Fernanda, ainda perturbada com o ocorrido, conseguiu avistar Violeta em meio aos outros convidados.
- Vovó Violeta! – Correu em direção a senhora buscando refúgio.
Um guarda a deteve.
Alicia foi socorrer Fernanda.
- Ei, largue a minha irmã! – Deu um cutucão no ombro do guarda, mas outro soldado segurou-a.
- Ó minhas queridas. – Violeta não sabia o que fazer.
A rainha Tereza aproximou-se.
- Soltem-nas!
- Mas majestade... – Um dos guardas hesitou.
- São apenas crianças, ordeno que as soltem. – Tereza era inflexível.
Os guardas olharam para o rei buscando sua permissão.
Leonel pousou as mãos nos ombros de sua esposa.
- Não ouviram a sua rainha? Soltem-nas imediatamente!
Os guardas obedeceram, as irmãs correram até Violeta, que as abraçou docemente.
- Ó minhas queridas!
A rainha caminhou até a doceira.
- Você as conhece Vovó Violeta?
- Sim majestade, fui eu quem as trouxe, elas desejavam ver o rei.
- Ver a mim? – Leonel seguiu Tereza. – Pensei que hoje todos viriam para ver minha rainha.
- Sim, mas minhas meninas tem um assunto muito importante para tratar com vossa majestade.
- Sobre o que se trata vovó Violeta?
- Queremos ir para casa!- Fernanda berrou.
- Não compreendo. – Leonel sorriu docemente na tentativa de acalmar a pequenina.
- Desculpe a minha irmã majestade, é que ela está assustada. – Alicia deu um passo à frente soltando-se do abraço de Violeta. – A verdade é que estamos perdidas e esperávamos que vossa majestade pudesse nos ajudar a encontrar um caminho para casa.
- Entendo, bem, como o rei eu possuo o mapa de todo o reino e das terras que os circundam, com certeza encontraremos um caminho.
- Mas meu senhor elas não podem ir embora, são as escolhidas. – Um dos súditos protestou.
- Escolhidas? Será mesmo? – Uma voz feminina ecoou pelo salão.
- Se Volter disse deve ser verdade. – Outra voz respondeu-a.
Mais comentários.
- Será mesmo?
- Eu duvido.
- E a profecia?
- Sempre duvidei desse Volter.
- Silêncio! – Ordenou o rei, depois se voltou para as irmãs – Senhoritas desculpem se o meu conselheiro assustou-as, mas sir Volter as considera especiais, seres à muito tempo aguardados que ajudariam a manter a paz em nosso reino, mas diante de mim vejo apenas duas crianças perdidas. Tem algo a me dizer?
- Não sou criança. – Alicia reclamou.
Risadas.
- Que gente mais esquisita. – Fernanda continuou abraçada a Violeta.
- Ó majestade, não podemos ter essa conversa em outro lugar? – Violeta pediu. – As meninas continuam assustadas.
- É claro. Podemos ir até o salão de jantar? Lá é mais tranquilo. – A rainha pediu a Leonel.
- Está bem, o que você desejar Tereza. – O rei voltou-se aos seus convidados. – Peço desculpas, nós vamos deixa-los por um momento, mas aproveitem a festa, ainda há muito comida e bebida. – Fez um sinal aos músicos para que voltassem a tocar.
Vovó Violeta e as irmãs acompanharam o rei e a rainha. Foram escoltados por um guarda até uma grande sala com uma mesa de madeira gigantesca, Fernanda contou trinta acentos.
Sentaram- se. Leonel passava a mão na barba.
- Então vocês estão mesmo perdidas ou foram enviadas por Baltazar?
- Leonel! – Tereza censurou-o.
- Não senhor, majestade. – Alicia engasgava-se com as palavras. – Nem conhecemos esse tal de Baltazar, garanto que não somos espiãs e eu desejo voltar para casa antes da formatura.
- Formatura?
- Longa historia majestade. – Fernanda interrompeu a irmã. – A verdade é que estamos perdidas e queremos voltar para casa, reencontrar nossa família.
- Bem, se depender de Baltazar não haverá casa para ninguém. – Leonel baixou a cabeça.
- Esse Baltazar é tão ruim assim?
- Maléfico senhorita Fernanda, o meu tio possui uma pedra no lugar do coração, por anos tenho lutado contra ele e seu exército negro que quer apoderar-se de todo o meu reino.
- Pobrezinho. – Violeta lamentou.
Leonel levantou-se, como se tentasse afastar os maus pensamentos.
- Mas se for verdade e vocês forem os escolhidos, guiaram o nosso exército para a batalha final.
- Opa, opa! Eu? Guiando um exército? Lutando contra Baltazar, esse cara super do mal? Essa história de batalha final, não cola. – Alicia levantou-se. – Desculpe majestade, mas devemos ir para casa, escolhidas... Acho que nos confundiram com o Chuck Norris.
- Este Norris é seu amigo?
- O quê? Não, é maneira de falar majestade.
- Realmente, são apenas crianças, não vejo como possam nos ajudar. – Olhou para o guarda, parecia desapontado. – Chame sir Collin.
- Sim majestade.
- Encontraremos o mapa em minha biblioteca, então poderão ir para casa.
- Amanhã Leonel. – Afirmou Tereza.
- Mas minha rainha, você viu a pressa delas...
- Está muito tarde meu rei, é perigoso sair do castelo agora, depois da previsão de Volter, todos o escutaram, pode chegar aos ouvidos de Baltazar.
- Tem razão, essa noite dormirão no castelo e amanhã prepararei uma escolta para guiá-las.
- Dormir aqui? – Fernanda não gostou da ideia. – Vovó Violeta vai ficar?
- Ó não querida Fernanda, tenho muitas coisas para fazer, muitas encomendas para entregar, mas amanhã voltarei para vê-las. – Violeta apertou a bochecha de Fernanda.
- Não vovó, fique aqui! – Fernanda abraçou Violeta.
- Ó minha querida, não tenha medo, a rainha é muito amável e cuidará de vocês e pense que logo estará em casa.
- Sim, eu fico feliz.
- Ótimo, tudo vai dar certo. - Violeta soltou-se de Fernanda.
Sir Collin chegou.
- Vossa majestade.
- A senhorita faria a gentileza de nos acompanhar até a biblioteca? – Leonel dirigiu-se a Alicia. – É onde guardamos os mapas.
- Certamente majestade.
- E eu Alicia? – Fernanda levantou-se.
- Eu posso fazer companhia, se caso desejar. – Tereza sorriu para Fernanda.
- Isso Fê, fique com a rainha. – Alicia pediu. – Eu já volto.
Fernanda, desanimada, concordou com um aceno de cabeça enquanto via sua irmã sumir pela porta.
Alicia sussurrou um último aviso.
- Vê se não apronta heim!
Violeta sorriu, apertando novamente as bochechas da menina.
- Não se preocupe minha querida, você e a sua irmã são tão boas, vai dar tudo certo. – Beijou a testa da menina. – Agora eu preciso ir. Obrigada por tomar conta dela majestade, garanto que não vai dar trabalho algum.
- Imagine vovó Violeta, tenho certeza que não. – Tereza despediu-se da doceira.
Fernanda não pronunciava uma única palavra, estava incomodada com a ausência da irmã e a ida de Violeta. A rainha percebeu o desconforto da menina.
- Vamos Fernanda. – Apoiou a mão docemente sobre o ombro da garota. – Não precisa ter medo, ninguém vai fazer-lhe nenhum mal, eu garanto. Vou arrumar um quarto, roupas mais confortáveis, um chá talvez?
- Eu adoraria, estou faminta! – O humor de Fernanda mudou.
Tereza sorriu.
- Quer saber de uma coisa? Eu também estou faminta.
- Mas na sua festa havia tanta comida.
- Mas em minha festa há tantas pessoas para cumprimentar, a vida de uma rainha é difícil, nem tive tempo de comer.
- Credo!A senhora quer voltar lá? Porque eu vi uma mesa cheia de carnes e guloseimas...
- Ó não, cansei de minha festa, confesso que desconheço a maioria das pessoas que estão nela.
- Onde já se viu não conhecer os convidados da própria festa? Que esquisito.
- Para a senhorita ver como é difícil ser rainha.
- Então o que vamos fazer?
- Venha. – Pegou a mão de Fernanda. – Vamos escondidas até a cozinha furtar algo.
- Que vida mais esquisita, ter que roubar comida da própria cozinha.
- Como gosta de tirar conclusões criança. Você vem comigo ou não?
- É claro que vou majestade.
- Me chame de Tereza.
Silenciosamente as duas saíram da sala de jantar e percorreram os imensos corredores até o domínio dos empregados.
Na biblioteca o secretário tinha aberto todos os mapas do reino, procurara em todos eles, observando cada mínimo detalhe.
- Não há registros das terras de sua avó senhorita. Ela não mora ilegalmente não é?
- Não senhor, a minha vó paga todos os impostos, apesar de serem absurdos, sem ofensas majestade.
- Tudo bem. – O rei fingiu não se importar com o comentário. – Procurou direito Sir Collin?
- Sim majestade, por todo reino e mais dois reinos adiante.
- Eu tinha certeza que minha avó não morava por aqui, nunca ouvi falar sobre esse lugar estranho.
- Estranho por quê? Há algo de errado com o meu reino? – O rei parou de procurar os mapas.
Alicia percebeu que não estava agradando.
- Por nada majestade, nem sei por que eu disse isso.
- Está bem, vou tentar procurar mais uma vez. – Sir Collin voltou a abrir o primeiro mapa que havia pego.
- Não encontrará nada aí Filipe. – Volter entrou na biblioteca.
- Ousa duvidar do meu conhecimento sobre esses mapas Volter?
- Claro que não Filipe, longe de mim insulta-lo, digo isso porque as escolhidas são de outras terras muito distantes e foram enviadas para nós.
- Como o senhor sabe disso? – Alicia não gostava muito da presença de Volter, com aquele olhar meio sombrio e voz rouca.
- Eu sei porque preciso saber criança, afinal, você e sua irmã são o nosso destino, ou um meio para alcança-lo.
- Olha, nós não somos deusas nem guerreiras ok? Viemos parar aqui por causa de um golfinho maluco, nada de escolhidas ou salvadoras está bem? E agora, o que faremos Majestade?
- Bem, não sei ao certo, devem morar muito longe, não há como saber.
- Deve haver algum modo de chegar a casa de minha avó. Não tem mais nenhum outro mapa?
- Henoque. – Exclamou Volter.
- O que disse? – Leonel fez-se de desentendido.
- Eu disse que o Henoque pode leva-las para casa majestade.
- O mapa dos elfos? Acha que realmente nos emprestariam? – O rei duvidou.
- Esse mapa mostra a casa da minha avó?
- Henoque não é um mapa qualquer. – Volter explicou. – Foi escrito com as cinzas de uma estrela cadente, em um papiro que só nasce na fonte secreta das ninfas alseides. O mapa é mágico.
-Mágico?
- Sim criança, o mapa contém da magia mais pura, ele te indicará o caminho para onde o seu coração deseja ir.
- Mas para usa-lo precisamos pedir a permissão dos elfos. – Sir Collin começou a guardar seus adorados mapas.
- É verdade. – Volter concordou com Filipe. – Na verdade, acho que as senhoritas deveriam ir pessoalmente ao reino de Tolmai e pedir o mapa emprestado para o rei dos elfos, tenho certeza de que ele não negará o seu pedido.
Alicia parou para pensar por um instante. Achava que estava enlouquecendo.
- E esse mapa é mesmo mágico majestade?
- Sim senhorita Alicia, já o usei uma vez e foi de grande ajuda para o meu reino.
- E o senhor pode levar minha irmã e eu até lá?
- O reino de Tolmai fica a três dias de viagem a cavalo, eu poderia mandar meus soldados para acompanha-las.
- Pois bem, então vamos achar esse tal de mapa élfico. Quando eu e minha irmã podemos partir?
- Amanhã se desejarem.
- Eu agradeço majestade, obrigada pela ajuda, agora se me derem licença, gostaria de ver como a minha irmã está.
- Claro senhorita, há criadas fora da biblioteca, alguma te indicará o caminho.
- Obrigada majestade. – Alicia saiu do cômodo.
Sir Collin começou a rir.
- Acham mesmo que os elfos vão permitir que simples mortais, sem nenhuma categoria ou brasão usem o mapa?
- Não simples mortais. – Volter concluiu. – Se elas forem as escolhidas os elfos saberão e nos ajudarão.
- E se elas recusarem Volter?
- Não se preocupe majestade, o destino já está traçado, se forem as escolhidas os nossos caminhos estão unidos. Não irão recusar e nem recuar da guerra.
- Pois a jovem não parecia muito animada para guerrear Volter.
- Porque ela ainda está confusa Filipe, mas tudo ira se resolver.
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