou comigo"... Sério, Jay teve que me ouvir choramingar para ele esse tempo todo; ele e Jungwon provavelmente me odeiam.
Eles riem porque tudo isso é tão idiota. Eles são tão idiotas.
Seis meses inteiros sentindo falta um do outro por causa de um mau entendido idiota e burrice genuína de ambos. Poderiam dizer que não conseguem acreditar nisso, mas eles são sinceros: isso é a cara deles.
— Mas, de verdade, eu nunca abandonaria nenhum de vocês dois assim, Jake. Nunca – Sunghoon diz, seu tom mudando de risonho para sério, para mostrar a sinceridade de suas palavras. Suas mãos deslizando sobre a mesa indo de encontro às mãos de Jaeyun para sentí-las em suas palmas, sob seus polegares. – Fui para o Japão porque era necessário, mas tínhamos tudo combinado antes de ir. Não faria isso com vocês nem nessa nem em nenhuma vida.
— Eu sei. Acho que foi por isso que me machucou – ele sente e vê sua visão ficando embaçada pelas novas lágrimas que começam a se formar.
Nesses 6 meses ele sentiu falta de Sunghoon. Do toque dele, de beijar as pintinhas espalhadas por seu rosto e seu corpo, de sentir seus beijos em sua pele.
Ele sentiu tanta falta da presença de Sunghoon.
— Ei, Hoonie... a gente ainda tá namorando então, né?
Enxugando uma lágrima caindo pela bochecha do outro, o mais alto sorri.
— Se depender de mim, sim. Eu já planejava te reconquistar de qualquer jeito.
Ele ouve a risada molhada de Jake e sente seu coração apertar novamente. Apenas de alegria dessa vez.
— Senti tanto sua falta – ele fala suavemente, agarrando o rosto de Jake entre suas mãos. Passando os dedos sobre as lágrimas que caíram dos olhos castanhos agora aquosos, afastando a franja de sua testa com as pontas dos dedos e se inclinando para deixar um beijo nela.
– Senti tanta saudade de você – ele murmura enquanto deixa mais um beijo em sua pálpebra esquerda. Seus próprios olhos já úmidos. – Meu Jakey – outro um beijo em sua pálpebra direita. – Meu Yunie – um beijo em seu nariz. – Meu amor – ele sussurra finalmente beijando os lábios macios e sorridentes.
E o beijo deles tem gosto de saudades, carinho, lágrimas e risadas molhadas.
Zaya late em comemoração já que não pode bater palmas, então Jake e Sunghoon se separam rindo, se abaixando para ela se juntar ao abraço – o que ela fez alegremente, latindo e lambendo os rostos de seus pais mostrando o quão feliz ela está.
Ela ama sua família e promete que eles nunca mais vão se separar assim, porque é como diz o ditado: "o que o destino une, nada separa" – bem, aparentemente talvez os próprios idiotas possam fazer isso, mas Zaya pode uní-los quantas vezes forem necessárias.
— Minha garota linda! Papai Jake tem tanta sorte de ter você, minha princesa! – Jake diz coçando atrás de suas orelhas como ele sabe que ela gosta.
— Ei, nossa princesa. Ela também é minha filha. Vou ser um papai presente agora, tudo bem meu amor? – Sorrindo, Sunghoon coça o queixo de Zaya.
Ele pensa sobre tudo o que aconteceu nas últimas 24 horas, tudo o que Jake lhe contou.
– Ei, Yunie – ele ouve Jake fazer "mm" para mostrar que estava ouvindo, então prossegue. — Parece que mesmo que eu não consiga encontrar meu caminho de volta para você, Zaya vai fazer com que isso aconteça. Não é, garota?
Zaya late e lambe os rostos sorridentes à sua frente, o rabo sempre balançando, seu jeito de confirmar que sim, ela fará isso.
Talvez Bisco esteja certo, ela pensa, seus pais são "dois patetas que foram pateticamente feitos um para o outro", e ela não os trocaria por nada.
________
1 ano depois
Eles foram morar juntos um tempo depois do ocorrido, já que na época ambos estavam na mesma faculdade – ambos decidiram juntar dinheiro até conseguirem alugar um apartamento maior mas que ainda fosse perto do trabalho e da faculdade e aceitasse animais de estimação.
Jake se formou em Física e está trabalhando como professor assistente em sua antiga escola de ensino médio; Sunghoon, que largou a patinação artística há 1 ano, decidiu voltar à cursar Dança e trabalha meio período na mesma cafeteria em que Jake trabalhava.
Nesse período de 1 ano, Sunghoon ouviu de Heeseung, Riki, e até mesmo de Sunoo, todas as reclamações que seu namorado fez à eles durante meses ("Sério, decorem ou anotem os e-mails e senhas das contas de vocês, e pelo amor de deus mantenham a droga da tampa do vaso sanitário fechado, seus esquisitos nojentos").
Jake também ouviu de Jay tudo o que ele teve que aguentar de Sunghoon pelo telefone por todos aqueles malditos 6 meses – ele admitiu que até chegou a torcer para que o celular dele caísse na privada de novo ou algo assim só para não ter mais que ouvir sobre isso, mas que logo parou porque ele é um ótimo melhor amigo, é claro (definitivamente não foi porque Jungwon disse à ele que tudo o que ele deseja para os outros um dia voltará pra ele em dobro).
Foi uma forma de "vingança" nos primeiros meses, mas também foi uma maneira descontraída de alertar aos dois idiotas de que todos eles sofrem quando coisas assim acontecem. "Por favor, sejam mais atentos, menos dramáticos e confiem mais um no outro. Nós amamos vocês", era a mensagem por trás de cada risada, xingamento e história contada.
Toda essa maluquice também fez com que o grupo inteiro se conhecesse e, surpreendentemente, apesar das diferentes personalidades e das muitas discordâncias, se tornassem amigos íntimos.
Nessa noite de sábado, eles conseguiram se reunir e aproveitar a pausa de tudo para curtirem um pouco a presença de seus amigos juntos na casa de Jake e Sunghoon.
Espalhados no sofá e no chão da sala, conversando depois de jogarem algumas partidas amigáveis de UNO – eles quase se mataram – enquanto tocava "Baby", de Justin Bieber, na pequena caixinha de som que Sunoo levou (Jake se apossou disso, pondo sua playlist no segundo em que teve a oportunidade), rindo enquanto cantavam alguma música do BTS no karaokê – eles cantaram "I Need U" a plenos pulmões e riram um pouco da ironia já que todos eles estavam felizes, apaixonados e namorando garotos (menos Heeseung. Ele ainda não namora ninguém, independente do gênero).
Zaya, Bisco e Maeumi – o cachorro de Jungwon – também estavam felizes em ver todos reunidos, e até cantaram um pouco dando seus melhores latidos de cachorro – Maeumi também se aproximou dos cachorros durante esse 1 ano, e agora eles eram um trio (Bisco não irá admitir, mas Zaya é a líder).
Após a despedida do grupo, com abraços, latidos, lambidas, risadas e promessas de mais encontros assim que puderem, o apartamento ficou silencioso.
Seus moradores se sentiram satisfeitos por terem passado o tempo de qualidade com seus amigos favoritos, uma sensação quente no peito. Zaya já se preparando para dormir em sua cama no cantinho do quarto do casal depois da longa noite.
Já tendo tomado banho e estando confortável, Jake estava deitado em sua cama, sorrindo e curtindo alguns memes enquanto esperava Sunghoon também voltar do banheiro para que pudessem dormir abraçados.
Após um vídeo particularmente fofo de um pinguinzinho que Jake achou muito parecido com seu namorado, ele decidiu mencioná-lo.
yes.jake: @hoon_hoon amorKKKKKKK QUE FOFO, PARECE VOCÊ.
E literalmente 2 segundos depois de um alto "ping!" de notificação, se ouve um:
— Puta merda!
— Olha a boca! – Jake diz. O homem de cabelos platinados, ainda todo molhado e com a toalha enrolada precariamente em sua cintura, aparecendo na porta do banheiro em frente à ele alguns segundos depois com uma expressão incrédula.
— Yunie, você não vai acreditar.
Jake dá uma olhada rápida em Zaya, que acabou acordando com a pequena comoção e os observava como se quisesse saber qual foi o motivo dessa vez.
Ele franze um pouco as sobrancelhas em confusão mas continua sorrindo, ainda com o celular em mãos.
— O que foi?
Ele vê Sunghoon respirar fundo e expirar lentamente como se estivesse tentando se acalmar.
— Meu celular caiu na privada de novo.
E Jake não gosta mesmo de palavrões, mas "às vezes", ele pensa, "há coisas que não se podem evitar".
Seu sorriso se desfaz dando lugar à uma expressão igualmente incrédula quando percebe que não é uma piada, e trocando um olhar arregalado com sua cadela ele apenas solta um indignado:
— Mas que porra!
Zaya suspira balançando a cabeça em negação.
Em nenhum momento dos seus 4 anos de vida ela achou que o maior inimigo de sua paz seria um vaso sanitário.
"Pelo menos acho que eles não vão se separar dessa vez...", ela pensa enquanto vê os dois tentando remover o celular e discutirem sobre como o maldito celular caiu ali de novo.
Então ela já começa a elaborar planos para impedir seus pais de entrarem em banheiros com seus aparelhos eletrônicos.
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