O sinal para o primeiro intervalo tocou. Alicia não havia tido nenhuma aula, por ser o último dia dos terceiros anos os professores apenas conversaram com os alunos, incentivando-os e os parabenizando pelo término de uma longa jornada escolar.
A garota foi até o refeitório acompanhada de suas amigas. Rita dava-lhe conselhos.
- Vamos Li, barriga para dentro, peito para frente, queixo para cima, bumbum empinado, já encurtou o vestido usando o cinto?
- Quatro dedos como você me pediu.
- Ótimo, agora vamos atravessar o refeitório e passar pela mesa dos jogadores. Colocou o perfume?
- Sim.
- Então vamos, chegando lá faça o truque com o cabelo.
- Será que vai dar certo?
- Confie em mim, afinal, quem vai ao baile com o estagiário?
- Você.
- Então anda amiga, vamos lá, um, dois, um, dois!
Alicia atravessou o refeitório seguida de suas amigas, alguns passos atrás dela. Suas pernas estavam trêmulas, apressou o passo, chegando próximo a mesa dos cobiçados, como fora nomeada pelos outros estudantes que desejavam fazer parte dela. Respirou fundo, lá estava ele, de jaqueta vermelha e jeans rasgados, com seus cachos de anjo e porte de um deus grego, Alicia adorava a forma como Sérgio sorria, parecia um galã da novela das oito, ela nem piscava, ficou lá, parada, sentindo o coração alcançar a garganta, só saiu do transe ao ouvir a voz de Julia.
- Alicia vai logo com isso!
- Certo, certo. – Alicia se aproximou da mesa, retirou o prendedor da cabeça e chacoalhou os cabelos, imaginando-se em câmera lenta. Caminhou devagar, esperando que Sérgio sentisse seu perfume, mas ficou desapontada ao ver que o rapaz continuava a conversar com os amigos distraidamente.
Já estava indo se sentar com as amigas quando ouviu a voz.
- Oi.... Alicia!
Ela parou, muito surpresa, virou-se para mesa dos cobiçados.
- Você está falando comigo Sérgio?
- Sim. – O rapaz sorriu. – Venha aqui um instante.
"Aí minha nossa!”. Pensou enquanto cochichava com as amigas.
- Ele lembra o meu nome, não acredito!
- Linguagem corporal, nunca falha amiga. – Rita sussurrou. – Agora vá lá antes que ele mude de ideia.
Ela caminhou até Sérgio, um pouco apreensiva.
- Olá rapazes. – Tímida, cumprimentou os jogadores. – Oi Sérgio, o que você queria me dizer?
- Que xampu você usa?
- Como disse?
- Por que você está com algum problema de queda de cabelo, veja só, quando você passou por aqui um fio de cabelo seu caiu no meu pudim vê?
A garota observou o fio amarelo em cima do pudim de chocolate.
- Bem, esse fio de cabelo é loiro.
- E daí?
- E daí? – Ela o encarou por alguns segundos. – E daí que eu sou morena.
- Pois me parece bem branquela.
Silêncio. Alicia não acreditava no que ouvia. Um dos jogadores cutucou Sérgio, cochichando em se ouvido.
- Cara, ela quis dizer que o cabelo dela é castanho, escuro ta ligado?
Sérgio pareceu voltar a realidade.
- Mas é claro que sim. – Sorriu com seu ar galante.
Alicia retribuiu-lhe o sorriso.
- Então o cabelo não é seu? – Tornou a perguntar.
- Não. – Alicia tornou a responder.
- Mas ainda temos um problema. – Fez cara de pensativo.
- E qual seria?
- O meu pudim, ainda tem cabelo no meu pudim. – Encarou-a.
- Sei… - Alicia pensou. – Bem, se você quiser eu posso lhe trazer outro.
- Super, você é uma garota muito legal sabia?
- Sério?
- Claro e você poderia até se sentar conosco não é rapazes?
- Claro, claro. – Concordaram em coro com o capitão do time.
- Puxa, então ta, vou buscar o seu pudim. – Alicia não podia se conter de tanta felicidade.
- E Felícia!
- É Alicia.
- Claro, como eu disse, Alicia. Você podia me fazer mais um favor?
-Sim, com certeza.
-Ótimo, queremos que traga mais dois refrigerantes e um cachorro quente.
- Mas ai eu teria que pegar a fila da cantina.
- Ó não tem problema, te esperamos.
Alicia fez careta e Sérgio a bajulou.
- O seu lugar ainda vai estar aqui. - Bateu a mão no banco vazio ao seu lado.
Ela sorriu.
- Claro, eu já volto.
Após dez minutos conseguiu pegar os refrigerantes de laranja e o sanduíche, mais o pudim de Sérgio e foi até a mesa dos meninos, as jogadoras de vôlei já estavam sentadas.
- Ola garotos. – Alicia colocou a bandeja na mesa. – Trouxe o que pediram.
Uma loira com a saia cinco dedos menor do que o vestido de Alicia, sentou-se no colo de Sérgio, provocando-a.
- Ora, ora, Alicia, então no último dia de aula você foi contratada como garçonete?
- Na verdade eu fiz um favor aos garotos... Thais!
O garoto moreno pegou o cachorro quente.
- Na verdade eu odeio batata palha.
O oriental também reclamou.
- E preferimos refrigerante de uva.
- Eu não sabia. – Alicia gaguejou. – Me desculpem.
- Claro que não sabia, nunca andou com a gente, não sabe do que gostamos, não sabe o que é ser uma de nós. – Thais sorriu, apertando os pequenos olhos escuros.
Alicia ruborizou.
- É, mas agora não dá para trocar.
- Está bem, só dessa vez. – Sérgio resmungou. –Agora se sente aí.
- Fazendo caridade Sérgio. – Thais saiu do colo do garoto e sentou-se na cadeira vazia. – Sinto muito Alicia querida, mas nessa mesa não há espaço para você.
- Mas disseram que guardariam o meu lugar!
- Sinto muito Melissa. – Sérgio sorriu. – Fica para uma próxima vez.
- É Alicia. – Saiu pisando duro e foi sentar-se com Rita e Julia.
- E aí garota, o que aconteceu?
- Não aconteceu nada Julia, absolutamente nada!
No lugar das duas últimas aulas o diretor chamou a todos os alunos do terceiro ano do ensino médio ao auditório, onde mostrou fotos das turmas tiradas em excursões e no decorrer dos anos, argumentou sobre o futuro, a escolha profissional, responsabilidade e maturidade.
Todo aquele discurso decorado cansou Alicia, que pediu permissão para ir ao banheiro com a intenção de não mais retornar.
Entrou no banheiro feminino, lavou o rosto e ajeitou os cabelos.
- Aff, vou demorar para sentir falta dessa escola. – Estava procurando o delineador na bolsa, quando ouviu vozes vindas do banheiro masculino, que era geminado ao feminino.
- Por favor, não me bata, por favor!
Parou de mexer na bolsa por um momento, parecia a voz de um menino mais novo.
- Cala a boca. – Ordenou outra voz, bem mais grossa e adulta do que a primeira.
- Não, por favor.
- Já disse para calar a boca nerd, agora esta com medo não é? Pois parecia bem seguro quando ia para a sala do diretor.
- Eu não ia dizer nada, eu juro, só ia rever o meu boletim.
- Mentira!
Barulho de empurram, algo caiu no chão.
- Eu juro que não ia dizer nada!
Choro.
Alicia encostou o ouvido na parede. As ameaças continuavam.
- Pare de chorar seu maricas, só quero que me prometa que não vai contar ao diretor sobre a brincadeira que fizemos com você.
- Eu juro que não ia…
- E não vai! Se você estragar o meu esquema bem no último dia de aula e eu não puder jogar mais... Vai se arrepender está me ouvindo?
- Sim, não vou contar a ninguém Sérgio, eu prometo!
Alicia, em choque, desgrudou o rosto da parede. Sérgio? Fora esse o nome que ela ouvira, será? Mas é claro que ela ouvira, não era surda, muito menos burra, então era verdade, Sérgio realmente batera em um menino do primeiro ano e o pendurara na cesta de basquete com a ajuda de seus amigos, de seus capangas!
Alicia ouviu mais um grito.
- Agora vaza daqui nerd, eu não quero ver essa sua cara nunca mais!
Barulho de porta abrindo, passos apressados no corredor.
A garota parou, se olhou no espelho, não sabia o que pensar e se realmente deveria pensar em algo, ficou lá, estática.
“Sérgio, mas por que Sérgio, o que será que aquele garoto realmente havia feito para os jogadores?”
– Em briga de garotos eu não opino, vou tratar de esquecer isso, é o último dia de aula, sem stress Alicia. - Colocou a mão na cabeça, respirou fundo, mentalmente contou até dez, pegou a sua bolsa e saiu do banheiro, iria encontrar as amigas para depois tomar um lanche e agendar cabeleireiro e manicure para a formatura.
Estava atravessando o corredor quando foi chamada.
- Alicia.
A menina parou agoniada. Sérgio acertara o seu nome.
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