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Salvador é um local turístico, estonteante e de lindíssimas praias, mas antes de levar San para desbravar cada pedacinho do lugar, Mingi tinha uma promessa a cumprir, afinal, ir à Bahia e não visitar a Igreja do Senhor do Bonfim é um pecado imperdoável.

Mochilas nas costas, pés eufóricos e grandes ou pequenas ideias: Mingi sorria ao pensar em viajar o mundo com Yunho, mesmo que na própria imaginação, com olhares profundos e mãos entrelaçadas.

Choi Jongho nunca era o protagonista. Habituado a quietude ordenada de seus pensamentos, também nunca ousou cruzar as linhas imaginárias que o separavam das outras pessoas. Entretanto, o livro místico que encontrou por acaso numa noite qualquer o fez esquecer, por um instante, aquilo que achava que era. Seu único objetivo, então, tornou-se encontrar os sete outros garotos que, como ele, tinham suas vidas intrinsecamente ligadas aos astros.

A grande muralha da China em 1965 mantinha um segredo. A amizade entre Choi San e Kang Yeosang que se encontravam todos os dias, no mesmo horário. As arvores e os bancos tornavam-se plateia das risadas e brincadeiras, as folhas dos arbustos testemunhas do sentimento que nunca fora exposto, o cuidado que tinham um com o outro, embora a diferença de idades e cultura, os tornavam um só.
Até os donos dos olhos castanhos que o Choi jamais esqueceria, sumir.

Yeosang, um vampiro que mais se parece com um grande morcego preguiçoso — apesar de há anos não assumir mais essa forma — indo desfrutar do clima nordestino e suas festas. Para sua alma curiosa e festeira, não encontrou época melhor para conhecer a cidade tal, no estado de Paraíba, do que a época de São João, conhecido também, como a famosa festa junina.

Mingi Canta-Pra-Mim, o queridinho dos astros, jurava que as estrelas brincavam nos arredores da Praia do Espelho, e insistente e barraqueiro como era, gostava de sair pelas ruas da cidade gritando sobre as brilhantes o tempo todo.
Foi por jogadas do destino que o jovem Canta-Pra-Mim conheceu um mané chamado Yunho Chão-Das-Flores num encontro que gerou dúvidas sobre o que é um abacaxi e o que não é.
E quem os juntaram foram as vedetes estelares, justamente na Praia do Espelho.

Um único lugar nunca foi seu lar, mas uma única pessoa sempre o fez seu. Park Seonghwa estava disposto a viajar pelos quatro cantos do mundo desde que ele o acompanhasse nessa ventura, só restava saber se Kang Yeosang também pensava dessa forma enquanto exploravam diversas culturas juntos.

Seonghwa prometeu que atravessaria mares e oceanos para dar ao seu amado a liberdade que ele tanto almejava. Após receber como presente um colar de miçanga, prometeu, mais uma vez, que o mundo seria pequeno, tal como as bolinhas coloridas que agora adornavam seu pescoço para o tamanho do amor que os dois carregariam, livres, mundo afora.

Sentia-se como a areia, não tinha firmeza e nada parecia o suficiente para agarrar-se em si. Mingi poderia muito bem ser um lindo girassol, mas do que adiantaria ser plantado em solo impróprio? Não queria machucar aquela linda criança com sonhos a serem alcançados.
Com isso, despediu-se do litoral brasileiro, de Calhetas, de dona Dulce e de seu girassol. Aquela era a única visão que tinha de todas as fotos esplêndidas que tirara de lá: Song Mingi sendo deixado para trás. E mesmo que não confessasse, sabia que ele era diferente de todos que tenha visto um dia. A fotografia mais vívida, tornou-se, porém, a mais dolorida delas.

Yeosang não sabia qual era a sensação de se saber onde está, porém a péssima ideia de tornar o seu sofrimento em algo físico, moldando a argila e fazendo-a se assemelhar a uma das maravilhas do mundo, rondava os seus pensamentos, tornando-o muito mais sensível e vulnerável do que era.